Fachada do STF: ministros vão votar a constitucionalidade do sistema de cotas| Foto: Nelson Jr./STF

Eleição em Londrina

Decisão pode beneficiar Belinati

A validação ou não da Lei da Ficha Limpa a partir das eleições municipais de 2012 vai mexer no cenário da disputa em várias grandes cidades brasileiras. No Paraná, a principal mudança pode ocorrer em Londrina, onde Antonio Belinati (PP) é cotado para concorrer à prefeitura. Ele possui uma condenação em segundo grau, o que o torna inelegível pela nova legislação, mas voltaria ao páreo caso o STF julgue que o texto é inconstitucional.

Por enquanto, o ex-deputado e ex-prefeito de Londrina tem se dedicado a apoiar a candidatura do sobrinho, Marcelo Belinati. "Estou em uma nova fase da minha vida, com outros projetos. Meu candidato aqui em Londrina é e vai continuar sendo o Marcelo", disse ontem Antonio Belinati, que apresenta um programa de televisão. Apesar disso, assessores próximos a ele garantem que a candidatura só depende da derrubada da Ficha Limpa.

Antonio Belinati é, em tese, inelegível porque já foi condenado em segundo grau pelo Tribunal de Justiça do Paraná por ter acumulado os cargos de deputado estadual e de membro do Conselho de Desenvolvimento de Londrina, nos anos 1990. "Ainda que a lei seja considerada constitucional podemos questionar a interpretação desse episódio na Justiça Eleitoral ou esperar por uma absolvição no Superior Tribunal de Justiça", explica o advogado do ex-parlamentar, Eduardo Franco.

Para a diretora do Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral (MCCE), Jovita José Rosa, a validação da Ficha Limpa vai obrigar os partidos a mudar completamente a lógica de escolha dos candidatos. "Uma decisão definitiva do STF vai provocar um impacto muito grande para aquelas lideranças que ainda sobrevivem na política graças às brechas jurídicas", avalia. O MCCE foi o articulador do projeto de iniciativa popular que deu origem à lei. (AG)

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O futuro da Lei da Ficha Limpa vol­­­ta a ser julgado hoje pelo Su­­­premo Tribunal Federal (STF). Após decidir em março do ano passado que as regras não valeram para as eleições de 2010, os ministros vão retomar a análise do conteúdo integral do texto. A sentença terá impacto imediato na definição das candidaturas e alianças da disputa municipal de 2012.

Dois pontos devem provocar um novo racha entre os ministros. O primeiro é a retroatividade para crimes cometidos antes da entrada em vigor da lei (4 de junho de 2010). O outro é a possibilidade de punir políticos que ainda não foram condenados em definitivo – pela lei, ficam inelegíveis os condenados a partir de segunda instância.

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Nas quatro oportunidades em que ações relacionadas à Ficha Limpa entraram em pauta no Supremo, houve dois empates em cinco a cinco. Em março do ano passado, o voto do ministro Luiz Fux desempatou o julgamento sobre a validade das regras para 2010, que ficou em 6 a 5. Com isso, a maioria interpretou que o texto fere o artigo 16 da Constituição, o qual estipula que mudanças na legislação eleitoral só têm eficácia se forem promulgadas um ano antes do pleito.

Nove meses depois, o presidente do STF, Cezar Peluso, decidiu desempatar o caso Jader Barbalho (PMDB-PA), que estava impedido de assumir o mandato de senador. Peluso usou a prerrogativa do "voto qualificado", pelo qual o voto do presidente vale como critério de desempate. Já o julgamento que será reiniciado hoje começou em novembro e engloba duas ações de declaração de constitucionalidade (ADCs), uma de autoria da Ordem dos Advogados do Brasil e outra do PPS, e uma ação de declaração de inconstitucionalidade (Adin), do Conselho Nacional de Profissionais Liberais.

Os ministros Luiz Fux e Joaquim Barbosa já votaram a favor da constitucionalidade da lei, mas a apreciação acabou interrompida por um pedido de vista de José Antonio Dias Toffoli. Fux fez apenas uma restrição ao dispositivo que torna inelegível por oito anos os políticos após o cumprimento de pena. Ele considerou o período "desproporcional" e propôs abater desse prazo o tempo em que o político ficou inelegível antes do cumprimento da pena – o que se aplicaria a candidatos barrados por um colegiado de juízes, mas que ainda podem recorrer da condenação.

Na leitura dos votos, ambos os ministros exaltaram a importância da lei. "Apesar das críticas à judicialização da política, a reforma po­­­lítica no Brasil começa com o julgamento deste caso", disse Fux. Já Joaquim Barbosa afirmou que era "entristecedor" que o Brasil tenha demorado tanto tempo para criar a Ficha Limpa, lei que definiu co­­­mo um "estatuto da moralidade".

Pelo retrospecto dos últimos julgamentos, pelo menos mais três ministros também devem se posicionar pela constitucionalidade – Carlos Ayres Britto, Carmen Lúcia e Ricardo Lewandowski. Do outro lado, devem estar Peluso, Toffoli, Gilmar Mendes e Celso de Mello. A novata Rosa Weber e Marco Aurélio Mello tendem a votar a favor da lei, o que abriria uma margem de sete a quatro ou pelo menos seis a cinco.

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