A expectativa ficou para o final e deixou todos surpresos. Depois de quase três horas, saiu a última e mais cara das peças de um leilão beneficente que reuniu artistas e empresários em um bar da Zona Sul de São Paulo, na noite desta segunda-feira (16) : o terno que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou na primeira posse, em 2003. O empresário Eike Batista arrematou o traje por R$ 500 mil o lance inicial era de R$ 100 mil. A roupa não foi exposta.
Em um rápido discurso, Eike foi além. Anunciou que dobraria em doações todo o valor arrecadado no leilão, cujo objetivo é ajudar um projeto de alfabetização na favela de Paraisópolis, a segunda maior de São Paulo. "Minha obrigação é provocar os outros empresários. Dobro tudo o que foi colocado aqui hoje", afirmou o empresário do ramo de mineração.
De acordo com assessores do evento, as informações preliminares eram de que o leilão tinha arrecadado cerca de R$ 2 milhões. Se a promessa de Eike se cumprir, o valor sobe para R$ 4 milhões. Os recursos irão para a Escola do Povo, que tem por meta alfabetizar 15 mil jovens e adultos de Paraisópolis. O catálogo mostrava que pelo menos 80 peças foram ofertadas aos cerca de 300 convidados que pagaram R$ 500 (o casal) e foram ao bar da Vila Olímpia. O preço incluía um jantar.
Uma das atrações do leilão, que começou por volta de 21h30, foi a guitarra autografada por Mick Jagger. O empresário Renato de Magalhães, que não posou para fotos, bancou o primeiro lance, de R$ 50 mil. Disputou com outro concorrente, mas acabou ficando com a peça por R$ 70 mil. "Eu sou fã do Mick Jagger", contou ele, discreto em sua mesa. Mesmo tocando só violão, admitiu estar intencionado a levar o instrumento para a casa "desde o início" do evento. "Ela vai ficar guardadinha."
Influência
O principal organizador do leilão foi o cabeleireiro Wanderley Nunes, que usou sua influência entre as celebridades nacionais e internacionais em prol da causa. "É muito difícil estar aqui. Enterrei meu pai hoje, às 17h. Ele tinha 95 anos e foi meu grande inspirador", contou ele, logo no começo do encontro.
Madrinha do leilão e amiga de Wanderley Nunes, a primeira-dama Marisa Letícia optou pela discrição. Chegou com o cabeleireiro às 20h40 e só saiu da mesa do canto ela jantou ao lado de Eike Batista no fim do evento, quando anunciaram o lote 54, com o terno do presidente. Marisa brincou com Nunes, afirmando que a roupa "valia mais" do que os R$ 100 mil iniciais. Foi aí que Eike subiu a oferta para R$ 200 mil e lançou em seguida os R$ 500 mil.
Antes de ir embora a primeira-dama agradeceu a contribuição de todos. Gilson Rodrigues, presidente da União dos Moradores de Paraisópolis, sugeriu que o terno ficasse exposto dentro da favela. Naquele momento, ninguém se opôs. Lance a lance
Estavam entre os itens, um capacete do piloto Emerson Fittipaldi, comprado por R$ 30 mil, uma jaqueta e camiseta do modelo Jesus Luz, levados por R$ 8.500, e um DVD e o livro do seriado americano Sex and the City, arrematados por R$ 7 mil. Esta doação foi feita pela protagonista Sarah Jessica Parker, como informou a organização da festa. Um dos lotes mais disputados, lance a lance, foi o de número 9, que continha um uniforme completo, além de uma camisa, do jogador Kaká e três camisas, doadas por Alexandre Pato, Pelé e Ronaldo. Tudo saiu por R$ 55 mil.
Bono Vox
Quem ficou feliz da vida foi Cristina Proença, uma das sócias do Buddha Bar, onde ocorreu o leilão. Sem concorrentes, ela ficou, por R$ 10 mil, com o boné autografado por Bono Vox. "Sempre fui muito fã dele. Quando o Wanderley falou que teria esse boné no leilão, eu disse que ia levar, mas não acreditava nisso", disse a moça.
Eike Batista também arrematou outra peça valiosa: o Rolex de ouro doado pelo apresentador Fausto Silva. Sem dificuldades, levou o acessório por R$ 80 mil. Ainda foram ofertados vestidos, joias, bolsas, sapatos e até um conjunto de cozinha com panelas, uma cafeteira de luxo, talheres, fogão e batedeira. O prefeito da cidade, Gilberto Kassab, que não estava presente, doou um quadro com a imagem do Vale do Anhangabaú. O comprador pagou R$ 6.500.
Muitos itens não comprados foram automaticamente colocados na internet para um possível lance posterior. Um deles foi a guitarra doada pela banda Scorpions. Outro foi o quadro que Jay Milder pintou há 36 anos. O artista estava no bar. Mesmo com a insistência de Wanderley Nunes, a peça não saiu. O leiloeiro Luiz Fernando Dutra, da Dutra Leilões, admitiu que é mais difícil trabalhar em um evento beneficente. "Sem sombra de dúvida. Você tem que usar todo o apelo porque a generosidade tem que ser tocada."
Tanto que o começo do evento foi meio frio. Dutra chamou Wanderley Nunes e até o humorista Tom Cavalcante para ajudar a "tocar" os convidados e incentivá-los a erguer o braço.
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