A principal batalha entre o governo de Michel Temer e o grupo político da presidente afastada Dilma Rousseff até o julgamento final do processo de impeachment não será travada no Senado, mas na mídia.
Ministros de Temer não se cansam de conceder entrevistas para mostrar a “herança maldita” de Dilma, explicar como vão tirar o país da crise e informar a posição da nova gestão sobre assuntos de interesse da população.
Já o PT reforça o discurso de “golpe” sempre que tem oportunidade, enquanto a militância petista promove manifestações pedindo “Fora Temer”, numa aposta de que a situação do país vai continuar ruim e que isso dará a Dilma uma chance de voltar à Presidência.
Nos primeiros quatro dias de governo Temer, pelo menos sete ministros deram entrevistas – coletivas e exclusivas –, além do próprio presidente em exercício, que falou com exclusividade ao programa Fantástico, da TV Globo, no último domingo (15).
Para o professor de Jornalismo da PUCPR Miguel Manassés, o governo Temer tenta ser o mais claro e acessível que pode para estancar a crise política e econômica. “O que os ministros vêm fazendo é buscar uma aproximação com a mídia para mostrar que é um governo transparente, que está disposto a dialogar”, diz.
O novo presidente sabe que não é popular – pesquisa do Instituto Datafolha divulgada em abril mostrou que 58% dos brasileiros aprovavam um eventual impeachment de Temer, quase o mesmo índice dos favoráveis ao afastamento da petista (61%).
Por isso, a palavra de ordem do Planalto é mostrar a intenção de mudar o rumo do país, sobretudo na economia. O novo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, não esconde em suas entrevistas que aposta que a mera sinalização de mudanças na política econômica será suficiente para animar o ambiente econômico – o que poderia levar à queda dos juros e dar fôlego para o consumo das famílias. E, para que isso ocorra, é preciso comunicar-se com os mercados e a população.
Uma coisa é clara: o presidente em exercício se comunica melhor do que Dilma –a presidente afastada era avessa a entrevistas.
Reformas não feitas “abriram caminho ao golpe”, diz PT
Leia a matéria completa“A gente ainda não conseguiu ver muito bem para onde isso está indo, mas uma coisa que eu achei um diferencial muito grande que ele fez até agora foi chamar o embaixador Pedro Luis Rodrigues para ser o chefe da comunicação internacional, que é algo que a gente não via até então”, diz o mestre em Ação Política Márcio Coimbra. Para ele, a estratégia foi adotada para ajudar a melhorar a imagem do país. “É para transmitir as mudanças que estão sendo feitas na economia”, explica.
Para Manassés, ainda é cedo para dizer se o relacionamento de Temer com a imprensa vai continuar “uma lua de mel”. “O governo Temer está sendo mais colaborativo, mas ainda é cedo para fazer uma análise de como ficará a relação dele com a mídia”, diz.
Ministros de Temer “batem cabeça” na mídia
s ministros do governo Temer estão mais soltos para conceder entrevistas em relação à equipe do governo Dilma. Se por um lado a estratégia contribui para conquistar apoio popular, de outro gera controvérsias dentro da própria equipe no primeiro escalão do governo.
Senado abre consulta sobre antecipação da eleição presidencial
Leia a matéria completaEm menos de uma semana de governo, pelo menos dois ministros já protagonizaram bate-cabeça no governo.
O ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, foi desautorizado pelo presidente em exercício Michel Temer ao falar em uma mudança na maneira como é escolhido o procurador-geral da República (ele defendeu que o mais votado pelo Ministério Público não necessariamente seja o indicado).
O ministro da Saúde, Ricardo Barros, precisou se corrigir ao falar da necessidade de rever a universalização da saúde através do SUS. Outros casos como a necessidade da volta da CPMF e a reforma na previdência também já foram temas de debates entre os próprios comandantes do governo.
“Nem sempre o que os ministros entendem ser o melhor para o país é aquilo que pode ser alcançado politicamente, e o governo acaba recuando”, afirma o professor de jornalismo da PUCPR Miguel Manassés, lembrando que o jogo político é mais complexo do que se imagina.
Lulistas insistem na tese do “golpe”
- Kelli Kadanus e Fernando Martins
Para entender como PT pode usar a comunicação como arma política nos próximos meses, é preciso dividir o partido em dois grupos: o de Dilma e o do ex-presidente Lula. Para o mestre em Ação Política Márcio Coimbra, a falha de comunicação, ao lado da crise política e da crise econômica, foi um fator que levou ao afastamento de Dilma.
“O governo não sabia se comunicar. Quando o João Santana [marqueteiro do PT] foi preso, aí sim desabou o castelo de cartas porque ela não tinha a quem recorrer. Porque ele era o grande mago que cuidava da comunicação e da estratégia”, diz Coimbra. Santana foi preso em fevereiro deste ano na operação Lava Jato e era o braço direito da comunicação da petista.
O professor de jornalismo da PUCPR Miguel Manassés lembra que o relacionamento entre Dilma e a imprensa era melhor no primeiro mandato da petista. “Se a gente fizer uma análise histórica recente, o caldo entre a mídia e Dilma azedou depois da reeleição. Até a reeleição, ela tinha um relacionamento de regular para bom com a mídia”, diz.
Para Coimbra, Lula soube usar melhor a comunicação a seu favor. “O pessoal que serviu o presidente Lula era muito mais profissional do que a comunicação que serve a presidente Dilma”, explica. “O Lula, por conhecer a sua inabilidade em determinadas áreas e saber que ele conseguia fazer o mais importante, que era a ligação com o povo, delegava as demais áreas para especialistas”, completa.
Um dos fatores que explica o melhor uso da comunicação por Lula, segundo Coimbra, é a equipe escolhida. “A comunicação dele era feita por pessoas que, além de petistas, eram lulistas, que não tinham tanta identificação com a presidente Dilma”, diz. Por esse motivo, diz ele, há segmentos do PT que acreditam que o discurso do golpe pode ser melhor fixado pela população caso a presidente Dilma não retome o governo.
“A banda lulista não está interessada que a Dilma volte daqui seis meses, mas sim que a Dilma caia e o PMDB fique com o ônus de arrumar a casa nos próximos dois anos e meio para eles terem um discurso para voltar. Isso tudo reforça politicamente a estratégia para o PT voltar [à Presidência] em 2018”, explica Coimbra.
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