Atualizado em 28/11/06, às 18h37min
O filho do presidente Lula, Fábio Luiz Lula da Silva, tem uma empresa chamada Gamecorp que mantém programas de televisão sobre games e conteúdo para celular. Até aí nada de anormal ou questionável, não fosse o fato da empresa receber verbas publicitárias de estatais do governo federal. A denúncia foi feita nesta terça-feira pelo "Jornal Folha de São Paulo", que traz partes do contrato entre o Grupo Bandeirantes de Comunicação e a Gamecorp, que compartilham o faturamento das verbas.
A Bandeirantes arrendou espaço da PlayTV (antiga Rede 21) para a empresa do filho do presidente. Segundo a reportagem da Folha, "estão listados entre os maiores anunciantes, além da Secretaria de Administração da Presidência da República, o Ministério da Saúde, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal, empresas da área de telecomunicações (concessionárias), indústrias de bebidas e alimentos, entre outros".
No contrato, mostrado pela Folha, há a previsão de que os sócios podem vender propaganda a órgãos públicos e privados e determina a divisão em partes iguais de faturamento mínimo estimado em R$ 5,2 milhões neste ano, e em R$ 12,6 milhões em 2007.
O Grupo Bandeirantes move ação de indenização contra a revista Veja que divulgou a informação da associação entre o grupo e a Gamecorp. A Rede 21 nega que tenha havido arrendamento do canal para a empresa do filho do presidente Lula. No entanto, pediu que houvesse segredo em torno do contrato entre as duas partes. O juiz Régis Rodrigues Bonvicino, da 1ª Vara Cível do Foro Regional de Pinheiros (SP), negou o pedido e determinou que o contrato fosse público até porque envolve o filho do presidente da República e concessionárias da União (os canais de televisão).
Observatório da Imprensa
Em artigo no site do Observatório da Imprensa, espaço que discute o jornalismo e a mídia, Luiz Antonio Magalhães questiona, não a reportagem mas a forma de exposição da mesma em manchete do jornal Folha de S. Paulo. "Folha adota 'padrão Veja' de jornalismo", é o título do artigo e Magalhães afirma que a matéria "repete o 'padrão Veja' de ataques a Lula e ao PT; faz muito barulho e coloca em evidência fatos corriqueiros, que sequer envolvem atos do presidente".
O jornalista mostra que a própria reportagem da Folha diz que não há nada de irregular nos anúncios oficiais recebidos pela Gamecorp. "O problema todo está no fato de o jornal ter decidido levar o assunto para manchete - a notícia não justifica o destaque - e com título nitidamente negativo para o presidente Lula e seu filho", diz o texto. A própria matéria da Folha mostra que a publicidade oficial da Rede 21 caiu 68% em 2006 em relação a 2005. Ou seja no período em que o filho do presidente teria arrendado espaço, a publicidade oficial caiu.