Durante cerimônia de entrega de casas realizada nesta quarta-feira (21) em Mogi das Cruzes (SP), o presidente Michel Temer fugiu do seu protocolo particular e, no discurso oficial, rasgou elogios ao governador paulista, Geraldo Alckmin (PSDB). Foi um afago para um importante aliado, que tem feito críticas ao governo federal e que tem potencial para desestabilizar de vez o ninho tucano, principal fiador do mandato tampão de Temer.
O PSDB tem três ministros na gestão de Temer e deve emplacar mais um, Antônio Imbassahy (PSDB-BA), para a Secretaria de Governo. Mesmo assim, muitas lideranças tucanas não concordam com o apoio incondicional ao Planalto. Na segunda-feira, o senador licenciado Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) disse que Temer terá grande dificuldade para terminar o mandato e que sempre defendeu eleições diretas para escolha do sucessor de Dilma Rousseff (PT).
Temer minimizou a declaração de Cunha Lima. “Uma ou outra fala é circunstancial, momentânea, transitória. O que vale é o apoio maciço que estou recebendo do Congresso Nacional”, disse, em entrevista à imprensa divulgada em vídeo. Falou que é preciso encarar com naturalidade críticas assim. “Se nós não estivermos habituados a falas dessa natureza, não é governador [se dirigindo a Alckmin], não conseguimos governar. Temos que passar adiante”, afirmou.
Essa turbulência no ninho tucano preocupa Temer. Ele depende não só do apoio numérico do partido no Congresso para vencer as votações, como também dos atributos institucionais da sigla. O PSDB tem uma aproximação com a elite intelectual e econômica do Brasil de fazer inveja ao PMDB. O eleitorado de Alckmin – ele teve 12,2 milhões de votos em 2014, o que lhe deu a reeleição em primeiro turno – e o desempenho eleitoral do PSDB na disputa municipal em 2016, com vitória de João Dória também no primeiro turno, elevaram o status do governador paulista.
Alckmin nunca fez afirmação tão contundente como a de Cunha Lima, mas tem apontado o que considera falhas do governo federal ao longo dos últimos meses. Na semana passada, após promulgação da PEC do Teto, criticou o congelamento de gastos. “A saúde é dolarizada e aumenta acima da inflação. Ela tem custos dolarizados. A demanda cresce, a medicina fica mais sofisticada, a população, mais idosa... A conta não fecha”, afirmou. Também disse que, se fosse ele, teria encaminhando a Reforma da Previdência antes, para garantir aprovação antes de qualquer desgaste.
TSE
A boa relação com os tucanos também contribuiu, indiretamente, para Temer gozar de uma situação mais confortável no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), onde o presidente é alvo de processo de cassação por irregularidades na prestação de contas e no financiamento eleitoral. O presidente da Corte, Gilmar Mendes, é muito próximo dos tucanos, e cabe a ele definir quando o processo será pautado para julgamento, após conclusão do relator.
Corre a informação de que Alckmin poderia migrar para o PSB para se lançar candidato a presidente em 2018, já que o caminho no PSDB vai se fechando para ele. A recondução de Aécio Neves como presidente nacional da sigla foi considerada “um golpe” pelo paulista, segundo relato de aliados. No posto, Aécio conduzirá a escolha do candidato tucano.
Se houver um racha no PSDB com vistas à eleição de 2018, Temer sai prejudicado. Especialmente se um líder como Geraldo Alckmin for para o PSB e levar junto alguns deputados federais. A bancada do PSDB é composta por 47 deputados, dos quais 13 são de São Paulo – regionalmente ligados a Alckmin, mas não necessariamente.
O PSB, que tem 34 deputados e seis senadores, também tem feito contestações ao governo Temer. De 32 que votaram na PEC do Teto, dez foram contra. Dois senadores também. O presidente nacional da sigla, Carlos Siqueira, disse que o apoio “nunca foi incondicional”. O governador de Pernambuco, Paulo Câmara, disse que “esperava mais” da gestão peemedebista. A bancada gaúcha defendeu uma ruptura imediata, o que não foi aceito pelos demais.
Para o PSDB, que apoiou totalmente a votação da PEC do Teto, o apoio à gestão Temer é tido como a melhor opção até agora, especialmente se o governo federal conseguir implementar mudanças estruturantes de grande impacto e baixa popularidade, como a Reforma da Previdência. Isso melhoraria as contas públicas até 2018, ano da eleição.
Fim do ano legislativo dispara corrida por votação de urgências na Câmara
Teólogo pró-Lula sugere que igrejas agradeçam a Deus pelo “livramento do golpe”
Boicote do agro ameaça abastecimento do Carrefour; bares e restaurantes aderem ao protesto
Frases da Semana: “Alexandre de Moraes é um grande parceiro”
Deixe sua opinião