O sargento da Aeronáutica Felipe Santos dos Reis, lotado como controlador de vôo no centro de controle de tráfego aéreo de Brasília, o Cindacta-1, foi o primeiro réu interrogado no processo que apura as causas do acidente da Gol, que resultou na morte de 154 pessoas em setembro do ano passado. O depoimento aconteceu em Sinop (MT) nesta terça-feira (28) e durou cerca de duas horas e meia.
Segundo a denúncia do Ministério Público aceita pela Justiça, Reis falhou ao autorizar apenas parte do vôo do jato Legacy, que saiu de São José dos Campos (SP) e bateu no Boeing da Gol ao Norte de Mato Grosso. Logo após a colisão, o avião da companhia aérea brasileira caiu em uma região de mata fechada em Mato Grosso. Todos os passageiros e tripulantes morreram.
Ao juiz Murilo Mendes, o controlador afirmou que autorizou o vôo até a região de Brasília. "Eu só posso responder pelo meu setor", disse Reis. O controlador autorizou vôo do Legacy a 37 mil pés até Brasília. O plano de vôo para o Legacy estabelecia que o jato deveria voar de São José dos Campos (SP) até Brasília a 37 mil pés. A partir de Brasília, desceria para 36 mil pés. Mas o Legacy se manteve nos 37 mil - altitude onde, em sentido contrário, vinha o Boeing da Gol.
O réu afirmou ainda que não sabe falar inglês. "Você sabe falar, por exemplo, 'sua mulher está doente' [se precisar avisar um piloto]?", questionou o juiz. O controlador respondeu: "Não".
Reis estava visivelmente nervoso e se confundiu em algumas respostas do interrogatório. O juiz chegou a intervir durante o questionamento da defesa do controlador, já que o réu disse que não entendeu algumas perguntas feitas pela advogada Ana Cristina Souza.
Reis, outros três controladores e os dois pilotos do jato Legacy, Joe Lepore e Jan Paladino, são acusados de atentado contra a segurança de transporte aéreo, com agravante pelas mortes.
O juiz determinou intervalo de 15 minutos na audiência e deve ouvir, em seguida, Jomarcelo Fernandes dos Santos, o único acusado por crime doloso. De acordo com o procurado Thiago Lemos de Andrade, ele tinha ciência do risco de colisão entre as duas aeronaves.
Pilotos
O juiz Murilo Mendes convocou Lepore e Paladino a prestarem depoimento em Sinop na segunda-feira (27), na primeira audiência, mas eles não compareceram. O advogado deles, Theodomiro Dias Neto, apresentou requerimento para que seus clientes fossem ouvidos nos Estados Unidos. O juiz negou o pedido.
Na segunda-feira, Mendes declarou que o processo deve recorrer à revelia desses réus - ou seja, segue normalmente, mesmo sem o depoimento dos dois.
Acidente O jato Legacy bateu em um Boeing da Gol em setembro do ano passado. O avião da companhia aérea brasileira caiu em uma região de mata fechada no Norte de Mato Grosso e as 154 pessoas que estavam a bordo morreram. Foi o segundo maior acidente aéreo registrado no país. O único que registrou maior número de vítimas foi o acidente com o vôo 3054 da TAM, que causou a morte de 199 pessoas, em julho deste ano.