Com mais de 20 anos de serviços na Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Wilson Roberto Trezza, substituto do delegado Paulo Lacerda na direção-geral do órgão, é um dos poucos remanescentes no órgão que atuaram no Serviço Nacional de Informações (SNI), largamente utilizado na repressão política a grupos de esquerda que se opunham ao regime militar (1964-1985).

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Dos 1.600 integrantes da Abin, pouco mais de 300 são egressos do SNI, extinto em 1990 pelo ex-presidente Fernando Collor. Os restantes foram cedidos de outros órgãos públicos ou foram admitidos nos últimos anos de forma precária.

Considerado um agente de gabinete, ou "maçaneta" no jargão da arapongagem, Trezza vinha ocupando a função de secretário de Planejamento, Orçamento e Administração da Abin desde que Lacerda tomou posse no cargo, há um ano.

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Trezza ganhou notoriedade recentemente ao se recusar a dar explicações ao Congresso, ao Tribunal de Contas da União (TCU) e até mesmo ao Planalto, sobre os gastos exorbitantes da Abin com cartões corporativos, que saltaram de R$ 5,5 milhões para R$ 11,5 milhões em 2007. "A natureza do serviço de inteligência é ser secreto", respondeu secamente.

A nomeação de Trezza como substituto de Lacerda foi publicada nesta terça-feira (2) no Diário Oficial da União. Ele responderá pelo órgão até o término das investigações sobre o grampo telefônico que teria atingido o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, parlamentares e autoridades do próprio Poder Executivo, entre as quais a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.

Além de Lacerda, foram afastados os diretores José Milton Campana (Inteligência) e Paulo Maurício Pinto (Contra-Inteligência). Em solidariedade ao chefe que o levou, pediu desligamento também o assessor especial Renato da Porciúncula, que chefiava a poderosa Divisão de Inteligência Policial (DIP) da PF, quando Lacerda dirigia o órgão até setembro de 2007. Mas todos eles "caíram para dentro", como explicou um alto dirigente do governo, porque ficarão despachando dentro do Palácio do Planalto.

No Planalto - O mesmo decreto que afastou os diretores da Abin, determina que Lacerda, Campana e Pinto passam a responder "pelo expediente" no Gabinete de Segurança Institucional, ao qual a agência está subordinada. A convite de Lacerda, Porciúncula também deve se juntar ao grupo.

Os quatro ficarão despachando dentro do Palácio do Planalto, no Departamento de Assuntos Estratégicos do Gabinete da Segurança Institucional (GSI), sob o comando direto do ministro Jorge Armando Félix. O departamento é encarregado de fazer análises de conjuntura política e econômica do País. Seu trabalho, atribuído a técnicos de elevado conhecimento, assessora a Presidência com informações estratégicas para tomada de decisões.

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A investigação deve durar 60 dias, mas Lacerda não deve voltar ao cargo, qualquer que seja o resultado. Aos companheiros de Direção, ele confidenciou que está mais interessado em provar a inocência do que em voltar para o cargo, embora o presidente Lula tenha assegurado essa possibilidade. Ele se disse também muito desgastado com o que chama de "perseguição sistemática" do presidente do STF, que a seu ver teria juntado força com políticos de vários partidos, alcançados pelas investigações da PF na sua gestão e o ministro da Defesa, Nelson Jobim, a seu ver um adversário com o qual não convocava, cuja posição dura demonstrada nessa crise o surpreendeu.

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