Sem censura
O ministro do STF Celso de Mello derrubou na semana passada a liminar que impedia a Gazeta do Povo de noticiar a suspeita de compra de votos. A determinação do TSE para o TRE julgar de novo o caso, por exemplo, é de setembro e não podia ser noticiada pelo jornal.
O Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR) terá que reexaminar uma ação envolvendo a suspeita de compra de votos que teve a decisão definitiva revogada por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em Brasília. A Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE) foi proposta em novembro de 2012 pelo diretório municipal do PPS de Campo Mourão (no Centro-Oeste do Paraná) contra a atual prefeita da cidade, Regina Dubay (PR), por abuso de poder econômico na eleição daquele ano.
A decisão do TSE foi publicada em setembro deste ano, mas a Gazeta do Povo estava impedida pela Justiça de noticiar o fato em função de uma liminar de primeira instância, confirmada pelo Tribunal de Justiça. Mas a liminar foi revertida na semana passada pelo ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF). A censura judicial partiu de Regina Dubay , uma das investigadas pela Justiça Eleitoral.
Passagens rodoviárias
Entre julho a outubro de 2012, a prefeitura de Campo Mourão empenhou R$ 482 mil para o pagamento de passagens rodoviárias do trecho entre Campo Mourão e Curitiba e no sentido inverso. O valor representou 72,5% do total de passagens adquiridas para o período de um ano. As passagens fariam parte de dois lotes adquiridos pelo município em licitações no valor total de R$ 665 mil. Regina Dubay na época era vice-prefeita e candidata da situação à prefeitura.
Passagens expedidas chegaram a ser ofertadas em anúncios classificados na internet. Onze bilhetes chegaram a ser entregues para a reportagem da Gazeta do Povo. As passagens seriam válidas por um ano e a forma de pagamento constava como "requisição". O material recebido pelo jornal foi repassado oficialmente à Justiça.
Um mês após o resultado das eleições municipais, o PPS ingressou na Justiça pedindo a cassação da prefeita eleita por abuso do poder econômico, alegando que a distribuição teve o objetivo de compra de votos. Em abril de 2013, o juiz Edson Jacobucci Rueda Junior, da 31.ª Zona Eleitoral, entendeu que não havia provas de que Regina teria relação direta com o fato e considerou que não ficou provado que ela tenha obtido votos em troca das passagens. O PPS recorreu ao TRE-PR, mas teve o recurso negado. A decisão de 1.ª instância foi confirmada pelo TRE, mesmo sem o julgamento do mérito. A Justiça Eleitoral paranaense decidiu não acolher o pedido do PPS sob a justificativa de que o recurso apresentava inovação (apresentação de fatos não discutidos na instância inicial). O partido recorreu ao TSE.
Em maio de 2014, o ministro do TSE Henrique Neves entendeu que o recurso rejeitado pelo TRE era legítimo e não apresentava qualquer inovação em relação à ação julgada. Neves então cancelou os acórdãos da corte paranaense e determinou o reexame do processo. No despacho, Neves destacou que a decisão do TRE, ao não dar conhecimento ao recurso do PPS, violou o artigo 515 do Código do Processo Civil que trata sobre o direito à defesa.
A defesa da prefeita Regina Dubay entrou com agravo contra a decisão, que foi rejeitado por unanimidade pelos ministros do TSE. Em setembro, o registro do trânsito em julgado foi cancelado e o caso retornou a Curitiba.
De acordo com o advogado Gustavo Guedes, que atua para o PPS, a ação deve ser analisada novamente pelo TRE na primeira quinzena de janeiro. O advogado Guilherme Gonçalves, responsável pela defesa da prefeita Regina Dubay, não foi localizado pela reportagem. O TRE está em recesso até 6 de janeiro e não foi possível encontrar ninguém para comentar o assunto.
Hugo Motta troca apoio por poder e cargos na corrida pela presidência da Câmara
Eduardo Bolsonaro diz que Trump fará STF ficar “menos confortável para perseguições”
MST reclama de lentidão de Lula por mais assentamentos. E, veja só, ministro dá razão
Inflação e queda do poder de compra custaram eleição dos democratas e também racham o PT