Muitos candidatos a prefeito em todo o Brasil passaram a campanha eleitoral falando de inovação e soluções criativas para os problemas urbanos, mas poucos colocaram a mão na massa de verdade. Qual é o plano de cada um dos candidatos para a sua cidade?
O sistema de transporte público em Curitiba pouco evoluiu nos últimos anos, mas por muito tempo a cidade ficou conhecida mundialmente pelas inovações na área. A principal delas foi a criação das canaletas exclusivas de ônibus, por onde circulam os ônibus expressos e, mais recentemente, o ligeirão. O sistema entrou em operação em setembro de 1974, com duas linhas: uma no eixo Norte (Santa Cândida à Praça Rui Barbosa) e outra no eixo Sul (Capão Raso à Praça 19 de Dezembro).
Quem inaugurou o sistema foi o prefeito Jaime Lerner. Mas o planejamento urbano desenvolvido por ele teve início ainda antes, em 1964, quando o então prefeito Ivo Arzua buscou projetos para preparar a cidade para o crescimento populacional que se esperava. E que realmente ocorreu em 1960, a população de Curitiba era de 361,3 mil; foi para 624,3 mil em 1970, e bateu em 1 milhão de habitantes em 1980.
Curitiba é o que é por causa dos projetos iniciados há 50 anos. O próximo prefeito fará algo para que a capital paranaense seja considerada um modelo mundial em 2062? Se quiser fazer, terá muito trabalho, pois os planos de governo da maioria dos candidatos são rasos e incompletos.
O planejamento estratégico é fundamental não apenas para projetos mais complexos, como um novo sistema de transporte público totalmente inovador, mas também para a área social. As demandas da população já são conhecidas. Como é que os candidatos não preparam um plano para esta área? Vão esperar a posse, para daí ter conhecimento da realidade, para daí iniciarem estudos, para daí preparar uma licitação e finalmente tirar do papel o projeto? Até tudo isso ocorrer o mandato já estará quase no fim. E o próximo capítulo da novela todo mundo conhece: esse governante que não planeja bem suas ações vai concorrer de novo (ou apadrinhar um candidato) e pedir votos com o argumento de que precisa de mais tempo (ele ou o afilhado político) para concluir os projetos iniciados.
Para se fazer um bom planejamento estratégico, a literatura recomenda em primeiro lugar o estudo do ambiente, para se ter conhecimento das oportunidades e ameaças. Em seguida, é preciso olhar para dentro, para saber dos pontos fracos e fortes. Depois, parte-se para a definição das missões e objetivos. Com base nisso, formula-se as estratégias, que considerem a análise externa e interna. Depois disso, implanta-se a estratégia e, por fim, é preciso fazer o controle de indicadores, para saber se os objetivos estão sendo alcançados.
O modelo foi desenhado para a iniciativa privada, mas é totalmente aplicável ao setor público, especialmente nesta fase, em que os candidatos tentam conquistar nosso voto para comandar um município. Ao tomar posse, seria ideal que o político já começasse a fase de implantar a estratégia. As fases anteriores deveriam já estar definidas. Não é preciso sentar na cadeira do gabinete para começar a planejar. É só observar a realidade das ruas, os dados do Censo, do IBGE, do mercado de trabalho, as notas dos alunos no Ideb, os indicadores de saúde, etc. Tudo isso está disponível a qualquer um, assim como os relatórios sobre as contas do município. Não dá para aceitar aquela desculpa de um prefeito que assume e diz que encontrou um rombo nos cofres municipais. O Tribunal de Contas do Paraná tem informações sobre todos os 399 municípios, assim como o Tesouro Nacional. Em Curitiba, o Ippuc tem vários dados. Um deles é a projeção populacional em 2020. Quantos seremos? A projeção é fundamental para a definição de políticas públicas.
Alguns relatórios são mais complexos, mas se o político pretende ser prefeito, acredito que consegue fazer essas pesquisas e, com base nos dados, construir um planejamento. Claro que o improviso e situações de emergência vão aparecer, e é por isso que o gestor deve estar bem informado e fundamentado, para saber como agir e para que lado ir.
Poder
Mas planejar dá trabalho. O que muitos candidatos querem é apenas tirar proveito das benesses do poder. Por isso nem se preocupam em se debruçar sobre seus planos para o desenvolvimento da cidade, do estado, do país. Se puder, evite-os.