A suspeita de superfaturamento em obras na Refinaria Getúlio Vargas (Repar), na região metropolitana de Curitiba, é antiga. Desde 2009, o Tribunal de Contas da União (TCU) aponta irregularidades nas obras de ampliação da refinaria, que se iniciaram em 2006. Durante as investigações da Operação Lava Jato já surgiram diversos indícios de irregularidades nas obras. Um laudo elaborado pela Polícia Federal em abril do ano passado já apontava indícios de sobrepreço de R$ 1,4 bilhão em obras na Repar realizadas por cinco consórcios de empreiteiras por R$ 7,5 bilhões.
De acordo com os investigadores, os valores repassados pelas empreiteiras envolvidas nas obras da refinaria paranaense às empresas de Youssef somariam R$ 4,9 milhões. A PF também apreendeu uma planilha, que estava em posse do doleiro, detalhando supostos pagamentos de propina de R$ 35.8 milhões envolvendo a Repar. O dinheiro abasteceria o esquema de pagamento a políticos e empresários descoberto pela Lava Jato.
Em novembro do ano passado, os empresários Julio Camargo e Augusto Mendonça, do grupo Toyo Setal, revelaram em seus depoimentos em regime de colaboração premiada que pelo menos R$ 32 milhões foram pagos em propina em duas obras da Repar.
A primeira obra citada é de 2009. De acordo com Julio Camargo, o ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco e o ex-diretor Renato Duque teriam cobrado R$ 12 milhões depois que o Consórcio Interpar – formado pelas empresas Sog, Mendes Junior e MPE – fechou um contrato para a construção da unidade de coque da refinaria.
Já o executivo Augusto Mendonça afirmou que, “após duras negociações”, foram pagos R$ 20 milhões em propina para os operadores do esquema pela mesma obra na Repar.
Julio Camargo também falou sobre a construção da unidade de recuperação de enxofre, retificação de águas ácidas, tratamento de gás residual e das subestações da refinaria paranaense. A obra, que custou R$ 2,4 bilhões, resultou em um pagamento de R$ 12 milhões para Duque e Barusco.
Em fevereiro desse ano, foi divulgada uma planilha com cerca de 87 contratos que teriam sido alvo de corrupção. A planilha foi entregue pelo ex-gerente de Serviços da Petrobras Pedro Barusco à Justiça quando fechou acordo de colaboração premiada. Os documentos mostram que pelo menos R$ 85,9 milhões teriam sido desviados das obras para pagamento de propina. Metade desse total, ou cerca de R$ 43 milhões, teria servido para engordar os cofres do PT.
Os três contratos da Repar que aparecem na planilha foram fechados entre 2009 e 2010, com os consórcios Skanska/Engevix (formado pelas empresas de mesmo nome), Conpar (Odebrecht, UTC e OAS) e Interpar (Setal, Mendes Júnior e MPE). Eles somam, em valores globais, R$ 5 bilhões.
Ainda em fevereiro, o doleiro Alberto Youssef afirmou que duas obras da Repar foram alvo dos operadores do esquema investigado na Lava Jato. De acordo com Youssef, um contrato com a Odebrecht e a UTC no valor de R$ 2 bilhões gerou R$ 20 milhões pagos em propina pelas duas empresas à Diretoria de Abastecimento.
Denúncia
Pelo menos R$ 84,6 milhões foram desviados das obras da Repar, de acordo com uma denúncia do MPF apresentada em março desse ano. Segundo a denúncia, o desvio de recursos e a lavagem de dinheiro envolvendo a Repar ocorreram de duas formas.
Na primeira, o Consórcio Interpar – formado pelas empresas MPE, Mendes Junior e Setal – repassou R$ 11 milhões à empresa Auguri, de Julio Camargo, referentes a um contrato de prestação de serviços fictícios. A seguir, o dinheiro foi enviado ao exterior através da empresa Pimenonte, também de Camargo. O dinheiro chegou a contas de Mário Goes, que operacionalizou o repasse a Renato Duque e a Pedro Barusco.
Na segunda operação, o MPF identificou um repasse de R$ 111 milhões do Consórcio Interpar para empresas de Augusto Mendonça. As empresas de Mendonça fizeram um repasse de R$ 20 milhões para empresas de fachada controladas pelo doleiro Alberto Youssef, que operacionalizou o repasse para o ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa. Outra parte, cerca de R$ 4,2 milhões, foi repassada diretamente ao tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, enquanto R$ 36,4 milhões foram repassados a empresas de Adir Assad, que operacionalizou recursos para o ex-diretor da Petrobras Renato Duque e para o ex-gerente Pedro Barusco.
Sob investigação
Uma audiência trabalhista realizada no dia 25 de fevereiro em Araucária, na Região Metropolitana de Curitiba, revelou novas possíveis irregularidades na ampliação da Repar. De acordo com a ata da audiência, cerca de R$ 3,2 milhões foram pagos indevidamente pela Petrobras à empresa NM Engenharia e Construções em um contrato de cerca de R$ 100 milhões, em 2010. As informações foram repassadas à força-tarefa da Lava Jato para investigações mais aprofundadas.
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