"Não consigo desacelerar", disse piloto do Airbus da TAM
Um dia após ser divulgada a transcrição do áudio da cabine do Airbus A-320 que caiu em São Paulo, e de aumentarem as suspeitas de falha humana ou mecânica no avião, a CPI do Apagão Aéreo da Câmara ouve o presidente da TAM, Marco Antônio Bologna, e o representante da Airbus no Brasil, fabricante da aeronave, Mario José de Bittencourt Sampaio. O depoimento de Bologna está marcado para a manhã desta quinta-feira e o de Bittencourt para a tarde.
Na CPI do Senado, também serão ouvidos, a partir das 14h, o brigadeiro Jorge Kersul Filho, chefe do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes (Cenipa); o presidente da Infraero, José Carlos Pereira; o presidente da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Milton Zuanazzi; e o próprio presidente da TAM, Marco Antônio Bologna.
Dados do computador de bordo do avião indicam que um dos manetes estava em posição errada durante o pouso, segundo deputados da CPI. Após o acidente, a Airbus enviou a companhias aéreas de todo o mundo uma nota em que orienta os pilotos sobre os procedimentos corretos para pousar o modelo A-320 sem um dos reversos. A empresa informou que, nesses casos, é necessário posicionar as alavancas que controlam a aceleração (manetes) em ponto morto (idle).
A TAM já admitiu a existência de um defeito no reverso da turbina direita do avião acidentado. A companhia informou, no entanto, que, pelo manual da Airbus, mesmo apresentando o problema técnico, o avião poderia ser liberado para voar por até dez dias. Segundo recomendação da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), os reversos devem usados em potência máxima nos pousos em pista molhada.Duas hipóteses ganham força: falha humana e mecânica
A Aeronáutica considera duas hipóteses como as mais prováveis para a causa do acidente. Uma, de falha humana, em que o piloto posicionou o manete de forma errada. A segunda, de que o manete estava posicionado corretamente, mas houve falha na leitura do computador, que poderia ter entendido o comando para acelerar e não para desacelerar a aeronave
As informações foram divulgadas na quarta-feira, após audiência a portas fechadas com o chefe do Cenipa, Jorge Kersul Filho. O Airbus A-320 da TAM fazia a rota Porto Alegre-São Paulo com 187 pessoas a bordo. O avião sofreu o acidente ao tentar pousar em Congonhas e se chocou contra prédios próximos ao aeroporto, matando cerca de 200 pessoas.
Na reunião fechada com os integrantes da CPI, cujo conteúdo foi obtido por 'O Globo', Kersul Filho revelou um novo indício de erro na posição do manete direito. Segundo ele, o quadrante das manetes, achado nos escombros do prédio da TAM Express, confirma que a alavanca direita estava na posição "climb".
- Temos uma segunda comprovação: achamos o quadrante da manete. A manete está realmente fora da posição - afirmou Kersul, ponderando: - Com o impacto naquela velocidade, tudo pode acontecer.
O brigadeiro, no entanto, ainda não excluiu a possibilidade de a pista curta de Congonhas ter sido um dos fatores do acidente.
Os momentos finais da transcrição da caixa-preta do avião foram lidos pelos deputados da CPI na quarta-feira. Os diálogos mostram que os pilotos tentam frear o avião, mas não conseguem. (Você acha que a CPI fez bem em divulgar a transcrição ao vivo?)
As conversas indicam também que os pilotos sabiam que só um dos reversos da aeronave funcionava e que a pista estava escorregadia. ( Leia a íntegra da transcrição em inglês )
A transcrição das conversas acrescenta mais uma hipótese à lista de causas do acidente. A 22 segundos da batida, o co-piloto diz: "spoilers, nada". O piloto responde com um "aiiii, olhe isso". Isso pode indicar que os spoilers, extensão das asas que funcionam como freios aerodinâmicos, fixando o avião no solo, não armaram corretamente. Para Gustavo Cunha Mello, especialista que analisou mais de 175 mil acidentes aéreos, e foi ouvido por 'O Globo' em reportagem publicada nesta quinta , a possibilidade de falha mecânica não pode ser descartada.
- É prematuro responsabilizar o piloto - disse.
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