Exame está comprometido
Pode ser impossível determinar se o deputado Fernando Ribas Carli Filho estava embriagado, ou não, no momento do acidente, que ocorreu na madrugada da última quinta-feira. Segundo informações do Hospital Evangélico no qual o deputado recebeu atendimento inicial não existe material para fazer o exame solicitado ontem pelo delegado Armando de Moraes.
A análise da dosagem alcoólica seria feita com base em material colhido pelos médicos do hospital para exames de praxe no pronto-socorro. O Evangélico, no entanto, afirma que o sangue colhido foi descartado após exames, como costume.
A coleta de sangue para o exame de dosagem alcóolica não teria sido requisitada pela delegacia responsável pelo caso porque o parlamentar estava inconsciente, internado na UTI e recebido medicamento intravenoso. Segundo uma fonte da Secretaria de Segurança Pública do Estado, esse seria o procedimento normal.
No Rio Grande do Sul, os exames de dosagem alcoólica e toxicológicos são requisitados sempre que há acidentes de trânsito envolvendo vítimas. No caso do motorista estar em estado grave, médicos e policiais negociam a possibilidade da coleta do material para exames.
Segundo o psiquiatra Luiz Fernando Carazzai, especialista em álcool e drogas do Hospital de Clínicas, é possível detectar vestígios de álcool na corrente sanguínea até 24 horas após a ingestão da bebida. Ele ainda afirma que os medicamentos não mascaram o consumo de álcool. (CO)
Opinião da Gazeta: Isenção e transparência
A colisão envolvendo o carro do deputado Luiz Fernando Ribas Carli Filho, 26 anos, e um segundo veículo, no qual perderam a vida Gilmar Rafael Souza Yared e Murilo de Almeida, respectivamente 26 e 20 anos, vem ensejando uma reação muito grande por parte da opinião pública paranaense. Em meio à comoção e estupefação pela violência do acidente que acabou ceifando a vida de dois jovens e ferindo gravemente outro, acaba se sobressaindo o sentimento por uma apuração isenta e equilibrada do caso. Este, aliás, deve ser o papel dos organismos policiais encarregados das diligências, de modo a dar uma satisfação não só às famílias das vítimas, mas à própria sociedade. Sem a intenção de emitir juízo de valor a respeito do trágico episódio, é forçoso ressaltar que o fato de estar envolvido um parlamentar no exercício do mandato não pode ser motivo para um tratamento diferenciado nos critérios da investigação e apuração. Uma ação transparente, ágil e sobretudo ética é o que se espera.
O desembargador do Tribunal de Justiça do Paraná Miguel Tomas Pessoa Filho é o novo responsável pelas investigações sobre o acidente que deixou ferido o deputado Fernando Ribas Carli Filho (PSB) e resultou na morte de dois jovens na madrugada da quinta-feira passada, em Curitiba. O TJ assumiu as investigações porque o parlamentar tem foro privilegiado. Segundo a assessoria de imprensa do tribunal, Pessoa Filho foi escolhido por meio de um sorteio eletrônico mesmo critério que é utilizado para a distribuição de processos aos desembargadores do TJ.
O inquérito foi encaminhado ontem ao tribunal pelo delegado Armando Braga de Moraes Neto, responsável pelas investigações iniciais. Ainda devem ser acrescentados ao processo laudos do Instituto de Criminalística sobre o local do acidente, que já foram solicitados pelo delegado. As imagens dos radares da rua onde ocorreu a batida e das vias próximas já foram anexadas ao inquérito encaminhado ao TJ. Segundo informações da Agência Estadual de Notícias, o delegado também recebeu imagens da câmera de vigilância do posto de combustível que fica próximo ao local da colisão.
Nos próximos dias, o Ministério Público Estadual deve pedir vistas nos autos e requisitar à Polícia Civil a realização de diligências complementares. Por meio de nota à imprensa, o promotor Rodrigo Regnier Chemim Guimarães, responsável por acompanhar o caso, informou que testemunhas ainda serão ouvidas e que aguarda alguns documentos periciais. O MP estava apenas aguardando a definição do desembargador que será responsável pelo caso para pedir a investigação complementar.
Alta velocidade
Segundo testemunhas, Carli Filho, de 26 anos, estaria conduzindo em alta velocidade um Passat preto, que colidiu com violência contra o Honda Fit prata de Gilmar Rafael Souza Yared, de 26, na esquina das ruas Monsenhor Ivo Zanlorenzi e Paulo Gorski, no Mossunguê. O jovem e o amigo Carlos Murilo de Almeida, de 20, morreram na hora. O deputado sofreu sérias lesões na face e está internado no hospital Albert Einsten, em São Paulo, para onde foi transferido na noite do último domingo.
Carli Filho tem um histórico de multas de trânsito por alta velocidade e dirigia com a habilitação de motorista suspensa desde julho do ano passado. Reportagem da Gazeta do Povo publicada ontem mostrou que, em seis anos, o deputado foi multado 30 vezes em 23 delas por dirigir acima da velocidade permitida e acumulou 130 pontos na carteira por infrações no trânsito. Três das multas que o deputado recebeu foram consideradas gravíssimas, por exceder em mais de 50% a velocidade máxima da via. A família do deputado não quis comentar as infrações de trânsito cometidas por ele nem sobre o estado de saúde dele.
Projeto
Ex-diretor-geral do Detran no Paraná, o deputado federal Marcelo Almeida (PMDB) afirmou que irá propor mudanças na legislação para garantir a apreensão das carteiras cassadas por infrações de trânsito. Hoje, todo motorista que tem a habilitação suspensa recebe uma notificação por correio e deve entregar o documento às entidades competentes para cumprir a suspensão se o condutor não devolver a habilitação, a única chance de a irregularidade ser descoberta é se for flagrado em uma blitz. "Da forma atual, as autoridades ficam de mãos atadas, porque não têm meios para tirar a carteira dos motoristas", afirmou.
Almeida, que é relator da Subcomissão Especial da Comissão de Viação e Transportes da Câmara, pretende incluir as alterações no Código de Trânsito Brasileiro, que vem sendo revisado há dois anos. "É preciso criar mecanismos eficientes que garantam a apreensão das carteiras suspensas", defendeu. "Uma das maneiras pode ser tirar o direito de dirigir por cinco anos dos motoristas que não entregarem a habilitação cassada."