Do lado de fora da Corte, manifestantes pediram a libertação de Battisti| Foto: Evaristo Sa/AFP

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Cronologia

Entenda o caso Battisti desde o início:

1979 – Battisti é preso na Itália, acusado de assassinato.

1981 – Integrante do grupo Proletários Armados pelo Comunismo, Battisti é condenado a 12 anos e 10 meses de cadeia. No mesmo ano, foge da prisão.

1982 – Battisti foge primeiro para o México. Em 1990, iria para a França. Lá, graças a uma decisão do presidente François Miterrand, consegue retomar uma vida normal, inclusive passando a escrever e publicar romances policiais.

1993 – O ex-ativista é condenado em Milão à prisão perpétua por quatro assassinatos. O julgamento foi feito à revelia, sem a presença do réu.

2004 – Depois de a França assinar sua extradição para a Itália, Battisti, que já estava há 14 anos no país, foge novamente.

2007 – Battisti é preso no Rio de Janeiro.

2009 – O ex-ministro da Justiça, Tarso Genro, decide dar asilo político a Battisti. O STF julga o caso e deixa a decisão sobre a permanência de Battisti no Brasil para o presidente.

2010 – Lula decide manter Battisti no país.

2011 – O ministro Gilmar Mendes, do STF, nega liberdade a Battisti, que vai a julgamento novamente no tribunal. Corte decide que decisão de Lula é ato soberano e manda soltar o ativista italiano.

Brasília - Por seis votos a três, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou ontem à noite a imediata soltura do ex-ativista italiano Cesare Battisti. Em sessão tensa e longa, os ministros afirmaram que a decisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva de negar a entrega de Battisti ao governo italiano é ato soberano e não podia sequer ser analisada pela Corte. E, ao final de uma sessão de aproximadamente seis horas, determinaram a imediata soltura de Battisti.

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A sessão pôs fim a um processo que durou quatro anos, colocou o ex-presidente Lula em conflito com o tribunal, gerou uma crise diplomática entre Brasil e Itália, motivou discussões ríspidas entre ministros e acusações de que o Judiciário estaria interferindo em poderes soberanos do Executivo e do presidente da República. Durante todo esse processo, Battisti permaneceu preso na penitenciária da Papuda, em Brasília.

Pelo entendimento que prevaleceu, os ministros julgaram que não poderiam avaliar se Lula cumpriu ou não a decisão do tribunal de autorizar a entrega de Battisti no ano passado ou se violou o tratado de extradição firmado entre o Brasil e a Itália. No entendimento da maioria dos ministros, a decisão do ex-presidente foi um ato de soberania de Estado e não poderia ser contestado pelo governo italiano. Por isso, decidiram que não poderiam admitir a reclamação feita pela Itália.

"Está em jogo aqui um ato de soberania do presidente da República", afirmou o ministro Luiz Fux. Para ele, a Itália contestava não apenas um ato do ex-presidente, mas processava a república brasileira. E não caberia ao Supremo julgar um processo como este. "Isso não é da competência do Supremo Tribunal Federal; isso é da competência da Corte de Haia", acrescentou, citando a Corte Internacional de Justiça com sede em Haia (Holanda).

No mesmo sentido votaram o ministro Ricardo Lewandowski, Cármen Lúcia, Carlos Ayres Britto e Marco Aurélio. "Não nos cabe policiar ou condenar o presidente da República. Não! O presidente da República vai responder pelo descumprimento do tratado, se for o caso, aos tribunais internacionais", afirmou Britto. "É inconcebível para mim ter-se o governo requerente [da Itália] a impugnar um ato do presidente da República na condução da política internacional", disse o ministro Marco Aurélio Mello.

Mesmo considerando desnecessário e impossível o STF julgar o ato do presidente, a maioria dos ministros disse que Lula não descumpriu a decisão do STF. No ano passado, o Supremo concluiu que a autorização da extradição de Battisti para a Itália não obrigava o presidente a entregá-lo. Para isso, bastaria que usasse uma das ressalvas previstas no tratado de extradição firmado entre os dois países.

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Na sua decisão, no último dia de seu mandato, Lula aprovou pa­­­­recer da Advocacia-Geral da União (AGU) que recomendava a manutenção de Battisti no Brasil. No texto, a AGU relatava a possibilidade de Battisti ter agravada sua situação pessoal caso fosse en­­tregue ao governo italiano pa­­ra cumprir a pena de prisão por quatro assassinatos, crimes co­­metidos no final da década de 70.