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Roberto Romano, professor de Ética e Filosofia da Unicamp; | Jefferson Coppola / Folhapress
Roberto Romano, professor de Ética e Filosofia da Unicamp;| Foto: Jefferson Coppola / Folhapress

O grau de sofisticação da superplanilha da Odebrecht, apreendida pela Operação Lava Jato, em que constam valores destinados a políticos e recheada de apelidos curiosos faz tudo parecer surreal e coloca em dúvida a veracidade das informações. Como pode uma empresa do porte da construtora ter um arquivo organizado com os destinatários de tantos milhões de reais?

Roberto Romano, professor de Ética e de Filosofia na Unicamp, conta que não ficou surpreso. Para ele, há uma lógica intrínseca que é facilmente explicada por teorias e também por ações práticas. Ou seja, faz sentido. Quando se trata de uma estrutura complexa, com grande número de envolvidos e valores estratosféricos, em que um pode “passar a perna no outro”, se estabelece uma organização que torna o sistema funcional. É racional, mas não necessariamente moral.

“Todas essas estruturas foram tomadas pelo princípio da burocracia, de Max Weber”, resume. Apesar de ser uma teoria pouco popular, não é difícil de entender. Esses conceitos partem de um sistema hierarquizado, em que cada componente tem funções. Em alguma medida, os burocratas são os que estabelecem os processos sem os quais um chefe ou governante não consegue gerir o negócio. Sendo assim, não surpreende, segundo Romano, que a planilha estivesse com uma secretaria. Tais pessoas detém o chamado “segredo do cargo” e não raro passam a ter mais poder devido ao que sabem sobre o funcionamento da estrutura. E a planilha seria o que o professor chama de “anotações para a memória”. Ou seja, são os registros que mantem a organização funcional.

“Um exemplo vem do narcotráfico, que sempre tem uma contabilidade organizada”, lembra. Ele cita também o caso do mafioso norte-americano Al Capone que, apesar de ser acusado de vários crimes, acabou preso por sonegação fiscal. Os registros do funcionamento da máfia o condenaram. Para controlar a memória, saber o que foi pago para quem, se legalmente ou ilegalmente, não seria absurdo imaginar, comenta o professor, que uma planilha organizada exista. É uma lógica racional com um fim. Desprovida de moralidade, mas com objetivos claros.

Para ser funcional, o sistema precisa da previsibilidade. As partes dependem de que os acontecimentos sigam um roteiro esperado. Quando saem do controle ou não estão suficientemente organizadas passam a funcionar às cegas. Também acontece de a estrutura agir contra ela mesma. “É por isso que a delação premiada é tão mortal para esse sistema”, comenta. Quando alguém de dentro da estrutura relata os meandros das negociações, o sistema tende a ruir.

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