Graça Foster participou ativamente da polêmica compra da refinaria de Pasadena, nos EUA| Foto: Antônio Cruz/ Agência Brasil

Justiça

Suspeito de fazer entregas de dinheiro vivo negocia acordo de delação premiada

Kelli Kadanus

O ex-diretor da Odebrecht Shinko Nakandakari está negociando com o Ministério Público Federal (MPF) um acordo de delação premiada. Ele é um dos 11 operadores apontados pelos investigadores da Operação Lava Jato por atuarem dentro da Diretoria de Serviços da Petrobras. De acordo com o MPF, os depoimentos de Nakandakari já estão em andamento.

Segundo as investigações, Nakandakari seria responsável pela entrega de dinheiro vivo para o ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco. A Polícia Federal suspeita que o montante tenha chegado a R$ 8 milhões.

Em nota, a Odebrecht afirmou que Nakandakari deixou a empresa há 23 anos. "Em nenhum momento o engenheiro é citado por qualquer depoente ou testemunha como alguém que tivesse atuado em algum momento em nome da Odebrecht no contexto dos fatos investigados", diz um trecho do material.

Novos depoimentos

Ontem, o ex-diretor de abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa e o doleiro Alberto Youssef prestaram novos depoimentos aos investigadores da força-tarefa para esclarecer pontos sobre o envolvimento de agentes políticos no esquema. O pedido das oitivas foi feito pelo procurador-geral da República Rodrigo Janot e autorizado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Teori Zawaski.

Empresas coagidas

Os advogados voltaram a afirmar ontem ao sair da audiência na Justiça Federal que as empresas eram coagidas a pagar propina para a obtenção e manutenção dos contratos com a Petrobras. "Ficou muito claro que não era possível trabalhar se não se atendesse às exigências de funcionários da Petrobras", disse Alberto Toron, advogado de Ricardo Pessoa, da UTC.

De acordo com Marcelo Leonardo, advogado de Sérgio Cunha Mendes, da Mendes Junior, a propina inicialmente era cobrada pelo ex-deputado federal José Janene. "Isso depois continuou com o próprio diretor Paulo Roberto [Costa] e com o Alberto [Youssef]", afirmou.

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O Tribunal de Contas da União (TCU) livrou a ex-presidente da Petrobras Graça Foster e mais três ex-dirigentes da estatal do bloqueio de bens pela participação na compra na Refinaria de Pasadena, no Texas (EUA). Em julgamento iniciado em julho e só encerrado ontem, após adiamentos, a maioria dos ministros entendeu que não cabe, por ora, decretar a indisponibilidade patrimonial desses executivos pelas irregularidades a eles atribuídas.

Além de Graça, ficaram livres do bloqueio o ex-diretor Internacional da Petrobras Jorge Zelada e o gerente jurídico da estatal à época da compra de Pasadena, Carlos César Borromeu. Os três, no entanto, serão incluídos na lista de 14 executivos que vão responder a uma tomada de contas especial (TCE) – tipo de processo que visa confirmar responsabilidades por danos ao erário. Eles serão citados e terão de se explicar em audiências. Ao fim, podem ser condenados ao ressarcimento de prejuízos.

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O TCU excluiu do processo o ex-presidente da Petrobras América Renato Tadeu Bertani, que não será alvo do bloqueio de bens e nem da TCE. Inicialmente, a corte atribuíra ao executivo responsabilidade por perdas de US$ 132 milhões em duas etapas do negócio. No lugar dele, foram incluídos entre os implicados Alberto da Fonseca Guimarães e José Orlando Melo de Azevedo, que exerceram o mesmo cargo.

Durante o julgamento, o ministro André Luís de Carvalho propôs a inclusão de ex-integrantes do Conselho de Administração da Petrobras, incluindo a presidente Dilma Rousseff, entre os alvos da tomada de contas. A sugestão não foi acolhida pelos demais ministros, mas o relator do caso na corte, ministro Vital do Rêgo, afirmou que voltará a pautar a discussão.

Histórico

O TCU concluiu em julho que houve prejuízo de US$ 792 milhões na compra de Pasadena, feita em duas etapas, entre 2006 e 2012. Na ocasião, isentou integrantes do conselho e responsabilizou somente ex-diretores e funcionários da estatal.

Graça, Zelada e Borromeu participaram, em 2009, da decisão de postergar o cumprimento de sentença arbitral que mandava a Petrobras adquirir os ativos da sócia no empreendimento, o grupo belga Astra Oil. Para o tribunal, o adiamento levou ao pagamento de juros quando ao negócio foi finalmente concretizado, em 2012, causando, só nessa fase, perdas de US$ 92 milhões. Hoje, prevaleceu o entendimento de que não haveria culpa na decisão.

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Com a decisão, dez dos 14 implicados terão os bens bloqueados. A lista inclui o ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli e os ex-diretores Nestor Cerveró (Internacional), Paulo Roberto Costa (Abastecimento) e Renato Duque (Serviços), investigados na Operação Lava Jato.