A polícia está fazendo, nesta terça-feira, uma acareação entre os acusados da morte do menino João Hélio, de seis anos, que ficou preso do lado de fora de um carro roubado pelo cinto de segurança e foi arrastado por sete quilômetros. Quatro dos cinco suspeitos chegaram por volta das 14h à delegacia de Marechal Hermes, no subúrbio do Rio. Eles estão frente a frente e são interrogados por três delegados, que querem discutir exatamente a participação de cada um deles no crime. O menor acusado do crime ainda não foi trazido à delegacia.
Os policiais suspeitam que Carlos Eduardo Toledo de Lima também estava dentro do carro que arrastou a criança por sete quilômetros e que ele saltou durante o trajeto. A suspeita de que o adolescente envolvido no caso teria tentado acobertar a participação de Carlos Eduardo, seu irmão, também será investigada.
A polícia acredita que Diego Nascimento da Silva e o menor, ambos presos na quinta-feira, estavam com Carlos Eduardo no Corsa roubado. O adolescente teria se sentado no banco de trás e presenciado o sofrimento da criança, segundo os policiais. A versão é diferente da do primeiro depoimento da mãe de João Hélio, Rosa Cristina Fernandes, de que dois homens a abordaram. Uma testemunha que emparelhou com o carro após ele ser roubado disse à polícia ter visto três passageiros no veículo.
- Temos relatos de três momentos. Um é o da abordagem da família. Outro, de um carro que emparelhou muito próximo dali, quando é quase certo que a vítima ainda estava viva. E, o terceiro, do local em que o carro foi deixado. Um dos depoimentos fala em três pessoas no carro com o menino, outro em apenas duas. Para a polícia, isso não seria uma contradição, porque um dos bandidos pode ter saído do carro no caminho - explicou o delegado Hércules do Nascimento, que investiga o caso.
A suspeita levantada pelos pais de Carlos Eduardo de que ele teria pedido ao adolescente que assumisse a culpa pelo crime também será investigada pela polícia, segundo o delegado adjunto Alexandre Capoti:
- A polícia trabalha com todas as possibilidades. Essas dúvidas serão abordadas na acareação, quando os cinco estiverem frente a frente.
Os outros participantes do crime, Tiago Abreu de Matos e Carlos Roberto Nascimento, também presos, estariam no táxi que levou os criminosos.
Prisão de Diego. Foto de Carlos IvanO delegado Hérculer Nascimento está definindo como vai indiciar os suspeitos. A maior probabilidade é de que eles respondam a processo por latrocínio, formação de quadrilha e corrupção de menores. Somadas, as penas desses três crimes podem chegar a 40 anos de prisão.
- Quem permaneceu no carro do bonde vai responder pelo roubo do veículo e por formação de quadrilha e, os maiores, por corrupção de menores. Quem foi para o carro roubado, vai responder por latrocínio, que é a agravante do roubo: o evento morte - afirmou Hércules.
Esta semana, será feita a reconstituição do crime, com a participação de testemunhas que presenciaram o martírio de João Hélio.
Na delegacia de Marechal Hermes, Carlos Eduardo Toleda Lima, o último acusado de participar do roubo a ser preso, afirmou trabalhar num estacionamento em frente à Maternidade Herculano Pinheiro e se declarou inocente na morte de João Hélio. Ele admitiu, entretanto, já ter cometido alguns crimes e não soube explicar o motivo de os outros suspeitos estarem lhe acusando.
- Estou tão chocado quanto vocês. Meu irmão e o Diego erraram e têm que pagar. Mas não quero pagar por atos que não cometi. Todos acham que tenho algum envolvimento. Quando lêem o jornal pensam que eu sou o cabeça. Mas o importante é que o Deus é o juiz.
Na delegacia, a polícia encontrou uma pequena carta no bolso do rapaz, pedindo desculpas à namorada por não ser o homem que ela imaginava para os pais do filho dela. Mas segundo Carlos Eduardo, a carta pertenceria ao irmão dele, que é menor de idade e também acusado de participação no assassinato. Fundo para indenizar família
Nesta segunda-feira, o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) anunciou na tribuna do Senado que vai apresentar à Mesa da Casa uma proposta de emenda constitucional (PEC) que cria um fundo para atendimento das vítimas da violência . O senador propõe que o fundo, se aprovado, tenha o nome do menino João Hélio Vieites. ACM não deu detalhes de como funcionaria o fundo, mas sugeriu que o sistema seja semelhante ao do fundo de combate à pobreza.
A família do menino solicitou uma audiência com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) . A informação foi confirmada pela assessoria de imprensa da Casa. Também devem participar do encontro, previsto para esta terça-feira, grupos de movimentos pela paz no Rio. Na semana passada, ao comentar a morte do menino, Renan disse ser inevitável a reabertura da discussão sobre a legislação que trata da segurança.