Entrevista
Questão legal já está resolvida, diz deputadoAndré Vargas, vice-presidente do Congresso Nacional
O senhor vai convocar a sessão para promulgar a PEC dos tribunais?
Vou convocar na quarta para que a sessão ocorra na quinta-feira, às 9h.
Um dos motivos alegados pelos quais a emenda ainda não foi promulgada foram os detalhes técnicos. A Câmara teria mudado o texto. Isso poderia comprometer a constitucionalidade da lei?
O parecer sobre a constitucionalidade já foi emitido, na hora da votação. Teve uma questão de ordem, que foi resolvida pela Câmara, de que não havia nenhum tipo de alteração de conteúdo. Foi apenas uma alteração de texto, que não compromete o conteúdo.
Então não há possibilidade de ela ser considerada inconstitucional?
Sempre há, porque existe uma discussão anterior: se nós [Câmara ou Senado] teríamos ou não a prerrogativa de fazer a emenda. A discussão não é sobre esse item pequeno, que é uma questão formal, só. Isso aí é um detalhe.
Quanto à estimativa de que a emenda aumentaria os gastos do Poder Judiciário em até R$ 8 bilhões por ano, e que não acabaria com o excesso de processos da Justiça Federal, o que o senhor diria?
Primeiro que a Justiça Federal, com todos os tribunais atuais, custa 7,2 bilhões. Então como é que custaria 8 bilhões? Esses dados não têm base nenhuma na realidade. Não sei de onde que o presidente do Supremo [ministro Joaquim Barbosa] tirou esses dados. Todos os outros estudos apontam numa outra linha. A outra é que essa é uma das medidas. Nós temos outras medidas judiciárias e legislativas para fazer o processo agilizar.
O que o senhor diria a respeito da crítica de que novos TRFs só podem ser criados por iniciativa do Judiciário?
Há 12 anos a PEC está tramitando no Senado. Os atuais tribunais federais foram criados pela Constituição, nas disposições transitórias. Já houve um precedente constitucional. Portanto, pode ser criado por emenda.
Diante da hipótese de que a emenda seja imediatamente contestada no STF e derrubada, qual seria a estratégia dos que são favoráveis a ela?
O Superior Tribunal de Justiça também poderia apresentar um projeto de lei. Estamos conversando com o presidente do STJ, Felix Fischer, para combinar com ele.
Igor Iuan, especial para a Gazeta do Povo
A promulgação da emenda constitucional que cria o Tribunal Regional Federal (TRF) no Paraná e outros três tribunais espalhados pelo país deverá ser sancionada na próxima quinta-feira às 9 horas da manhã. O primeiro vice-presidente do Congresso Nacional, deputado André Vargas (PT-PR), confirmou ontem que convocará a sessão assim que assumir interinamente o cargo de Renan Calheiros (PMDB-AL).
Calheiros, por sua vez, disse ontem que não vai impedir a promulgação da emenda. Como o senador estará fora do país em viagem oficial para Portugal, a partir de quarta-feira, Renan admitiu não ter poderes para barrar a articulação do seu vice para promulgar a emenda.
"Eu não promulguei a proposta que cria os tribunais exatamente porque há uma redação que a Câmara aprovou diferente da redação que o Senado havia aprovado. Mas é evidente que eu não posso deixar de fazer uma viagem oficial, nem posso limitar o papel constitucional do primeiro vice-presidente. Se ele desejar promulgar, eu não tenho o que fazer", afirmou.
A proposta cria tribunais com sedes no Paraná, Minas Gerais, Bahia e Amazonas. Hoje, há cinco tribunais regionais federais em Brasília, em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Pernambuco e no Rio Grande do Sul.
Num agrado ao presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, principal crítico da proposta, Renan afirmou em abril que não iria promulgar a emenda por causa de "problemas técnicos", que poderiam provocar sua anulação na Justiça. Segundo Renan, há uma pequena divergência entre o texto aprovado pela Câmara e o que passou no Senado. Barbosa argumenta que os novos tribunais poderão aumentar os gastos do Poder Judiciário em até R$ 8 bilhões por ano, sem acabar com o excesso de processos que congestiona a Justiça Federal.
