No dia seguinte ao envio da “lista de Janot” ao relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Edson Fachin, a maior parte dos parlamentares se esforçou para manter um clima de “vida que segue” em Brasília.
A reação já era esperada. Desde a homologação dos 77 acordos de colaboração premiada com executivos e ex-executivos da Odebrecht, no fim de janeiro, políticos têm procurado, publicamente, se afastar do assunto.
A estratégia é tentar evitar o aprofundamento do desgaste, vendendo uma ideia na qual a Lava Jato seria uma “questão do Judiciário e do Ministério Público”, e que, por isso, não perturbaria os trabalhos no Congresso Nacional ou na Esplanada.
Na terça-feira (14), o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, fez 320 pedidos ao ministro Fachin, com base nas delações da Odebrecht. Entre eles, estão solicitações para abertura de 83 inquéritos envolvendo pessoas com foro privilegiado no STF, caso de senadores, deputados federais e ministros de Estado.
Embora os nomes das autoridades citadas não tenham sido divulgados nesta terça-feira (14) – o caso ainda está em sigilo -, já se sabe que a cúpula do Poder Legislativo, e ao menos cinco ministros de Estado do Governo Temer, estão no rol de implicados.
Delação da Odebrecht: entenda o trâmite dos pedidos de inquérito feitos pela PGR
Nesta quarta-feira (15), tanto o presidente do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), quanto o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), aderiram à estratégia da “vida que segue”, a despeito da “delação do fim do mundo”, como foi batizado o pacote de 950 depoimentos dos executivos da Odebrecht.
“Esta Casa vai saber separar: a Justiça vai cuidar da Justiça e a Casa vai cuidar das reformas para destravar o crescimento do país”, afirmou Eunício, em rápida entrevista concedida à imprensa no Senado.
Na Câmara dos Deputados, Maia tinha a mesma estratégia, embora tenha conversado mais calmamente com os jornalistas. “O Judiciário e o Ministério Público estão realizando seu trabalho de forma competente. Cabe ao Congresso Nacional cumprir seu papel. O Brasil precisa de reformas”,disse. “[A Lava Jato] Não vai atrapalhar. Vamos continuar trabalhando”, reforçou Maia.
Ambos são citados em delações parcialmente já “vazadas” à imprensa. O nome da dupla na lista de Janot não trouxe surpresa, portanto. “O inquérito, que é um procedimento preliminar, é importante porque ele vai me dar condição para que eu mostre que o que está citado não é verdadeiro”, disse Maia. “Citação não é sentença”, afirmou Eunício.
O ministro Fachin não tem um prazo para concluir a análise dos pedidos feitos pela PGR, mas o magistrado tem sido até agora célere para assinar despachos da Lava Jato. A expectativa é que a íntegra dos depoimentos – com os nomes de todos os possíveis alvos de inquéritos - ganhe publicidade ainda neste mês de março.