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Um dia após ser divulgada a transcrição do áudio da cabine do Airbus A-320 que caiu em São Paulo, o presidente da TAM, Marco Antônio Bologna, negou, em depoimentos em duas CPIs nesta quinta-feira, que a falta de um dos reversores do Airbus A320 tenha sido fator decisivo para o pior acidente da história da aviação brasileira. Segundo ele, um avião pode funcionar perfeitamente com um dos reversores "pinado" (travado). Bologna disse ainda que uma aeronave pode pousar até mesmo com os dois reversores inoperantes, desde que o resto do sistema esteja em bom funcionamento.
- Não é fato que o reversor pinado tenha sido a causa do acidente - afirmou ele na Câmara.
Mais tarde, no Senado, ele admitiu que, em virtude do acidente, é possível que a companhia passe a exigir que os dois reversos estejam ligados no pouso. A decisão sobre o assunto será tomada pela vice-presidência técnica da TAM e pela Airbus.
Ainda na Câmara, pela manhã, foi pedido a Bologna que lesse o manual da Anac que dá orientações para a tripulação em caso de pista molhada. Nele, são citados vários equipamentos de segurança que têm de estar funcionando. Entre eles, o reverso, justamente o equipamento que não funcionava no Airbus da TAM acidentado. Durante a leitura, o executivo omitiu o trecho que determina o uso dos dois reversos e de "todos os sistemas necessários" em caso de pouso em pista molhada. A resolução, de janeiro de 2007, diz que, após o toque na pista, os pilotos devem "usar o máximo reverso" possível. Como o avião não tinha um dos reversos, não deveria ter pousado na pista de Congonhas, que, além de molhada, é curta. O deputado Vic Pires (DEM-PA) foi quem percebeu que Bologna não leu o trecho, o que causou constrangimento na CPI.
Bologna afirmou que o avião tinha condições de pousar com segurança, mesmo com a pista molhada e escorregadia. Ele admitiu, porém, que a existência de grooving (ranhuras que facilitam o escoamento da água) poderia ter facilitado a frenagem. Segundo Bologna, um Airbus precisa de 1.350 metros (a de Congonhas tem 1.940 metros) para pousar com segurança quando está sem um dos reversores.
- Se houvesse ranhuras, o procedimento de pouso teria sido mais tranqüilo (...) Mas estava dentro das condições de navegabilidade - afirmou o executivo, insistindo que o peso da aeronave também estava dentro do limite previsto nas regras internacionais.
Ele disse que tomou conhecimento do conteúdo das caixas-pretas pela imprensa e que, apenas a partir desta quinta-feira, a empresa passa a participar do processo investigatório.
- Seria prematuro dar qualquer explicação antes do encerramento das investigações - disse ele, ao ser questionado sobre os motivos que teriam impedido o avião de frear.
Indenização para famílias de passageiros e moradores de Congonhas
Bologna também afirmou que a companhia tem US$ 1,5 bilhão para as indenizações e gastos materiais do acidente. De acordo com o executivo, se o seguro da empresa for insuficiente para indenizar os familiares das vítimas do vôo 3054, a empresa vai complementar os pagamentos. As 187 pessoas a bordo e pelo menos 12 em terra morreram, na maior tragédia da aviação brasileira. A apólice cobre não só os danos sofridos pelas famílias, como também os moradores do entorno de Congonhas e os comerciantes, que estão perdendo negócios devido ao isolamento da área.
- É um amplo valor para cobrir danos às pessoas e aos bens. A TAM vai se responsabilizar integralmente pelo pagamento da indenização. A gente não consegue ter de volta nossos entes queridos, mas podemos dar as necessárias condições de apoio (...) As indenizações serão extremamente suficientes, extremamentes amplas para cobrir todos os direitos dos vitimados, tanto em vôo quanto em solo, assim como o impacto na região - afirmou.
O presidente da empresa disse ter dois escritórios exclusivos, um em São Paulo e outro em Porto Alegre, para cuidar das indenizações. Segundo ele, antigamente havia um "complicômetro" nesses casos, mas a legislação atual facilita o trato dos seguros. Bolonha disse ainda que qualquer adiantamento que as famílias estejam recebendo da companhia não reduzirá os valores a que elas têm direito pelas perdas sofridas.
- Podem ficar tranqüilos. Qualquer adiantamento necessário que seja feito não significa que a TAM vai requisitar qualquer pedido de quitação - afirmou Bolonha, frisando que os seguros levarão em conta a expectativa de vida das vítimas.
Bologna informou ainda que o prédio da TAM Express, atingido pelo avião, será doado para a prefeitura de São Paulo, que pretende fazer no local um memorial em homenagem aos mortos. Questionado pelo relator da CPI, Marco Maia (PT-RS), sobre as indenizações das vítimas com o Fokker 100 da companhia, ocorrido em 1996, Bolonha disse que algumas ainda não foram pagas por problemas legais, que não existem mais hoje em dia devido a mudanças na legislação.
Segundo Bologna, a venda de passagens da TAM caiu 30% depois do acidente. Ele não soube definir, no entanto, a causa da retração nas vendas, que segundo ele pode ter sido a repercussão do tragédia, o fim das férias escolares, as mudanças nos aeroportos ou a própria crise aérea.
Executivo nega que companhia use 'turbinas de segunda linha'
Bologna negou que a companhia utilize em sua frota turbinas de segunda linha. Segundo ele, a empresa só usa equipamentos de fabricantes reconhecidos internacionalmente, como GE. Ainda segundo ele, o comandante do vôo, Kleyber Lima, tinha quase 20 anos de experiência e, inclusive, estava em processo de promoção para operar vôos internacionais. Indagado sobre a jornada de trabalho da tripulação, Bolonha disse não ter conhecimento de que os dois pilotos tenham trabalhado mais do que o permitido pela legislação no período do acidente.
- Ao que me consta, não, estava dentro da normalidade da jornada de trabalho - disse o executivo, comprometendo-se a enviar à CPI a planilha da jornada de trabalho dos dois pilotos.
Bologna disse ainda que a companhia aérea não promoveu nenhuma mudança no procedimento de carregamento das aeronaves após o acidente com o Airbus A320. Questionado pelo relator, Bologna disse que isso não é preciso porque a empresa sempre leva em consideração a rota e o local de pouso das aeronaves para calcular o peso dos aviões.
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