O ministro da Educação Tarso Genro, que está deixando o cargo para se dedicar integralmente ao posto de presidente nacional do PT, disse nesta sexta-feira, em entrevista à Rádio CBN, que terá pela frente uma missão "espinhosa". Tarso disse que o Campo Majoritário, a corrente comandada pelo deputado José Dirceu (SP) que controlava o partido nos últimos anos, terminou, e que é preciso criar um novo grupo hegemônico, que incorpore outras correntes do PT.

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Ele disse que o partido não pode se confundir com o Estado quando estiver no governo. As relações entre partido e governo devem ser formais, afirmou, porque é na informalidade "que vêm os erros". Segundo ele, o PT deve dar sustentação ao presidente, mas precisa ter independência crítica para propor outros rumos de administração. Por fim, Tarso Genro afirmou que a nova direção nacional do PT fará um controle interno rigoroso para garantir que não ocorram irregularidades no financiamento das campanhas do partido nas próximas eleições.

Leia abaixo a íntegra da entrevista:

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O senhor está deixando o cargo de ministro da Educação por quê?

Tarso Genro: Para assumir uma missão política das mais difíceis da minha vida, que é, tendo em vista a crise em que se encontra o meu partido, fazer uma presidência de transição para tentar colocar um patamar novo de relacionamento interno, de uma nova relação com a sociedade, tentar recuperar estrategicamente o PT. Sem que isso ocorra, a recuperação da própria estabilidade política do governo será comprometida. Então vou cumprir uma missão mais difícil, mais espinhosa, que certamente me dará menos oportunidades de glória e de brilho.

Como será o novo comando do PT?

Tarso Genro: O Campo Majoritário terminou. Isso foi uma condição que eu coloquei no processo de aceitação. Nos vamos é formar um novo campo político, um novo campo majoritário, que incorpore outras forças, independentemente de que elas estejam na oposição interna do partido hoje. Depois do processo eleitoral nós vamos formar um novo campo de governabilidade. Que não só suponha um novo tipo de relacionamento com todos os grupos internos do partido, como também um consenso mais qualificado, mais discutido, mais aprofundado, para que o partido não seja um mero prolongamento do governo. Seja, sim, um sistema de apoio estratégico ao governo, mas seja um partido político que não se confunda com o Estado, em nenhum momento do seu movimento, em nenhum momento das suas decisões.

Nas eleições internas do PT, o senhor disputará com candidatos da esquerda do partido. O senhor portanto não é da esquerda petista?

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Tarso Genro: Eu fui eleito para a direção do partido - e é uma coisa até interessante que a imprensa não registre isso - pelo Movimento PT. Eu não entrei na direção nacional do partido pelo Campo Majoritário. O Movimento PT foi centrista, fundado naquele momento por mim, pela Maria do Rosário, pelo meu amigo Arlindo Chinaglia, Geraldo Magela, Fernando Ferro. E participei da chapa pelo Movimento PT. Eu estou na direção nacional pelo Movimento PT. No processo de formação da nova elite partidária, do novo corpo dirigente, eu não integrei mais a coordenação do Movimento PT, e me tornei independente. Não só ajudando ações políticas do Movimento PT, como dando sustentação ao Campo Majoritário, que me parecia, e ainda me parece hoje, para a época, o campo mais adequado para dirigir estrategicamente o partido. Agora eu fui convidado por esse campo para ser o presidente e eu condicionei à formação de um novo campo e de um novo sistema político interno no partido. Independentemente da deputada Maria do Rosário desistir ou não da sua candidatura, o Movimento PT tem que estar presente no campo hegemônico novo para que o partido possa efetivamente se renovar. E outras forças políticas também.

Como será a relação do PT com o governo?

Tarso Genro: Vou colocar a concepção que vou trabalhar para que seja aplicada, não o que vai efetivamente acontecer, porque isso terá que ser um processo da nova direção. Eu entendo que não pode haver uma identificação de partido e Estado. Acho que as relações entre partido e governo têm que ser formais, e não informais. É nesta informalidade, que ninguém conhece, que vêm os erros. Estas relações formais têm que ser abertas. Transparentes para a sociedade, discutidas na luz do dia e trabalhadas politicamente. O partido não pode ser um prolongamento do Estado e o Estado não pode ser aparelhado pelo partido. O que o partido deve fazer? Ser um elemento de sustentação do projeto estratégico do presidente, mas tem que ter independência crítica para propor rumos ao presidente. E o presidente vai centralizar. E nem o PT vai centralizar seus ministros, que devem obediência ao presidente. Mas o partido, seja qual for o partido que apóia uma coalizão governista, tem que propor idéias para o governo.

Como será o controle do partido do financiamento das campanhas nas próximas eleições?

Tarso Genro: Todos os partidos vão evidentemente buscar sustentação para suas campanhas. O que vamos fazer é um rigoroso, pesado, e coercitivo controle interno, para que não ocorra nenhuma irregularidade.

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Que balanço o senhor faz da sua administração como ministro da Educação?

Tarso Genro: Eu faço, sinceramente, um balanço positivo. Mas muito menos pela minha atuação no ministério e muito mais pela qualidade da equipe técnica e política que eu montei ali. Todas, sem exceção, todas agendas estratégicas que o presidente me orientou no começo foram cumpridas de maneira rigorosa. Desde a questão do ensino técnico até a proposta do ensino superior, o Fundeb, que já está tramitando no Congresso Nacional, mudamos o padrão do processo de alfabetização no Brasil, conectando com o ensino formal, ensino técnico. O ProUni é um sucesso absoluto, há um processo galopante de expansão das universidades federais no país, principalmente para as regiões mais pobres, não só extensões como novas universidades, corrigimos a merenda escolar, melhoramos os repasses para as prefeituras. Enfim, uma série de ações positivas que deram um perfil bem para o MEC. É claro que tem muito a fazer. As modificações na educação são cumulativas, mas aparecem processualmente. Estou muito orgulhoso do trabalho que fiz com meus colegas.

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