José Carlos Bumlai, pecuarista amigo de Lula: mais ligação com o PT.| Foto: Daniel Castellano/Gazeta do Povo

Preso e acusado pelo Ministério Público Federal de fraudar empréstimos para quitar dívidas do PT, o empresário José Carlos Bumlai apareceu numa transação imobiliária em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, que teve como beneficiário final o segundo maior fornecedor da campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff. O negócio envolve pessoas próximas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

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Suplente de Delcídio é ligado a Bumlai

Iniciante tardio na política, o empresário da educação Pedro Chaves dos Santos, filiado ao PSC de Mato Grosso do Sul, pode assumir, aos 74 anos, uma cadeira no Senado caso o senador Delcídio Amaral (PT-MS), preso desde a última quarta-feira (25) pela Operação Lava Jato, não possa retornar às suas atividades parlamentares.

Integrante da elite sul-mato-grossense, Chaves tem uma relação familiar com outro personagem investigado por corrupção no âmbito da Petrobras. Sua filha, Neca Chaves Bumlai, é casada com Fernando Bumlai, filho do pecuarista José Carlos Bumlai, preso desde a última terça-feira (24). O empresário é amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e foi preso por supostamente participar de um esquema de corrupção e fraude para pagar dívidas da campanha da reeleição do petista. A família Bumlai pertence também ao círculo mais próximo de amigos de Delcídio.

A relação familiar lançou suspeitas sobre o suplente. Senadores tanto da oposição quanto da base aliada disseram ter receios de que uma pessoa com ligações tão próximas a Bumlai possa assumir uma cadeira no Senado.

Uma possível nomeação de Chaves, no entanto, ainda deve demorar. Isso porque, de acordo com o Regimento Interno da Casa, o suplente de um senador só pode assumir o cargo em caso de morte do titular, renúncia ou cassação do seu mandato ou quando o senador tirar uma licença superior a 120 dias.

Por ter sido preso, Delcídio foi colocado em uma licença especial automática e sem prazo definido. Ele foi o primeiro senador desde a redemocratização a ser preso no exercício do mandato. Mesmo nesta condição, ele continuará a receber um salário de R$ 33,4 mil, pelos próximos quatro meses no mínimo.

Chaves poderia assumir o mandato após este período. Outra hipótese para que o professor, como Chaves é conhecido em sua região, assuma o cargo é no caso de o Senado cassar o mandato de Delcídio ou de ele próprio apresentar um pedido de renúncia.

Oriundo de uma família de educadores, Chaves começou a ascender na carreira ao assumir a direção da escola Mace, uma das instituições de educação mais tradicionais do Mato Grosso do Sul, em 1971. Anos depois, ele criou o CESUP, que posteriormente foi transformado na Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal, a Uniderp. As duas instituições foram vendidas em 2007 para o Grupo Anhanguera.

O empresário só entrou de vez no mundo político em 2010, quando aceitou compor a chapa de Delcídio para concorrer a uma vaga no Senado. Na época, ele deixou a presidência da junta interventora que administrava a Santa Casa de Campo Grande.

Na época, Chaves declarou um patrimônio de R$ 69,3 milhões, valor não corrigido pela inflação. Entre seus bens, constavam majoritariamente terras, imóveis, sendo três apartamentos no Rio de Janeiro, dois aviões Cessna, uma quota de R$ 962 mil da Mace, além de aplicações bancárias, sendo uma de R$ 30,6 milhões em um único investimento no banco Santander, todos em valores não corrigidos.

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Em 2007, a família Demarchi, cujos integrantes são amigos do ex-presidente, fez uma “dação em pagamento” a Bumlai com 11 terrenos avaliados entre R$ 170 mil e R$ 730 mil. Dados cartoriais mostram que, a partir de 2010, ele começou a revender os lotes pelos mesmos valores a Carlos Roberto Cortegôso – em 2014, ele assumiu ser o verdadeiro dono da Focal Comunicação, que faturou R$ 24 milhões na campanha de Dilma daquele ano.

O nome de Cortegôso veio à tona depois que técnicos do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) apontaram como irregulares as notas fiscais da Focal apresentadas na prestação da campanha do PT após a vitória de Dilma. Em seguida, descobriu-se que a empresa tinha entre seus sócios um motorista. Para tentar acabar com a polêmica, Cortegôso apresentou-se na sequência como o responsável pela empresa, que tinha como controladora sua filha, Carla Regina Corte gôso.

A Focal já havia sido citada no escândalo do mensalão pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, condenado pelo Supremo Tribunal Federal como operador do esquema. Em 2005, ele apresentou à CPI dos Correios uma lista de beneficiários do mensalão da qual faziam parte a Focal e Carla Regina. Recentemente, uma outra empresa de Carlos Roberto Cortegôso – a CRLS Consultoria e Eventos - foi citada na Operação Lava Jato.

A CRLS apareceu em meio às investigações relacionadas ao braço do esquema no Ministério do Planejamento. A 18.ª fase da Lava Jato investigou desvio de R$ 52 milhões. Desse total, R$ 37 milhões foram arrecadados pelo operador Alexandre Romano. Em depoimento feito em delação premiada, ele contou que fez depósitos na conta da CRLS a pedido do ex-ministro Luiz Gushiken (morto em 2013).

‘Sociedade’

A CRLS é a empresa para a qual Bumlai transferiu sete dos 11 terrenos recebidos da família Demarchi. Mais conhecido como pecuarista em Mato Grosso do Sul e pela amizade com Lula, Bumlai não frequentava São Bernardo do Campo. Mas ficou com terrenos da tradicional família Demarchi, cujo maior negócio sempre foi o restaurante São Judas Tadeu, situado na mesma cidade.

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As operações ganharam contornos mais suspeitos quando Carlos Cortegôso passou a oferecer terrenos apresentando-se como “sócio de Bumlai”. O comerciante José Nildo Lopes comprou um dos terrenos do empresário por intermédio de Cortegôso, conhecido como Carlão. “Ele me disse: o terreno é meu, só que não está no meu nome. Você me dá o dinheiro que, em dez dias, o terreno passa para o seu nome”, disse Lopes ao Estado. “O Carlão me falou que o [restaurante] São Judas devia para o Bumlai.”

No começo dos anos 1980, o PT e o Sindicato dos Metalúrgicos usavam o restaurante para festas, confraternizações e encontros. Neste ano, amigos de Lula haviam marcado no São Judas a festa de 70 anos do presidente. Antes de virar prestador de serviços do PT, Cortegôso foi garçom em outro restaurante da família Demarchi, o Florestal, que também era frequentado por Lula.

Negócio privado

Carlos Roberto Cortegôso afirmou que fez um “negócio privado” e que “não há nenhuma irregularidade”. Ele ressaltou que nunca foi amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Falei poucas vezes com ele”, disse. Cortegôso também negou ser sócio de Bumlai. “Quem me dera se eu fosse”, completou. Disse, ainda, que o comerciante José Nildo Lopes mentiu sobre a negociação. “Não teve nada daquilo que ele disse. Eu tentei ajudá-lo Esse rapaz é um estelionatário”, completou.

Procurado pela reportagem, o advogado de José Carlos Bumlai, Arnaldo Malheiros, afirmou que seu cliente revendeu os terrenos pelo mesmo preço que comprou - sem correção ou reajuste – porque estava precisando de dinheiro.

A família Demarchi explicou que os terrenos foram “dados em pagamento” a Bumlai depois que o empresário quitou uma dívida do restaurante com um banco.

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