Na primeira cerimônia pública em Brasília após tomar posse como presidente da República, Michel Temer acabou “blindado” dos protestos organizados na capital federal, paralelamente ao tradicional desfile militar de 7 de Setembro, Dia da Independência do Brasil. Do palanque reservado às autoridades em uma das ruas da Esplanada dos Ministérios, nada se ouvia das manifestações que começavam a menos de 2 quilômetros dali, entre o Museu Nacional da República e a Catedral Metropolitana de Brasília. Apesar disso, Temer não foi poupado de protestos menores, que partiram de uma das arquibancadas próximas ao espaço das autoridades.
Quebrando uma tradição da cerimônia de 7 de Setembro, Temer entrou na Esplanada dos Ministérios sem faixa presidencial – ainda não usada por ele desde a posse no Senado, no último dia 31. Também não optou pelo carro aberto, o Rolls Royce reservado para a ocasião. Acompanhado da esposa, Marcela Temer, o novo chefe do Executivo chegou em um dos carros fechados da frota oficial.
A decisão final por não utilizar nenhum “símbolo” da presidência da República foi tomada somente nas vésperas da cerimônia. Apesar disso, Temer não conseguiu evitar protestos que partiram de uma arquibancada próxima, nos minutos entre a saída do veículo até o palanque de autoridades. Temer foi aplaudido pela maior parte do público presente, mas também ouviu gritos de “fora Temer” e “golpista”.
Em minoria, o grupo que protestou foi imediatamente hostilizado pelos demais. “A nossa bandeira nunca será vermelha”, gritou o grupo majoritário. Os ânimos só se acalmaram com o início do desfile, pouco depois das 9 horas. De acordo com a assessoria de imprensa da Presidência da República, o acesso para as arquibancadas próximas a Temer era restrito a convidados de funcionários do Palácio do Planalto. No meio do público, contudo, não era difícil encontrar gente sem ligação com o governo federal, mas que tinha recebido o convite de terceiros, ou seja, de pessoas que haviam desistido de participar da cerimônia.
Ao longo do desfile, que seguiu até o final da manhã, não houve novos protestos. Os aplausos mais entusiasmados, contudo, foram destinados aos policiais federais que desfilaram com seus veículos. Responsáveis junto com o Ministério Público Federal pelas investigações da Operação Lava Jato, a Polícia Federal fez mais sucesso do que a atração principal, a tradicional “pirâmide humana”, formada por quase 50 militares em cima de uma única motocicleta.
No palanque das autoridades, Temer e a esposa sentaram ao lado do ministro Ricardo Lewandowski, presidente do Supremo Tribunal Federal, e do deputado federal Rodrigo Maia (DEM-RJ), presidente da Câmara dos Deputados. Dezenas de outras autoridades também ocupavam o palanque, entre elas o ministro da Saúde, o deputado federal pelo Paraná licenciado Ricardo Barros (PP), e sua esposa, a vice-governadora do Paraná, Cida Borghetti (PP).
Por volta das 11h30, quando Temer já partia para o próximo compromisso – a abertura dos Jogos Paralímpicos no Rio de Janeiro -, os manifestantes que desde cedo se concentravam na região começaram a percorrer as ruas próximas à Praça dos Três Poderes. Entre os manifestantes, estava o ex-ministro paranaense Gilberto Carvalho (PT). Na estimativa da Polícia Militar do Distrito Federal, o auge do ato contra o governo Temer contou com 2,7 mil pessoas. Os organizadores falam em cerca de 5 mil pessoas.
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Um pouco antes de Temer deixar o evento, manifestantes que se concentravam no Museu da República, em Brasília, começaram a se deslocar pela Esplanada dos Ministérios. A polícia montou três cordões de isolamento para revistá-los e a cavalaria da Polícia Militar também acompanha o grupo, composto por três mil manifestantes, de acordo com estimativa do MST. Eles gritam “me deixa passar”.
Um grupo de dez pessoas se reunia por volta das 9h30 na frente do Museu da República para pedir a volta da Monarquia. Em panfleto distribuído ao público, os monarquistas alegam que a “República é um pesadelo que começou em 1889 e está demorando demais para acabar”.
“Não viemos protestar, viemos comemorar a independência”, diz a advogada Selma Duarte, embaixadora do Círculo Monárquico Brasileiro. Para o maestro Wander Oliveira, a saída de Dilma Rousseff não vai resolver a crise política nacional. “Vai continuar essa desordem, a solução é a volta da monarquia parlamentarista”, disse.
Tribuna de honra
Os ministros de governo Eliseu Padilha (Casa Civil), Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo), Mendonça Filho (Educação), Bruno Araújo (Cidades) e Ricardo Barros (Saúde) estão em uma tribuna de honra. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), também está presente. O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, que presidiu o julgamento do impeachment, chegou por volta das 8h40.
Um dos nomes mais próximos de Michel Temer, o secretário executivo do Programa de Parcerias de Investimentos, Moreira Franco, também veio à Brasília. Os senadores Edison Lobão (PMDB-MA), Ataídes Oliveira (PSDB-TO) e Acir Gurgacz (PDT-RO) participam da cerimônia.
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