Dois deputados federais eleitos pelo PMDB do Paraná receberam dinheiro do Grupo Libra por meio de transferências da conta de campanha do vice-presidente Michel Temer. As campanhas de Hermes Parcianello e João Arruda foram apontados como destino de parte do R$ 1 milhão doado nas eleições de 2014 pelos sócios do Libra à campanha de Temer.
A empresa obteve por meio de uma emenda parlamentar incluída pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), na nova Lei de Portos, uma vantagem inédita para administrar uma área do Porto de Santos, em São Paulo. O Grupo Libra, conglomerado de logística que tem dívida milionária com o governo federal, foi o único beneficiário de uma brecha incluída na nova legislação, que permitiu a empresas em dívida com a União renovarem contratos de concessão de terminais portuários. O grupo é arrendatário de uma área de 100 mil m² no Porto de Santos há mais de 20 anos.
Ao todo, estima-se que até 12 políticos do PMDB foram beneficiados com verbas da empresa, repassados por Temer. Além dos dois paranaenses, R$ 100 mil foram para a candidatura à Câmara Federal de Elcione Barbalho (PA). A deputada reeleita é mãe de Helder Barbalho, hoje ministro dos Portos e na época candidato ao governo do Pará.
Mesmo sendo candidato a vice, Temer criou em 2014 uma pessoa jurídica para receber doações eleitorais e repassá-las a candidatos a outros cargos públicos, como deputados estaduais e federais.
O deputado federal João Arruda, que é líder da bancada paranaense no Congresso, afirma que recebeu doações do gabinete financeiro de Temer durante a campanha eleitoral do ano passado. O valor seria de aproximadamente R$ 50 mil. “Temer doou para boa parte dos candidatos do partido em todo o Brasil. O valor não veio diretamente do Grupo [Libra]. Eu não tinha como rastrear a origem desse dinheiro. É impossível saber isso, já que a doação partiu do Temer”, afirma. O deputado Hermes Parcianello foi procurado pela reportagem, mas até o momento não retornou aos telefonemas.
Outros deputados
Além de Elcione Barbalho (PA), de Arruda e Parcianello, outros dois deputados do PMDB receberam dinheiro do Libra por meio de transferência de Temer. Entre eles, está um dos principais defensores do impeachment da presidente Dilma Rousseff na legenda: o deputado gaúcho Darcísio Perondi. Também recebeu repasse o deputado Édio Lopes (PMDB-RR).
Acordo
Em setembro de 2015, o antecessor de Helder Barbalho no Ministério dos Portos, o deputado Edinho Araújo (PMDB-SP), aliado de Temer, fez acordo com o Libra extinguindo as ações de cobrança do governo por inadimplência do grupo. Em vez de cobrar a dívida na Justiça, a União preferiu negociar sob arbitragem privada. Com isso, o Libra pôde renovar sua concessão para operar no Porto de Santos por mais 20 anos. Essa exceção a concessionários inadimplentes foi aberta em 2013, por emenda do então líder do PMDB, Eduardo Cunha, à Lei dos Portos.
Foi também o deputado Edinho Araújo (PMDB-SP), em seus últimos dias no comando da Secretaria Especial de Portos (SEP). A relação entre ele e o vice-presidente era tão próxima que a retirada do parlamentar do comando da pasta foi um dos motivos de desavença listados por Temer em carta cheia de queixas enviada à presidente Dilma Rousseff em dezembro.
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