Perfil
Parlamentar preso era "fiel da balança" para votar comissão
Nascido em Londrina, Eloir Valença, de 52 anos, é formado em História pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) e trabalha como professor da rede estadual e particular de ensino há mais de 20 anos. Foi eleito vereador em 2008 pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e hoje faz parte do Partido Humanista da Solidariedade (PHS).
Valença era considerado o "fiel da balança" na votação pela abertura da Comissão Processante (CP) da Centronic na Câmara de Vereadores de Londrina. Contrariando a indicação do partido, que sempre se posicionou favorável à abertura da CP, ele afirmou que votaria contra. Mas Valença não compareceu à sessão realizada no dia 19, o que fez com que a votação fosse suspensa pelos vereadores e com que o pedido de abertura da comissão acabasse retirado da pauta.
No dia 24, o assunto voltou a ser discutido na Casa. O dia foi marcado pelas prisões de Ludovico Bonato e do ex-secretário de Governo Marco Cito, suspeitos de oferecerem propina ao vereador Amauri Cardoso (PSDB) para que ele votasse contra a abertura da comissão. Eloir Valença compareceu à sessão e votou a favor da abertura da investigação, assim como todos os outros vereadores.
Na segunda-feira, ele prestou depoimento ao Gaeco, disse que pretendia interpelar judicialmente o vereador Amauri Cardoso porque o tucano falou que "outros vereadores" teriam sido abordados, sem ter citado nomes. Ele também criticou o Gaeco e disse enxergar "intenção política" na convocação da sua assessora, Silvana Bonato, para prestar esclarecimentos.
Fábio Calsavara
Gaeco
Outros dois integrantes da Câmara depõem em investigação
Os vereadores londrinenses Rony Alves (PTB) e Marcelo Belinati (PP) também compareceram ao Gaeco na manhã de ontem para falar sobre o caso de suborno. Os dois dizem ter sido convocados pelo promotor Cláudio Esteves para prestar esclarecimentos sobre procedimentos da Câmara.
Belinati saiu sem dar detalhes do que disse aos promotores, alegando que era um pedido do Ministério Público.
Já Rony Alves, que não constava da lista inicial de vereadores convocados pelo Gaeco para depoimentos, disse que foi chamado porque alguém teria dito aos promotores que ele saberia algo sobre a propina.
Segundo a informação repassada aos promotores, Alves havia comentado que o vereador Eloir Valença teria recebido dinheiro para votar a favor da prefeitura em um determinado projeto. No entanto, Alves negou ter feito tal comentário. "Não fiz esse comentário e também nunca ninguém me falou sobre propina. Se soubesse de algo do tipo, já teria passado o nome da pessoa ao Ministério Público", afirmou o vereador.
Mais três pessoas foram presas ontem em Londrina como suspeitas de participação em um esquema de suborno de vereadores. Entre os detidos está o chefe de gabinete do prefeito Barbosa Neto (PDT), Rogério Lopes Ortega. Também foram presos o vereador Eloir Valença (PHS) e o diretor de Participações da Sercomtel, Alysson de Carvalho.
Os três foram detidos pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) em suas casas por volta das 6h30 de ontem devido a um mandado de prisão temporária expedido na noite de segunda pelo juiz substituto Mário Azzolini, da 3.ª Vara Criminal de Londrina.
Também foram apreendidos documentos no gabinete do vereador Eloir Valença. No início da tarde, Ortega e Carvalho foram encaminhados para a Penitenciária Estadual de Londrina II. Valença passou mal e teve que ser encaminhado para o Hospital do Coração. Até o fechamento desta edição, ele ainda não havia sido transferido para a penitenciária.
Segundo o promotor Cláudio Esteves, os três são considerados suspeitos no inquérito policial que investiga a denúncia de tentativa de suborno ao vereador Amauri Cardoso (PSDB). O suborno teria sido articulado para que Cardoso votasse contra a criação de uma Comissão Processante (CP) para investigar o prefeito Barbosa Neto. O flagrante da entrega de R$ 20 mil ao vereador ocorreu no dia 24 de abril e resultou na prisão do empresário Ludovico Bonato e do ex-secretário de Governo e coordenador de campanha do PDT Marco Cito. Os dois continuam detidos.
A Comissão Processante acabou sendo aprovada por unanimidade na semana passada para investigar denúncias de que o prefeito usou dois funcionários pagos com dinheiro público para fazer serviço de segurança na rádio Brasil Sul, de sua propriedade.
Motivos
O delegado Alan Flore contou que o pedido para a prisão dos três havia sido feito há alguns dias, mas foi acatado apenas na noite de segunda. Flore disse que a prisão de Valença que havia prestado depoimento na segunda-feira como testemunha foi necessária porque havia "incongruências" entre o depoimento e alguns fatos verificados na investigação. Ele não quis dar detalhes sobre quais fatos seriam esses e também não quis justificar a prisão de Carvalho e Ortega.
O advogado de Rogério Ortega e Alysson de Carvalho, João dos Santos Gomes Filho, classificou as prisões como desnecessárias. Ele informou que não vai tentar reverter o pedido na Justiça porque o prazo para o Gaeco encerrar o inquérito acaba amanhã e, na avaliação dele, após a conclusão das investigações, não há necessidade de os dois continuarem detidos.
Para o advogado, que também defende o ex-secretário Marco Cito e Ludovico Bonato, as prisões são "midiáticas" e possuem objetivo de colocar "pedras de tropeço no governo Barbosa Neto". "Eu lamento que no Brasil se decrete prisão preventiva e temporária e não se puna ninguém", comentou.
O advogado André Cunha, que defende Eloir Valença, também criticou a prisão do seu cliente. Ele disse que vai autorizar a quebra dos sigilos bancário e telefônico de Valença. Cunha também questionou como uma testemunha passa para suspeito no inquérito em menos de 24 horas e tem a prisão temporária decretada. "Nós vamos pedir que o juiz esclareça isso", afirmou. O advogado informou que vai interpor um pedido de habeas corpus.
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