Substituto imediato de Renan Calheiros (PMDB-AL) na Presidência do Senado, Jorge Viana (PT-AC) já defendeu “confrontar” a Operação Lava Jato. Em gravação telefônica divulgada em março, o petista falava com o advogado de Luiz Inácio Lula da Silva, Roberto Teixeira, a respeito de estratégias para que o ex-presidente subisse o tom e enfrentasse o juiz Sergio Moro, o Ministério Público Federal (MPF) e a Polícia Federal (PF).
Último rincão do PT
Jorge Viana é oriundo daquele que talvez seja o último espaço ainda dominado pelo PT no país. O irmão do parlamentar, Tião Viana, exerce o segundo mandato consecutivo como governador do Acre. Além disso, a capital do estado, Rio Branco, reelegeu o também petista Marcus Alexandre ainda no primeiro turno na eleição deste ano. Foi a única vitória do partido nas 26 capitais do país.
Na interceptação autorizada pela Justiça, Jorge Viana sugeriu que Lula transformasse sua defesa na Lava Jato numa “ação política”, classificando as investigações como um “confronto” com Moro. Na ocasião, conversas entre o ex-presidente e interlocutores – incluindo a então presidente Dilma Rousseff − foram divulgadas pelo juiz paranaense, e Lula ainda havia sido levado para depor coercitivamente pela PF. Com o advogado, Viana falou em “forçar a mão” em Moro para ver “se ele tem coragem de prender por desacato” o ex-presidente, tornando-o “vítima”, um “preso político”.
“Se o presidente Lula fizer isso, ele vai virar e vai deixar de ser uma ação jurídica para se tornar uma ação política. O presidente Lula precisa transformar esse confronto numa ação política. Eles estão se rebelando, só dizendo que não aceitam mais o Moro, que agora, se ele mandar um ofício, ele não vai, e dizer que ele está agindo fora da lei, chamar de bandido”, disse o senador ao advogado.
Para Viana, a Justiça, o MPF e a PF não teriam coragem de prender Lula por desacato, pois haveria comoção no país. “E forçar a mão nele (o juiz Sergio Moro) pra ver se ele tem coragem de prender por desacato à autoridade, porque aí eles vão ter uma comoção no país, porque ele vai estar defendendo a família dele, a honra dele. É dizer: ‘Olha, eu estou defendendo a minha honra, você está agindo fora da lei, e quem age fora da lei é bandido. Me sequestraram’. Eu não sei, tinham que pensar em algo parecido com isso e dar uma coletiva. Provocar e dizer que não vai aceitar mais”, afirmou o parlamentar, dizendo que essa seria, talvez, “a única oportunidade que o presidente tem de pôr fim à essa perseguição”.
O petista vai assumir o cargo de presidente do Senado após o afastamento do titular por meio de liminar do ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF). A decisão foi concedida nesta segunda-feira (5).
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
A gestão pública, um pouco menos engessada
Projeto petista para criminalizar “fake news” é similar à Lei de Imprensa da ditadura