Lideranças de trabalhadores rurais vão acampar em Brasília, onde querem reunir-se com a presidenta Dilma Rousseff para tratar de questões como o assentamento de famílias, reforma agrária e política de crédito. Os trabalhadores fazem parte do Acampamento Nacional, organizado pela Via Campesina e por movimentos rurais que integram a organização como o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Cerca de 4 mil famílias de trabalhadores rurais chegam nesta segunda-feira (22) à capital e ficarão acampadas no estacionamento do Ginásio Nilson Nelson por tempo indeterminado. O coordenador do MST, Valdir Misnerovicz, disse que os movimentos estão esperando a confirmação da audiência. "Temos tido boas reuniões com o governo. A questão é que o diálogo não tem sido traduzido em ação. Essa é nossa insatisfação, essa é nossa indignação. O governo precisa transformar o diálogo em ação concreta para resolver", disse. Segundo Misnerovicz, os trabalhadores defendem mais recursos para a reforma agrária e que o dinheiro liberado para obtenção de terras destinadas a assentamentos já foi todo usado. "Este ano foram destinados mais de R$ 500 milhões para obtenção de terras e já foram empenhados. Reconhecemos que isso é importante, mas esses recursos representam 10% da nossa demanda. Esse valor resolve o problema de 10% das famílias acampadas". Misnerovicz informou que seriam necessários R$ 1,5 bilhão para assentar as famílias acampadas. De acordo com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), 180 mil famílias estão acampadas pelo país e precisam ser atendidas emergencialmente. Já o líder do MST alega que, em oito meses de governo, não houve nenhuma desapropriação de terra e havia, até recentemente, mais de 100 processos de assentamento na Casa Civil da Presidência da República que foram devolvidos para o Incra Outro problema apontado por Misnerovicz foi a questão das dívidas de agricultores familiares. Ele informou que há R$ 12 bilhões em dívidas que precisam ser negociados emergencialmente para que os agricultores não fiquem impedidos de fazer novos financiamentos. "O governo disponibilizou R$ 16 milhões para a agricultura familiar, mas há uma parte desses agricultores que tem dívidas e, se isso não for resolvido, eles ficarão sem acesso a esse dinheiro. Tem o recurso, mas ele não pode ser acessado." A coordenadora da Via Campesina, Rosângela Piovezani, disse que os movimentos rurais também vão pedir a presidenta que seja mantido o atual Código Florestal. "Flexibilizar [áreas de proteção permanente] APP e área de reserva legal é um atentado à natureza e a nosso planeta. Para produzir comida, os camponeses não precisam de redução de APP e nem de reserva legal", disse. De acordo com ela, os movimentos de trabalhadores rurais vão pedir o cancelamento das obras da Usina Hidrelétrica de Belo Monte e de outros projetos de infraestrutura do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que, na opinião deles, não vão trazer benefícios à população. "Belo Monte vai atingir uma grande região e vai tirar não só os animais, mas povos ribeirinhos, povos indígenas e quilombolas. É uma área muito grande que vai ser atingida e não vai trazer benefícios para a população". Nesta terça-feira (23), os trabalhadores farão uma vigília em frente ao Congresso Nacional, a partir das 19h, para pressionar os parlamentares e o governo quanto às suas reivindicações. Também está programado para o mesmo dia o lançamento do filme O veneno está na mesa, do cineasta Silvio Tendler, que será exibido no acampamento dos trabalhadores em Brasília. Os trabalhadores rurais programaram para quarta-feira (24) uma manifestação na Esplanada dos Ministérios.
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