Um mês após dar sinais de que conseguiria controlar a crise com o Congresso Nacional, o governo Dilma Rousseff sofre com os próprios tropeços e se vê às voltas com o recrudescimento do debate sobre impeachment da presidente. Na manhã seguinte ao anúncio de que a agência de classificação de risco Standard & Poor’s havia retirado o selo de bom pagador do país, cerca de 50 parlamentares participaram nesta quinta-feira (10) da criação de um movimento pelo afastamento da presidente por crime de responsabilidade. O principal fato novo foi a adesão aberta de deputados de partidos da base aliada, como PMDB, PTB e PSD, à manifestação da oposição.
Pelo buraco
Um mês após conseguir costurar um acordo para ter estabilidade no Congresso, o governo despenca em espiral de más notícias e ressuscita discussão sobre impeachment:
10/8 - O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), faz um gesto de aproximação ao governo ao apresentar a “Agenda Brasil”, com 28 propostas para superar a crise econômica. O movimento dá sinais de que é possível isolar o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e esfria as discussões sobre impeachment.
25/8 - Em um anúncio improvisado, o governo diz que vai cortar 10 dos 39 ministérios. A expectativa de que a notícia teria repercussão positiva foi frustrada pela vagueza das informações. O anúncio de quais pastas seriam extintas fica para setembro e gera apreensão entre aliados com assento na Esplanada.
26/8 - Mesmo sem consenso entre a equipe econômica, o governo lança um balão de ensaio sobre a recriação da CPMF, com a cobrança de 0,38% de taxa por movimentação financeira. A medida gera uma enorme repercussão negativa, especialmente entre lideranças empresariais.
31/8 - O governo desiste da CPMF, mas decide enviar ao Congresso uma proposta orçamentária para 2016 com previsão de R$ 30,5 bilhões de déficit. A estratégia de dar transparência às dificuldades cai mal entre o mercado financeiro e abre caminho para rebaixamento da classificação do país pelas agências de risco.
9/9 - A agência de classificação de risco Standard & Poor’s retira o selo de bom pagador do país. Dentre as explicações para o rebaixamento do grau de investimento, conquistado em 2007, cita a falta de habilidade política de Dilma ao prever um orçamento deficitário para 2016.
10/9 -Em meio às dificuldades econômicas geradas pelo rebaixamento da nota de risco, cerca de 50 parlamentares de oposição lançam um movimento pelo impeachment de Dilma. Eles esperam coletar assinaturas para respaldar o pedido de afastamento feito por um dos fundadores do PT, Hélio Bicudo.
O grupo lançou um site (www.proimpeachment.com.br) para recolher assinaturas e apresentar um pedido de abertura do processo de cassação de Dilma em 15 dias. Para agilizar as ações, deve ser endossado o pedido de impeachment de um dos fundadores do PT, o advogado paulista Hélio Bicudo. Protocolado na semana passada, o documento tem como base de acusação as “pedaladas fiscais”, manobras orçamentárias usadas para mascarar problemas nas contas do governo.
Embora tenha surpreendido pela quantidade de partidos, o quórum da manifestação desta quinta-feira mostra que falta muito para atingir os 342 votos necessários para abertura do processo na Câmara. A intenção, no entanto, é criar um ambiente favorável para que o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), pelo menos receba o pedido e dê o pontapé inicial ao processo de aceitação do impeachment pelo plenário. No atual mandato de Dilma, foram apresentados 21 pedidos, dos quais nove foram arquivados sumariamente por Cunha e os demais 12 (incluindo o de Bicudo) permanecem em análise.
Um dos peemedebistas presentes no evento, o gaúcho Darcisio Perondi declarou que Cunha “está junto” com a ala do partido favorável ao impeachment, mas que só “vai entrar em campo no momento certo”. Jarbas Vasconcellos (PMDB-PE), que chegou a discursar, disse que é “importante que o PMDB tenha consciência que a saída de Dilma é inevitável para dar o exemplo”. O deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) e a filha do ex-deputado Roberto Jefferson, Cristiane Brasil (PTB-RJ), engrossaram o grupo.
Organizador do movimento junto com os líderes do DEM e PSDB, o paranaense Rubens Bueno (PPS) citou que, além do consenso sobre a estratégia para se chegar ao impeachment, os envolvidos passaram a enxergar um pós-Dilma. “É possível um projeto de união nacional em torno de Michel Temer [vice-presidente]”, declarou. Até o momento, o entrave para um acordo entre peemedebistas e oposição era o apoio a Temer.
Por um fio
Uma ala do PSDB, liderada pelo senador Aécio Neves (MG), defendia o afastamento tanto de Dilma quanto de Temer, o que abriria margem para a realização de novas eleições. O único senador a participar do movimento dos deputados, contudo, foi Ronaldo Caiado (DEM-GO). Aécio disse que não compareceu para não parecer que se tratava de um movimento do PSDB, mas sim da sociedade.
Apesar disso, Aécio disse que o governo Dilma “está por um fio” com o agravamento da crise econômica e após a perda do grau de investimento pela agência Standard & Poor’s. “Temos hoje uma presidente sitiada e um governo que não governa mais”, afirmou.
Dilma tenta atrair o PSC
A presidente Dilma Rousseff está tentando reintegrar o PSC à combalida base de seu governo no Congresso Nacional. Dilma reuniu-se com o presidente da legenda, Pastor Everaldo, na quarta-feira (9), no Palácio do Planalto, para “quebrar o gelo”, segundo relatos de participantes do encontro. O partido chegou a dar sustentação ao primeiro governo Dilma. Pastor Everaldo, contudo, foi adversário de Dilma na disputa pela Presidência da República no ano passado e estava mais ligado a outro candidato, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) – a quem apoiou no segundo turno.
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