Desde que a já histórica carta enviada à presidente Dilma Rousseff (PT) vazou, o vice-presidente Michel Temer (PMDB) tem evitado dar declarações públicas sobre o impeachment.
Ainda assim, nos bastidores, ele já trabalha com a possibilidade de assumir o governo. Ele tem conversado com políticos, do PMDB e de outros partidos, e com empresários para delinear os rumos que terão seu eventual governo.
É possível que sua posição pública mude a partir do dia 29, quando o PMDB se reúne para decidir se deixará ou não o governo. Mesmo assim, ele já fez movimentos preliminares que indicam seu desejo de assumir a presidência do país. Um deles é o documento “Ponte para o Futuro”, lançado em setembro do ano passado, no qual ele expõe um plano de governo para o país.
A reportagem da Gazeta do Povo listou alguns dos principais interlocutores de Temer, que devem ter um papel importante caso o impeachment ou a renúncia de Dilma se concretize e ele venha a ser o próximo presidente do Brasil.
Moreira Franco
Ex-governador do Rio de Janeiro, Moreira Franco se tornou o braço direito de Temer dentro do PMDB. Após passar quatro anos servindo como ministro-chefe da Aviação Civil e da Secretaria de Assuntos Estratégicos, desde 2015 ele preside a Fundação Ulysses Guimarães. Desta posição, Franco coordenou a redação da “Ponte para o Futuro” e, posteriormente, a chamada Caravana da Unidade, uma espécie de “tour” de Temer pelo país realizada nos meses que antecederam a convenção do partido. Em entrevista à Gazeta, em janeiro, ele disse que o partido não trabalhava com a possibilidade do impeachment.
Eliseu Padilha
Assim como Moreira Franco, o gaúcho Eliseu Padilha foi ocupante da “cota” de Temer no ministério de Dilma. Aliado de primeira hora de Temer, ele substituiu Franco na pasta da Aviação Civil a partir de janeiro do ano passado, mas renunciou em dezembro, um dia depois de o pedido de impeachment contra a Dilma ser acatado por Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Em sua curta passagem pelo ministério, teve diversos atritos com a presidente, e chegou a recusar o comando da Secretaria de Relações Institucionais. No passado, foi ministro dos Transportes de Fernando Henrique Cardoso.
Romero Jucá
A relação entre Romero Jucá (PMDB-RR) e Temer não é da mais simples. O senador de Roraima chegou a ser colocado como possível candidato da ala governista à presidência do PMDB – ele recuou após ser convidado para ser o vice-presidente do partido. Desde então, os dois têm se reaproximado, e Jucá pode ser um ponto de apoio importante na relação do vice-presidente com o Senado.
Geddel Vieira Lima
Principal nome do PMDB na Bahia, o ex-deputado Vieira Lima foi ministro da Integração Nacional durante o governo Lula. Entretanto, após disputas com o PT e com Jaques Wagner em nível local, Vieira Lima foi para a ala oposicionista do PMDB. Ele é aliado e amigo pessoal do vice-presidente – apesar de ter apoiado o rompimento do PMDB com o governo antes das eleições de 2014, contra Temer. Seu irmão, o deputado federal Lucio Vieira Lima, é um potencial aliado importante na Câmara. Ele perdeu por apenas um voto a liderança da bancada peemedebista para Leonardo Picciani, no início do ano passado.
José Serra
O senador e ex-governador de São Paulo tem servido como uma ponte entre o PSDB e o vice-presidente. Em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, Serra defendeu um governo de “união e reconstrução nacional” em torno de Temer caso o impeachment se concretize, e declarou que o PSDB terá “obrigação” de participar deste momento. Serra é especulado, também, como um possível ministro – ele foi ministro da Saúde e do Planejamento durante o governo Fernando Henrique Cardoso – em um eventual governo Temer.
Paulo Skaf
Presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf está filiado no PMDB a convite de Michel Temer desde 2011. No ano anterior, ele disputou o governo de São Paulo pelo PSB, terminando na quarta colocação. A Fiesp é, hoje, uma das principais e mais ricas entidades que defendem o impeachment – de lá partiu a campanha “Não Vou Pagar o Pato”. Apesar da relação tensa com o governo, Skaf tem uma relação boa com Temer, e foi um dos principais mentores da chamada “Ponte para o Futuro”.
Delfim Netto
Ministro da Fazenda por sete anos durante a ditadura militar, o ex-deputado federal Delfim Netto foi um dos economistas que contribuíram para o documento “Ponte para o Futuro”. Delfim não deve ocupar nenhum cargo no Executivo, mas é um dos economistas a quem o vice-presidente escuta. Além dele, o ex-secretário de Política Econômica Marcos Lisboa e o ex-ministro da Previdência Roberto Brant também aconselham Temer em temas econômicos. Especula-se, ainda, que Armínio Fraga ou Henrique Meirelles podem se tornar ministro da Fazenda.
Nelson Jobim
Ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ex-ministro de Dilma, Lula e FHC, Nelson Jobim não é exatamente um nome próximo de Temer. No passado, foi o principal adversário do vice-presidente dentro do PMDB, ameaçando sua presidência como candidato em 2007. Entretanto, apesar das desavenças, ele é apontado como um possível ministro da Justiça – cargo que exerceu nos anos 90. Sua última passagem como ministro terminou de forma no mínimo curiosa: em 2011, acabou demitido após uma sucessão de falas que irritaram o governo. Disse que votou contra Dilma nas eleições, ofendeu as então ministras Ideli Salvatti e Gleisi Hoffmann, foi a homenagem a FHC e disse, de forma enigmática, que “os idiotas perderam a modéstia”.
Rodrigo Rocha Loures
Principal aliado de Temer no Paraná, Rocha Loures foi deputado federal por um mandato. No primeiro mandato de Dilma e Temer, assumiu a chefia de gabinete da vice-presidência – hoje, é assessor especial. No passado, chegou a disputar as eleições estaduais como candidato a vice-governador na chapa de Osmar Dias (PDT), em 2010. É filho do presidente da nutrimental, que também se chama Rodrigo Rocha Loures.
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