O vice-presidente Michel Temer (PMDB) começa nos próximos dias a chamada Caravana da Unidade. Trata-se de uma tentativa de Temer, que também é presidente nacional do PMDB, de unificar um partido profundamente rachado, visando à convenção nacional da sigla em março. A primeira parada da caravana será em Curitiba, na quinta-feira (28).
Apesar de ser, inicialmente, um movimento da política interna do PMDB, a caravana tem implicações políticas bem mais amplas. Desde que o processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff (PT) foi aberto na Câmara Federal, a disputa pelo controle de um dos maiores partidos do país extrapolou os limites da legenda – a briga pela liderança do PMDB na Casa é um exemplo disso.
Convenções
A caravana é uma tentativa de Temer de se contrapor ao racha interno do partido entre governistas e oposicionistas – do qual até mesmo ele foi alvo, se tornando objeto de críticas pesadas do senador Renan Calheiros (PMDB). Em março, o PMDB deve realizar sua convenção, e o vice-presidente quer evitar um racha interno que fragilize o partido e, por consequência, sua própria posição política.
Na pauta do encontro, estará a eleição do novo presidente do partido. Temer deve se candidatar à reeleição. A grande questão, porém, é outra: a ala oposicionista, liderada por Eduardo Cunha (PMDB), quer colocar em discussão o rompimento com o governo do PT.
Ainda que seja o principal beneficiário da saída de Dilma da Presidência, o vice-presidente, nos bastidores, articula para que esse assunto espinhoso não entre em pauta. Na sua avaliação, o movimento pode ser muito arriscado para o partido. O desembarque imediato do governo pode aprofundar as já marcadas divisões internas, levando a um racha total. Além disso, Temer avalia que o cenário ainda é incerto demais para movimentos bruscos.
O aprofundamento das divergências seria ruim para Temer no caso de ele assumir a Presidência da República, já que começaria o mandato sem uma base política sólida. Pior ainda seria para os planos futuros do PMDB, que, independentemente da questão do impeachment, quer lançar um candidato à Presidência em 2018.
Por isso, Temer deve passar o início do ano viajando o país buscando uma agenda comum a todos os segmentos da sigla e apaziguando as divergências verificadas no último ano. Além disso, ele deve articular para ser candidato único à presidência da legenda, para evitar que um ou outro grupo assuma uma posição mais radicalizada – seja pró ou anti-governo. Resta saber se a estratégia vai funcionar.
Terra de ex-desafeto
O local escolhido por Michel Temer para o início da Caravana da Unidade foi Curitiba. Curiosamente, trata-se do rincão político de um de seus antigos adversários dentro do PMDB: o senador Roberto Requião. Em 2007, o senador foi um dos principais cabos eleitorais de Nelson Jobim, que disputava com Temer a presidência do partido. Três anos depois, Requião tentou ser candidato à Presidência da República, contra a aliança formal entre PMDB e PT – que resultou na indicação de Temer como candidato a vice-presidente.
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Leia a matéria completaA escolha do Paraná para iniciar a caravana pode ser encarada como um sinal de disposição ao diálogo com as diferentes correntes do partido. O evento, inclusive, está sendo organizado e divulgado por Requião Filho (PMDB). Vale destacar, entretanto, que os dois “caciques” têm se aproximado nos últimos anos, com a intermediação de Rodrigo Rocha Loures, assessor especial do vice-presidente. Se no cenário nacional a grande dificuldade é conciliar as diferentes correntes do partido, no Paraná não é diferente. De um lado, há o grupo de Requião, que hoje se opõe ao governo do estado, e um grupo divergente que apoia Beto Richa (PSDB) – entre eles está o líder do governo na Assembleia, Luiz Claudio Romanelli (PMDB). Em outubro de 2015, a ala requianista venceu as convenções após a chapa opositora desistir de concorrer.
Esse, aliás, foi o tema da última participação de Temer em eventos do partido no Paraná. Às vésperas da convenção que sacramentou a candidatura de Requião ao governo, em 2014, ele participou da reunião e pregou unidade. Não funcionou: durante o período eleitoral, o senador chegou a invadir a sede do PMDB para destituir o adversário Orlando Pessuti do comando do partido. Pessuti, por outro lado, apareceu no horário eleitoral de Richa pedindo que os eleitores não votassem no seu então companheiro de partido.
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