Terminou por volta das 17h desta quarta-feira a audiência de instrução na primeira fase do julgamento do coronel reformado Carlos Alberto Brilhante Ustra, comandante da Operação Bandeirantes que, durante a ditadura militar, prendeu e torturou centenas de militantes nos anos 70. Ustra é réu no primeiro processo cível contra um militar que participou das ações de tortura durante o regime militar, que está sendo movido pela família de César e Maria Amélia Teles que acusam o comandante de torturar o casal, dois filhos e a irmã de Maria Amélia, que na época estava grávida de 8 meses.
Nesta quarta-feira, cinco testemunhas de acusação foram ouvidas, sendo que pelo menos duas delas relataram terem sido torturadas fisicamente pelo próprio coronel reformado durante o período em que ficaram presas no Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna, que ficou conhecido pela sigla Doi-Codi.
Ustra não compareceu ao depoimento. O advogado de defesa, Paulo Esteves, afirmou que o coronel viajou a São Paulo para participar do processo, mas diante da negativa dos autores da ação de ouvi-lo, preferiu não se deslocar até o Fórum João Mendes, onde foram realizadas as oitivas.
Na chegada ao fórum, um clima de emoção tomou conta da família Teles. Maria Amélia Teles, a Amelinha, disse que a família resolveu não pedir indenização e que o motivo do processo é lutar para a consolidação da democracia no país.
- Nossa responsabilidade é frente a história deste país é frente a sociedade. Nós sempre lutamos pela democracia e queremos que seja consolidado o estado democrático de direito. Não tem dinheiro nenhum que pague a tortura, o assassinato, isto não existe. Nós queremos a condenação moral.
Muito emocionado, César Teles falou que a família sofreu uma grande humilhação durante a prisão, ocorrida em 1972. Para o ex-militante do PCdoB, que foi preso por distribuir jornais do partido, o coronel representaum passado difícil de esquecer.
- Ele é um monstro. É isso que ele é. Ele torturava, matava, como quem vai a um jogo de futebol.
O advogado de defesa do coronel reformado afirmou que ele nega ter participado diretamente das sessões de tortura. Para Esteves, o processo tem finalidade política.
- Há interesses políticos em tudo isto, porque existem partidos no país de direita e esquerda e sempre há o interesse de se manter viva esta chama, no sentido de que se isto aconteceu algum dia não aconteça mais.
Na próxima etapa do julgamento, serão ouvidas oito testemunhas de defesa do coronel. Como as testemunhas moram em cinco estados diferentes, elas serão convocadas a depor na própria comarca. O comunicado deve ser feito pela Justiça nos próximos 15 dias. Não há previsão para o fim do processo.
César e Amelinha Teles foram presos no dia 28 de dezembro de 1972 junto com o dirigente do PcdoB, Carlos Nicolau Danieli. Segundo o casal, eles foram levados para a operação Bandeirantes (OBAN), comandada pelo então major Carlos Alberto Brilhante Ustra, que teria sido o primeiro torturar o casal. Segundo Amelinha, Danieli foi assassinado nas dependências da OBAN. No dia seguinte, os filhos do casal, Janaina e Edson, então com 4 e 5 anos de idade foram levados ao Doi-Codi, junto com a tia Criméia Almeida, grávida de 8 meses, que também foi presa.
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