Sede da Assembleia Legislativa, em Curitiba: distanciamento da população leva a desconhecimento da atuação dos parlamentares| Foto: Ivonaldo Alexandre/Gazeta do Povo

Clientelismo

Cidadão ainda acha que papel de vereador é fazer obra no bairro

O distanciamento das câmaras em relação à população se reflete no entendimento distorcido dos eleitores do que é ou deveria ser a principal atividade dos vereadores. No levantamento do Paraná Pesquisas feito em Curitiba e em Londrina, quase sempre a principal resposta a essa pergunta foi "levar obras da prefeitura para os bairros". "Fazer trabalhos de ação social" também foi uma das opções mais escolhidas.

Conforme explica Ricardo Costa de Oliveira, da UFPR, o papel dos vereadores é elaborar leis, acompanhar a elaboração do orçamento e, sobretudo, fiscalizar o Poder Executivo. "A população tem a ideia de que o vereador é um subprefeito, um despachante da prefeitura, que deve fazer obras paroquiais. Essa é uma visão clientelista", afirma.

Depois de ver dois prefeitos e um vereador serem cassados recentemente, boa parte dos londrinenses, na comparação com os curitibanos, entende ser mais prioritário que os vereadores fiscalizem a prefeitura. Nas duas perguntas sobre qual é e qual deveria ser o principal papel dos parlamentares, o índice de respostas para "fiscalizar o Executivo" foi maior em Londrina.

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R$ 250 milhões é o valor que, segundo o Ministério Público, teria sido desviado dos cofres públicos pela Assembleia Legislativa em gestões anteriores, no escândalo conhecido como Diários Secretos.

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Três anos depois do maior escândalo da história da Assembleia Legislativa paranaense, o eleitor do estado continua tendo uma visão negativa do trabalho dos deputados estaduais. Em levantamento feito pelo instituto Paraná Pesquisas, a nota média dada para o Legislativo estadual ficou em 5,05 – a média foi de 4,36 na região de Curitiba e de 5,36 no restante do estado.

O retrato revelado pela pesquisa mostra que as medidas anunciadas pelo presidente da Casa, deputado Valdir Rossoni (PSDB), desde que assumiu o comando do Legislativo, em 2011, não foram suficientes para apagar a mácula deixada pela corrupção. Em 2010, a série de reportagens Diários Secretos, publicada pela Gazeta do Povo e pela RPCTV, mostrou que as antigas gestões da Assembleia teriam desviado pelo menos R$ 250 milhões por meio da contratação de funcionários fantasmas e laranjas.

INFOGRÁFICO: Veja o conhecimento dos paranaenses sobre a política do estado

Na semana passada, Rossoni anunciou pelo terceiro ano consecutivo que a Assembleia está devolvendo recursos de seu orçamento que foram "economizados" ao longo do ano. Em 2013, foram R$ 200 milhões devolvidos ao caixa do estado, o que eleva a soma repassada ao governo desde 2011 para R$ 400 milhões. No entanto, o ato pode ter passado despercebido pela população, já que a imensa maioria nem mesmo sabe quem é o presidente do Legislativo: apenas 8% dos entrevistados souberam dizer que Rossoni preside a Assembleia.

O desconhecimento em relação ao Legislativo, aliás, é grande. Segundo especialistas, isso decorre de uma falta de aproximação dos políticos com a população. Para Ricardo Costa de Oliveira, professor e cientista político da UFPR, há dois fatores que explicam esse resultado. Em primeiro lugar, a questão geográfica, que dificulta a proximidade com a população – a Assembleia fica em Curitiba. E também o fato de a eleição de deputado estadual ter ocorrido em outubro de 2010.

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"Há necessidade de essas instituições se aproximarem dos eleitores, talvez com campanhas educacionais de esclarecimento, voltadas principalmente às novas gerações. É preciso valorizar e divulgar o Legislativo como pilar da democracia e dos direitos à cidadania", defende.

Perdulários

"O Legislativo é visto como um poder perdulário, que ganha muito e gasta mal", avalia Oliveira. "E, para o deputado estadual, é ainda pior, pois ele fica prensado entre os vereadores e os congressistas. Os eleitores têm dificuldade em saber qual o escopo de atuação deles."

"Quando se fala em político no Brasil, a imagem é muito ruim. Um escândalo suja todos, os bons e os maus", afirma Murilo Hidalgo, diretor do Paraná Pesquisas.

Curitibano já não lembra em quem votou

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Passado pouco mais de um ano das últimas eleições municipais, a maioria dos eleitores de Curitiba e de Londrina já esqueceu em que candidato a vereador votou. Isso, porém, não reduziu as críticas ao Poder Legislativo. Mais da metade dos entrevistados das duas principais cidades do estado desaprova o trabalho dos atuais parlamentares, segundo levantamento do Instituto Paraná Pesquisas.

Na capital, há quase um empate no porcentual de lembrança e de esquecimento: 48,88% se esqueceram do voto para vereador, contra 46,87% que se lembram. Já em Londrina, a diferença é grande. Enquanto 58,08% dos entrevistados disseram não lembrar em qual candidato votaram, apenas 34,91% recordam em quem votaram.

Apesar da falta de memória sobre quem escolheram para representá-los na Câmara Municipal, os eleitores mantiveram a postura crítica – já enraizada no Brasil – ao avaliar o Legislativo. Em Curitiba, o índice de desaprovação dos vereadores é de 52,02% contra 37,5% de aprovação. Os números são parecidos aos de Londrina: 52,57% versus 36,97%.

Análise

Na opinião do diretor do Paraná Pesquisas, Murilo Hidalgo, o esquecimento do eleitorado com relação à própria escolha política é reflexo de "um voto não muito convicto". "O eleitor votou por votar e, quando vai passando o tempo, acaba se esquecendo", analisa. Segundo ele, isso distorce o sistema representativo e aumenta o distanciamento entre o Legislativo e a comunidade. Aliada a essa cultura política de pouca memória, está a visão negativa que o brasileiro tem do Legislativo em geral, argumenta Ricardo Costa de Oliveira, cientista político.

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Oliveira explica que os escândalos sucessivos e recorrentes entre os parlamentares de todas as esferas ajudam a aumentar a desconfiança em torno da classe política. "Basta pegar pesquisas sobre as profissões no Brasil, em que os parlamentares estão sempre entre os profissionais menos confiáveis", afirma.

Colaborou Fábio Silveira.

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