Numa reunião com associações de juízes que defendem os novos tribunais, o presidente do STF chegou a acusá-las de agir de forma "sorrateira" ao trabalhar a favor da proposta no Congresso. Vargas diz que não fará nada sozinho, sem o aval de Renan. "Eu só farei se houver um entendimento", disse.
Os dois conversaram sobre o assunto nos últimos dias. Para não dar a impressão de que houve um recuo, Renan afirmou que não pode deixar de participar de um "compromisso oficial" do Senado para impedir a promulgação.
A promulgação da emenda depende do aval dos integrantes das mesas diretoras da Câmara e do Senado. Com Renan fora do país, Vargas assumirá interinamente o comando do Congresso por ser o vice-presidente da Câmara. Segundo as normas do Congresso, a promulgação tem que ocorrer em sessão conjunta da Câmara e do Senado, mas o protocolo pode ser quebrado se houver entendimento das duas Casas.
Renan diz que relação do PMDB com Planalto vai "muito bem"Folhapress
Em meio à crise do PMDB com o governo, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), declarou ontem que as tensões entre Executivo e Legislativo são "naturais". Ele, porém, afirmou que a relação da sigla com o Palácio do Planalto vai "muito bem".
Responsável por deixar a medida provisória que reduziu as tarifas de energia perder a validade, Renan disse que agiu para não permitir o "atropelamento" do Congresso Nacional.
"Havia muitas alternativas. Só não havia alternativa de atropelamento do Congresso Nacional. Essa, nós não poderíamos concordar porque havíamos feito um compromisso com a Casa e com o país", afirmou. "Essas coisas são superiores ao que acontece no dia a dia do Legislativo. Essas tensões são naturais", completou.
Na quarta-feira, a cúpula do PMDB se reuniu com o vice-presidente Michel Temer para atacar a ministra Gleisi Hoffmann (Casa Civil).
O grupo também fez duras críticas à ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais), responsável pela articulação política do governo. Também responsabilizou as duas pela operação que resultou na perda da validade da MP. No auge da tensão, Renan chegou a desligar um telefonema de Gleisi para dar prosseguimento à sessão plenária que resultou na derrocada da medida provisória.
A presidente Dilma Rousseff entrou em campo e telefonou para Renan com o objetivo de acalmá-lo. Mesmo com o afago, a cúpula do PMDB resolveu verbalizar as críticas a Temer, presidente de honra do partido.
Os peemedebistas se irritaram com o tom adotado por Gleisi ao comentar a derrubada da MP. A ministra disse que "lamentava muito" a decisão do Congresso de engavetá-la no momento em que o Senado ainda discutia alternativas para tentar garantir a aprovação da medida. A fala foi interpretada como um enfrentamento a Renan.
Nos bastidores, os congressistas afirmam que Gleisi e Ideli, cientes de que o Senado não votaria a MP, deveriam ter agido para evitar o desgaste ao presidente do Senado interrompendo a tramitação da matéria antes mesmo dela chegar à Casa. Há ainda críticas de que falta liderança à Ideli para conduzir o grande número de partidos aliados no Congresso.
O governo estaria com dificuldades para contemplar todos e abrir o diálogo. Na Câmara, o governo conta com apoio de 420 dos 513 deputados. Dos 81 senadores, mais de 60 são da base governista.
Renan deixou de colocar a MP em votação para cumprir a promessa firmada com o Senado de não votar medidas provisórias que cheguem à Casa com menos de sete dias para a sua análise. A Câmara concluiu a análise da MP no dia em que ela chegou para ser votada pelos senadores, que teriam apenas seis dias para discuti-la.
Afago
Em um afago a Dilma, Renan disse hoje que a presidente "compreende muito bem" o funcionamento das instituições e entendeu sua decisão de deixar a medida provisória caducar.
"Eu apresentei na oportunidade caminhos para que houvesse a transferência de recursos para o pagamento das despesas que o governo está tendo com as termelétricas", afirmou. Segundo Renan, além da decisão do Palácio do Planalto de incorporar o texto da medida que vai perder a validade em outra medida provisória, havia a possibilidade de edição de outra MP.
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