O primeiro ato do governo interno de Michel Temer (PMDB) é o diagnóstico do rombo nas contas públicas. Nesta sexta-feira (21), a equipe do peemedebista deve fechar uma análise completa dos números para encaminhar ao Congresso Nacional uma nova meta fiscal, a ser votada na terça-feira (24). Há uma estimativa de que o déficit pode ultrapassar R$ 200 bilhões.
Na análise do governo interino, o cenário de “fundo do poço” somado à “transparência” de início de gestão, além de alavancar apoio, é perfeito para manter a propaganda anti-Dilma no Legislativo, que ainda vai apreciar a análise final do processo de impeachment da petista. O ministro do Planejamento, Romero Jucá, por exemplo, declarou nesta quinta-feira (19) que o atual governo não vai repetir o anterior, que, segundo ele, “maquiava os números”.
Além de atingir os congressistas, a intenção é fazer a própria população tomar conhecimento do “diagnóstico” fiscal. O peemedebista pretende anunciar, em comunicado nacional – que ainda não tem forma nem data para ocorrer –, os problemas encontrados no Palácio do Planalto.
O inventário deve incluir os rombos no orçamento, em programas contratados e alguns não realizados, e outros tipos de desmandos ocorridos nos diferentes ministérios. A estratégia é mostrar a “herança maldita” recebida da gestão Dilma Rousseff (PT) e, assim, tentar apoio para fazer andar no Congresso as medidas impopulares que pretende implantar para recuperar a economia, como a reforma da Previdência.
“Ele vai fazer aquele jogo político antigo de jogar para o anterior. O governo Temer também já está sofrendo com a crise, então, quanto mais jogar para a Dilma, melhor para ele”, avalia o cientista político Eric Gil Dantas.
Peso político
Para o coordenador do MBA em Relações Institucionais do Ibmec Marcio Coimbra, o peso político do diagnóstico de Temer é grande. “Quanto maior for o rombo, maior a pressão do Congresso para que estabeleçam medidas necessárias”, avalia. Segundo ele, a opinião pública também pode ser sensibilizada a partir do anúncio do “real quadro” das contas públicas.
Dantas aponta, no entanto, que a presidente Dilma já vinha tomando medidas de corte de gastos. A diferença agora, com Temer, é na velocidade. “Tirando a trava do Congresso, isso ia começar, com Dilma ou sem. Existem diversos projetos no Congresso para retomada do crescimento da economia, a diferença está na velocidade, que, com o Temer, vai acelerar”, diz.
Para o cientista político Eric Gil Dantas, o peso do diagnóstico no apoio ao peemedebista se concentra no Congresso e entre os empresários, mas não deve reverter a opinião popular, que demonstra insatisfação sobre as medidas pretendidas, como a reforma previdenciária. “Ele [Temer] precisa do apoio partidário e empresarial, mas, na população, não deve ter efeito”, aponta.
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