A disputa entre o senador Alvaro Dias e o prefeito Beto Richa pela candidatura do PSDB ao governo do Paraná reedita uma dificuldade recorrente de união dos tucanos. O partido teve problemas para consolidar candidatos nas duas últimas eleições presidenciais e para definir alianças na campanha estadual de 2006. Em todos os casos saiu prejudicado.
Em 2002, após oito anos de gestão Fernando Henrique Cardoso, a legenda dividiu-se entre o cearense Tasso Jereissati e o paulista José Serra. O conflito, aliado à falta de planejamento para a sucessão, ajudaram a minar a campanha de Serra, que teve dificuldades de chegar ao segundo turno. No primeiro, ele fez apenas metade dos 39 milhões de votos de Lula e abriu só cinco pontos porcentuais de vantagem sobre o terceiro colocado, Anthony Garotinho (então no PSB) 23% a 18%.
"A verdade é que o PSDB não se preparou como deveria para permanecer no poder, erro que aparentemente não está sendo cometido agora pelo PT", diz o cientista político Bruno Reis, da Universidade Federal de Minas Gerais. Segundo ele, o partido sofre por se manter amarrado às próprias raízes. "A origem do PSDB vem de uma elite acadêmica dos anos 1980, que mantém até hoje o discurso e o jeito de atuar daquela época. No fundo, o partido nunca deixou de ser uma turma, uma patota, sempre com um ar meio amador."
Quatro anos depois do primeiro revés, a legenda não conseguiu aproveitar o desgaste político provocado pelo escândalo do mensalão para dar o troco nos petistas. Recém-eleito prefeito de São Paulo, Serra declinou de uma nova candidatura em 2006, que caiu no colo do então governador paulista Geraldo Alckmin. Sem carisma e ofuscado por Serra e pelo governador de Minas Gerais, Aécio Neves, Alckmin ainda conseguiu levar a disputa para o segundo turno, mas ficou bem longe de superar Lula.
Crise paranaense
No Paraná, o mais famoso racha tucano dividiu o partido em torno de uma aliança com o PMDB do governador Roberto Requião, em 2006. Em convenção estadual realizada em junho daquele ano, o grupo liderado pelo ex-presidente da Assembleia Legislativa Hermas Brandão conseguiu oficializar a aliança por uma diferença de cinco votos (205 a 200). Brandão seria o candidato a vice na chapa e acabou sendo substituído às pressas por Orlando Pessuti, que já ocupava a vaga.
O ex-deputado estadual chegou a fazer campanha pelo interior como candidato, mas a decisão da convenção foi revertida no Tribunal Regional Eleitoral do Paraná por ações movidas pelo próprio diretório estadual do PSDB, que já era presidido pelo deputado estadual Valdir Rossoni. Além disso, a decisão contrária à coligação com o PMDB tinha o apoio da executiva nacional tucana. Na época, o acordo favorecia Alvaro, que concorria à reeleição no Senado sem adversários conhecidos.
O trato, no entanto, era visto com receio por Alckmin, já que Requião garantiu que ficaria neutro na disputa presidencial, mas vinha de um histórico de apoio a Lula. E na reta final do segundo turno, Requião realmente apoiou o petista. O rival do governador, senador Osmar Dias (PDT), ficou do lado de Alckmin.
"Fizemos o que tinha de ser feito, privilegiamos o plano nacional. Tanto que o Alckmin venceu o Lula no Paraná", lembra o deputado federal Luiz Carlos Hauly, um dos que lideraram o grupo contrário à aliança com o PMDB. Para ele, as disputas internas não podem ser encaradas como um problema. "Ter muitos nomes dispostos a se candidatar significa que construímos lideranças."
Hauly também defende que o partido acerta ao privilegiar os planos nacionais. "Já estamos consolidados em torno do Serra. No Paraná, passamos por um exercício de diplomacia política entre Alvaro e Beto, o que é natural."
Também deputado federal e possível candidato ao Senado, Gustavo Fruet segue a linha do colega e afirma que a receita para não criar fissuras na disputa paranaense é focar na campanha presidencial. "O importante é manter a unidade do projeto nacional, que é o objetivo comum do partido. Nesse momento de articulação de candidaturas as tensões são normais, mas essa dissidência tem que acabar aqui."
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