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O dinheiro sujo do bicho não teria comprado apenas sentenças de juízes e complacência da polícia. Para o delegado Emanuel Henrique Oliveira, que participou das operações de busca e apreensão da Polícia Federal, o título do carnaval deste ano da Beija-Flor pode ter sido comprado por Anísio Abraão David, patrono da Beija-Flor. "Há fortes indícios de que esse resultado tenha sido manipulado pelo senhor Anísio", disse o delegado em entrevista exclusiva ao "Fantástico" este domingo.

Imagens exclusivas da operação foram exibidas no programa. Numa delas, na fortaleza do sobrinho do presidente da Liga das Escolas de Samba do Rio, Aílton Guimarães Jorge, o Capitão Guimarães, os agentes encontraram no fundo falso de uma parede malotes de dinheiro contendo cerca de R$ 10 milhões. Os agentes da PF quebraram a marretadas uma parede falsa no escritório de Júlio Guimarães Sobreira.

O delegado Emanuel Henrique Oliveira disse haver indícios de que o carnaval desse ano, vencido pela escola Beija Flor de Nilópolis, tenha sido manipulado.

As primeiras imagens mostram os agentes na casa de Júlio, em Petrópolis, na Região Serrana do Rio. No local, são encontrados R$ 600 mil num cofre. De lá, os policiais seguem para a fortaleza do contraventor, num bairro da Zona Norte do Rio. Num dos cômodos do imóvel, os agentes desconfiam de que possa haver documentos ou dinheiro escondido dentro de um armário embutido e resolvem arrancar a madeira do fundo do móvel.

Por trás, surge uma parede de alvenaria. Nesse momento, as imagens mostram federais se aproximando com uma marreta. Um deles diz: "vamos quebrar tudo". Entusiasmados, os agentes abrem a marretadas um buraco na parde e, com uma lanterna, observam a câmara secreta que se descortina. Um policial, então, grita, eufórico:

- Muita grana, muleque!

Pelo buraco, podem ser vistos diversos malotes no chão. Num deles os policiais encontram dezenas de pacotes de R$ 10 mil. Os malotes foram transportados de helicóptero e num carro-forte para o Banco Central, onde ficaram guardados. Antes, o dinheiro foi contado com ajuda de máquinas na Superintendência da Polícia Federal, na Praça Mauá. O total apurado foi de R$ 10 milhões, além de 300 mil euros (cerca de R$ 800 mil), jóias e 60 relógios avaliados em R$ 40 mil cada um.

- Esse grupo, mais do que uma organização criminosa, é um grupo mafioso que tem audácia, que demonstra poder, que faz questão de demonstrar o poder, interferindo no Legislativo, no Judiciário, no Executivo e até no resultado do carnaval do Rio. Há indícios de que esse resultado foi manipulado pelo senhor Anísio (Aniz Abraão David, o Anísio, presidente de honra da Beija Flor e um dos presos na operação, ao lado de Capitão Guimarães e de Júlio) - disse o delegado federal Emanuel Henrique Oliveira.

O delegado aposta que a operação Hurricane será um divisor de águas no combate à corrupção no Rio.

- Isso vai ter um impacto muito importante. Acho que teremos a perspectiva de ter um novo Rio de Janeiro. Isso vai influenciar nas policias civil e militar e vai ter influência na Policia Federal. Eu acho que é um marco que vai traçar um divisor de águas. Antes da Operação Hurricane e agora, com a Operação Hurricane - avaliou.Uma matéria do jornal O Globo mostra que pelo menos 40 pessoas continuam sendo investigadas no Rio pela Diretoria de Inteligência Policial (DIP) da Polícia Federal de Brasília, suspeitas de integrarem a rede de corrupção que envolve crimes como contrabando, tráfico de influência, adulteração de combustíveis e exploração de jogos ilegais

Na relação estão políticos, policiais, empresários, advogados e juízes. Eles são alvos de três investigações distintas, desenvolvidas com o apoio do setor de inteligência da PF do Rio.

Parte dos nomes investigados agora apareceu pela primeira vez em 2003, numa relação maior fornecida por um policial federal preso na Operação Planador, servindo de base para várias outras operações, como a Poeira no Asfalto, Cerol e, agora, a Hurricane. Acusado de se beneficiar financeiramente em sucessivas fraudes na emissão de passaportes (o principal objetivo da Planador), o policial recorreu ao benefício da delação premiada e resolveu colaborar com a Justiça.

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