A Rocinha, favela carioca, virou mais uma vez campo de guerra, na noite deste sábado, quando dez moradores ficaram feridos a tiros e estilhaços de granadas durante uma incursão de policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope). Segundo a Secretaria estadual de Segurança, um menor de 17 anos, que teria atacado com uma granada os policiais do Bope, também ficou ferido por estilhaços e está internado no Hospital Lourenço Jorge, na Barra da Tijuca. O rapaz está sob custódia dos policiais do 31º BPM (Recreio dos Bandeirantes).
Ainda de acordo com a Secretaria de Segurança, quatro moradores feridos continuam internados no Hospital Miguel Couto. Uma adolescente de 13 anos, levou um tiro na mão. Gilberto Alves Machado, de 43, foi atingido por um tiro na barriga e outro na perna. Adriana Ferreira da Silva, de 32, levou um tiro no tórax e Bartolomeu dos Santos Mendes ficou ferido com um tiro na perna com fratura exposta. Outros seis feridos já foram liberados do hospital.
Segundo moradores da favela, os policiais entraram na Rua 1 atirando na direção de uma creche onde estava sendo realizado um chá de bebê e uma festa de aniversário, que reuniam mais de cem pessoas. O comandante das Unidades Operacionais da PM, coronel Camilo, deu outra versão. Segundo o ofical, os soldados do Bope foram atacados por traficantes com granadas e pelo menos oito das vítimas foram feridas por estilhaços.
A PM confirmou também que houve uma troca de tiros com traficantes no local.
Revoltados, moradores fecharam a rua com caminhões da Comlurb e vários ônibus, que foram retirados da garagem da Viação Amigos Unidos, para evitar a saída dos policiais do Bope, deixando a situação ainda mais tensa. Os PMs teriam conseguido sair por uma viela.
Os feridos foram levados para o Hospital Miguel Couto, onde, por volta das 21h, um outro grupo de moradores da Rocinha fez um protesto. Na porta do setor de emergência, eles deitaram no chão e interromperam o trânsito na Rua Bartolomeu Mitre, no Leblon.
Uma moradora, que estava na festa e não quis se identificar, disse que os PMs já chegaram atirando.
- As pessoas correram e se jogaram no chão. Eu mesma fiquei ferida por estilhaços no ombro direito - afirmou.
Depois da confusão, policiais do 23º BPM (Leblon) foram para a Estrada da Gávea, que dá acesso ao local onde as pessoas foram baleadas, e interromperam o tráfego, na altura da Escola Americana. Por alguns minutos, houve troca de tiros com traficantes que usavam balas traçantes. Parte da iluminação no alto do morro foi atingida pelos tiros, deixando várias áreas sem luz. Os policias também ficaram de prontidão para evitar manifestações de moradores no local. Às 22h, um grupo tentou fechar a Auto-Estrada Lagoa-Barra, mas foi contido por lideranças comunitárias.
Enquanto os policiais tentavam controlar a situação nas imediações da favela, moradores se aglomeravam na porta da emergência do Hospital Miguel Couto. Moradora da Rocinha, Eliana Pereira, de 31 anos, disse que os policiais do Bope chegaram a pé atirando. Junto com o grupo de vinte pessoas que foi para a porta do hospital, ela deitou no chão da Avenida Bartolomeu Mitre, fechada duas vezes pelos manifestantes. Numa delas, o trânsito foi interrompido por dez minutos. Policiais do 23º BPM conseguiram convencer as pessoas a liberarem o tráfego:
- Foi horrível, um pânico geral. Só havia moradores, nenhum bandido - disse.
Na emergência, os médicos do hospital se desdobraram para atender a todos os feridos. Entre as vítimas já liberadas da unidade estão duas crianças de 3 e 10 anos, feridas nas pernas; Rosemary Ferreira da Silva, de 27, atingida também na perna; Wellington Braga de Toledo, de 22; e Fátima Carvalho Silva, de 27.
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