Com a queda do ministro Geddel Vieira Lima, o presidente Michel Temer enfrenta enormes dificuldades para achar um substituto para a estratégica Secretaria de Governo, responsável pela articulação política do Executivo com o Congresso. A questão é achar um nome que transite nas diferentes castas da Câmara, garantindo a aprovação de reformas fundamentais para o governo, e que, ao mesmo tempo, não ofereça risco de ser alvo das revelações iminentes na delação da Odebrecht, no âmbito da Lava-Jato.
A interlocutores, Temer disse que o novo ministro tem que ser alguém que não esteja metido “com nada de nada”, o que dificulta ainda mais a escolha entre os homens de confiança do presidente. O perfil desejado para a função é de um político experiente e que não caia vítima de manchas no currículo. Ontem foi um dia de muitas especulações e reuniões com aliados, mas sem solução alguma.
Diferentemente da mudança no comando da Cultura, com a saída de Marcelo Calero e o rápido anúncio da escolha de Roberto Freire, desta vez ainda não há substituto para Geddel. O nome do ex-deputado Rodrigo Rocha Loures, assessor especial de Temer, chegou a circular entre os que defendem que o presidente opte por alguém de personalidade mais burocrática.
Com essa opção, o presidente concentraria o trabalho de articulação política, e o ministro seria uma espécie de gestor da agenda política do governo. Outro cotado para o posto é Moreira Franco, atual secretário executivo do Programa de Parcerias e Investimentos (PPI).
Moreira foi chamado por Temer para ir ontem a São Paulo conversar sobre o tema. Mas, segundo a assessoria da Presidência, não houve convite ao ex-governador do Rio. Temer, que passará o fim de semana em Brasília para tentar resolver o problema, também tem sido recomendado a escolher um deputado da base aliada para o cargo, para prestigiar a Câmara, onde, esta semana, o debate em torno da anistia do caixa dois desestabilizou o equilíbrio entre partidos aliados. Especula-se que o presidente pode levar para o Planalto um dos pré-candidatos à presidência da Câmara, na tentativa de pacificar a disputa que já se trava com Rodrigo Maia (DEM-RJ). Nesse cenário, aparecem os nomes do líder do PTB, Jovair Arantes (GO), e de Rogério Rosso (PSD-DF).
Mas Temer também tem conselheiros que defendem a escolha de parlamentares importantes para o cargo, e que a decisão seja tomada rapidamente, até o início da próxima semana. Temer tem de voltar a São Paulo amanhã à tarde para participar da abertura do Congresso da Diáspora Libanesa da América Latina. E na próxima terça-feira já está prevista a votação no Senado do primeiro turno da PEC 55, do teto dos gastos, enquanto na Câmara segue a polêmica sobre o caixa dois.
Geddel, amigo de Temer há mais de 20 anos, resistiu até a noite de quinta à escalada nas denúncias de Calero de que teria feito pressão para o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) liberar as obras de prédio em Salvador onde Geddel tem um imóvel. Quando veio à tona que Calero também acusava Temer de pressão, Geddel resolveu sair.
“O presidente pagou o preço de ter dado o benefício da dúvida a Geddel. A dúvida acabou recaindo sobre ele próprio. O governo não conseguiu enxergar que um pequeno desvio ético seria insustentável, insuportável”, disse um interlocutor de Temer. (Colaboraram Geralda Doca, Júnia Gama, Isabel Braga e Sérgio Roxo).
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