Um dia após ter sido aberto o processo de impeachment contra Dilma Rousseff, o vice-presidente Michel Temer afirmou à presidente estar “à disposição” para ajudar a traçar a defesa do governo. Os dois se reuniram na manhã desta quinta-feira (3) no Palácio do Planalto para avaliar o cenário político e debater as estratégias diante da crise.
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Até então, os dois só haviam se falado rapidamente por telefone nesta quarta-feira (2), após o pronunciamento oficial em que Dilma fez ataques ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e se disse “indignada” com a decisão do peemedebista em acolher pedido para a abertura de um processo de impeachment contra ela.
Além de reorganizar a fragilizada base aliada para tentar reunir os 171 votos necessários para barrar o pedido no plenário do Congresso, o governo vai ao Supremo Tribunal Federal contra a decisão de Eduardo Cunha, alegando “vingança” do deputado, que deflagrou o processo de impeachment nesta quarta depois que três deputados do PT declararam publicamente que votariam contra ele no Conselho de Ética da Casa.
Acusado por corrupção e lavagem de dinheiro e suspeito de esconder contas na Suíça, Cunha é alvo de um processo na Câmara que pode resultar na cassação de seu mandato e dizia a aliados que, caso os petistas votassem por ele, não abriria o processo de impeachment contra a presidente.
Sem bater de frente
No mesmo encontro, Temer aconselhou a petista a ter uma postura institucional e evitar um confronto direto com Cunha. O receio é que uma polarização entre os dois amplie o desgaste de Dilma. Segundo relatos, Temer fez apenas uma análise política do momento atual, não se adentrando em questões jurídicas que deverão ser encampadas pela equipe da presidente. A reunião entre Dilma e Temer durou cerca de 20 minutos e foi a primeira após Cunha anunciar na quarta-feira (2) que daria prosseguimento ao processo de impeachment.
Temer também recebeu na noite de quarta uma comitiva de deputados integrada por Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), Baleia Rossi (PMDB-SP) e Osmar Terra (PMDB-RS). “Michel está muito tranquilo. Ele não fez nenhum incentivo sobre essa questão do impeachment. O entendimento é de que ele não tem que se envolver nisso. Está todo mundo em compasso de espera”, afirmou Vieira Lima.
Temer descarta disputar 2018, mas se compromete com transição
Na conversa que teve ontem com lideranças da oposição, o vice-presidente Michel Temer se comprometeu que, em caso de ter que assumir a Presidência, dentro de um projeto de união nacional, não trabalhará em um projeto político para se candidatar em 2018. Estavam na reunião os senadores Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), Ricardo Ferraço (PMDB-ES), José Serra (PSDB-SP), Tasso Jereissati (PSDB-CE), Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE), Valdemir Moka (PMDB-MS). Temer disse que não faria um movimento para assumir no lugar da presidente Dilma, mas que se essa for a saída constitucional, via impeachment, está pronto para comandar um governo de unidade nacional, nos moldes do que foi Itamar Franco para Fernando Collor, sem pensar em se reeleger em 2018.
Os senadores presentes disseram entender o seu sentido de lealdade a presidente Dilma, mas que ele deveria pensar também no seu sentido de lealdade ao país que está parado e caminha para uma ruptura. “Nós dissemos a ele: se a solução for essa, dentro do processo legal, o senhor não estará sozinho, terá apoio para além do que tem. Isso considerando uma proposta de governo e trabalho para um governo de transição, de unidade nacional. Mas se for um governo com projeto político para 2018 esqueça, não vai dar certo”, contou um dos senadores presentes ao almoço com Temer no Jaburu horas antes de Eduardo Cunha assinar o pedido de impeachment.
Os senadores alertaram a Temer que se ele assumir com um projeto político para 2018 não conseguirá agregar os apoios que vai precisar para tirar o país da enorme crise política e econômica. Segundo os presentes, os senadores tucanos que estiveram na reunião com a anuência do presidente do partido, Aécio Neves, ouviram e deixaram claro que o apoio do PSDB dependeria do projeto e da garantia que ele não disputaria 2018.
“O sentido desse movimento que vem sendo conversado há 60 dias é remover esse cadáver insepulto do impeachment de nossas vidas. Que seja enfrentado e resulte num voto de confiança ou desconfiança a presidente Dilma”, completou o senador.
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