O presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Adylson Motta, criticou nesta terça-feira a iniciativa do governo de dispensar licitações na contratação de empresas para a operação tapa-buracos, iniciada segunda-feira, em ano eleitoral. Ele vai cobrar explicações dos ministros Dilma Rousseff (Casa Civil) e Alfredo Nascimento (Transportes). Motta disse que não há justificativa para o Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transportes (Dnit) deixar de abrir licitações, uma vez que o abandono das estradas brasileiras não é surpresa para ninguém nem foi causado por um imprevisto capaz de justificar a dispensa.
- Vamos exigir que as estradas sejam feitas dentro do que prevê a lei, com preço e qualidade técnica adequados. Não podemos aceitar qualquer tipo de aventura. O que acontece hoje era perfeitamente previsível. Quando há abandono e falta de fiscalização e investimento, o que ocorre é o caos e a tragédia que se abatem sobre as rodovias - disse Motta.
O Dnit respondeu que dois acórdãos do próprio TCU, aprovados ano passado, determinam que o órgão tome providências em caráter emergencial para recuperar estradas estadualizadas pela medida provisória 82/2002, e que agora voltaram ao controle da União. Seria o caso da maior parte dos trechos que serão recapeados sem licitação. O caráter emergencial, segundo a assessoria, abre caminho para a dispensa das licitações.
A operação tapa-buracos promete recuperar até junho 26.500 quilômetros de estradas. O investimento será de R$ 440 milhões. Segundo o Ministério dos Transportes, 7.200 serão recuperados por empresas contratadas sem licitação. Nos demais trechos, o serviço será feito por empresas que já trabalham para o governo, mediante acréscimos nos contratos existentes.
Em ano de eleições, a exposição de obras em todo o país, à exceção do Acre e do Amapá, já virou bandeira de campanha para o PT e políticos governistas. Ontem o ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, pré-candidato petista a governador da Bahia, acompanhou Nascimento durante vistoria em seu estado.
Nascimento vai hoje a Minas. Anteontem, quando lançou a operação no Distrito Federal e Goiás, foi acompanhado pelo deputado federal Sandro Mabel (PL-GO), que escapou de ter o mandato cassado por envolvimento no esquema do mensalão e poderá disputar o governo de Goiás.
Até o fim do mês, uma equipe técnica do TCU deverá começar a analisar a documentação da operação tapa-buracos. Em dezembro, o órgão pediu informações à Casa Civil e ao Ministério dos Transportes. O prazo terminou ontem, mas as respostas não vieram. Segundo a assessoria do TCU, o Dnit pediu o adiamento da data e deverá ser atendido. Nos próximos dias, analistas do tribunal e do governo devem reunir-se para discutir aspectos técnicos da operação, repetindo o que fizeram na semana passada.
Motta quer que o encontro com Dilma e Nascimento ocorra ainda em janeiro. Ele vai dizer aos ministros que "tem de haver uma razão muito forte" para justificar a dispensa de licitação. Uma delas a ocorrência de fenômenos climáticos imprevistos. Segundo o presidente do TCU, esse não é o caso das chuvas que todo ano danificam as estradas.
Anualmente, o TCU fiscaliza obras em andamento no país. Com base nesse programa, o tribunal envia ao Congresso lista de obras com indícios de irregularidades. O objetivo é evitar que os parlamentares destinem recursos a esses empreendimentos no orçamento.
Das empresas envolvidas na operação tapa-buracos, a Engesa Engenharia e Tescon Engenharia constam em investigações do TCU como tendo apresentado indícios de irregularidades graves. Motta afirmou, contudo, que não houve decisão final e, portanto, as empresas não estão inabilitadas a participar de licitações nem prestar serviços ao governo. Nascimento disse que não sabia de problemas envolvendo as empresas.
STF inicia julgamento que pode ser golpe final contra liberdade de expressão nas redes
Plano pós-golpe previa Bolsonaro, Heleno e Braga Netto no comando, aponta PF
O Marco Civil da Internet e o ativismo judicial do STF contra a liberdade de expressão
Putin repete estratégia de Stalin para enviar tropas norte-coreanas “disfarçadas” para a guerra da Ucrânia