As intensas articulações do vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP) nas últimas semanas para montar uma equipe de notáveis caso assuma a Presidência da República estão sendo mais difíceis que o esperado. Apesar das várias consultas feitas a economistas de várias correntes, como o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, Temer e seus aliados mais próximos não tiveram confirmações para a composição do núcleo duro do governo. A dificuldade do vice-presidente se complica ainda mais com a decisão da cúpula do PSDB de propor punição aos integrantes do partido que aceitarem integrar eventual governo do peemedebista.
A posição do PSDB de radicalizar punições e a crescente possibilidade de fechar questão contra a participação de seus quadros em um futuro governo complica a formação de uma equipe com nomes capazes de dar uma sinalização positiva ao mercado e de reverter uma expectativa negativa em relação a Temer. Além da gravidade do quadro econômico, há incerteza também sobre o desfecho do julgamento de impugnação do mandato do vice-presidente no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
A Executiva do PSDB se reúne na próxima terça-feira para discutir se o senador José Serra (PSDB-SP), que vem conversando com Temer, ou outro tucano que venha a ser convidado para ocupar alguma pasta, devam se licenciar da legenda para não causar “conflito de interesse” e prejudicar o projeto do PSDB de disputar a Presidência em 2018. O senador também é cotado para a Saúde, pasta que já ocupou.
Fazenda
Temer tem encontro com Meirelles neste sábado
O ex-presidente do Banco Central nunca escondeu o desejo de se tornar ministro da Fazenda, mas quer autonomia para escolher os outros integrantes da equipe econômica
Leia a matéria completaEm Brasília, como presidente interino, Temer se encontra neste sábado com o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles, o ministro dos sonhos do ex-presidente Lula. Após uma longa conversa com o vice nesta semana, Armínio Fraga prometeu ajudá-lo a formar sua equipe econômica, mas sem fazer parte do governo. Com a recusa do economista, são vistos como possíveis nomes os presidentes do Insper, Marcos Lisboa, e da Federação Brasileira dos Bancos, Murilo Portugal, ambos ex-secretários do Ministério da Fazenda. Lisboa, no entanto, já disse que não participaria desse eventual governo. Também é cogitado o nome do economista Paulo Rabello de Castro para o Ministério da Fazenda. Um dos colaboradores do documento “Ponte para o Futuro”, programa econômico de Temer, o economista ainda não teve um encontro formal com o vice-presidente, mas os dois têm boa relação e ele não descartaria a possibilidade.
“Você não convida alguém para uma possibilidade, sem nem saber quando vai assumir. Claro que ele [Temer] está recebendo pessoas, sentindo disposição, mas nenhum convite foi feito. Nem será feito amanhã [hoje] ao Meirelles. As coisas estão caminhando e não há nenhum problema”, busca amenizar um interlocutor de Temer.
Nesta sexta-feira, perguntado se estava fazendo articulações políticas para definir nomes de uma eventual equipe de governo, Temer respondeu: “Eu estou ouvindo. Naturalmente que estou sendo procurado por muita gente. Estou ouvindo muita gente, mas apenas ouvindo”.
O grupo de Temer fala em dois nomes para o Ministério da Justiça: o dos ex-ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) Carlos Ayres Britto, e da Justiça, Nelson Jobim. À reportagem, Ayres Britto disse que nunca foi consultado sobre essa possibilidade e que, apesar de ser amigo de Temer, não pretende voltar a ocupar cargos na administração pública. Já Jobim, ex-ministro dos governos Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma, apesar de ser considerado um bom quadro, não tem boa relação com o vice-presidente.
Tucanos
A proposta de que o PSDB feche questão contra a participação em cargos em eventual governo Temer foi feita ontem pelo líder do partido no Senado, Cássio Cunha Lima (PB). O secretário-geral do PSDB, deputado Silvio Torres (SP), disse que haveria também “conflito de interesses” se o PSDB estivesse formalmente no governo. A sigla está com ação impetrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que pode resultar na impugnação da chapa Dilma/Temer.
Segundo Silvio Torres, o PSDB tem projeto com propostas próprias, derrotado em 2014, que será mantido para 2018. E que a ida de presidenciáveis — do PSDB ou de outros partidos — para o ministério de Temer pode desequilibrar o jogo para 2018. “Para conseguir o apoio de todos os partidos, Michel não pode levar presidenciáveis para sua equipe de ministros, senão desequilibra o jogo para 2018. Se insistir, vai ter de dar um ministério para o Serra, um para o Geraldo [Alckmin, governador de São Paulo], outro pro Beto Richa [governador do Paraná], para o Marconi [Perillo, governador de Goiás] e outro para o [senador] Aécio Neves. Ele não tem como acomodar todo mundo”, disse o secretário-geral do PSDB.
O governador de Mato Grosso, Pedro Taques, que ano passado trocou o PDT pelo PSDB, também se disse contrário ao partido assumir cargos em um governo de transição. “Sou contra o PSDB ter cargos no provável governo Michel Temer. Sou da opinião de que podemos apoiar o governo Temer no Congresso Nacional, por meio de propostas que ajudem o país a superar este grave momento de sua história. Lutamos pelo impeachment, não podemos deixá-lo só”, disse Taques.
Depois de despachar ontem na vice-presidência, Temer participou da solenidade de posse do desembargador Mario Machado Vieira Netto na presidência do Tribunal de Justiça do Distrito Federal.
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