Kauanna Batista Ferreira tinha 16 anos quando decidiu criar a Organização de Desenvolvimento do Potencial Humano (ODPH), uma entidade do terceiro setor que trabalha com atividades educacionais para crianças e adolescentes no contraturno escolar. A instituição trabalha com jovens com histórico de exclusão e em situação de vulnerabilidade social desde 2009, dando oportunidades e suporte para que descubram e desenvolvam seus talentos.
Hoje com 24 anos e formada em jornalismo, a presidente da ODPH explica que a entidade desenvolve suas atividades dentro de quatro projetos: Jovens que Inspiram; Adolescentes que Fortalecem; Mães que Semeiam; e Amigos que Iluminam (veja o quadro abaixo). Nada na instituição acontece sem o envolvimento da comunidade. Isso porque, segundo Kauanna, o engajamento é peça-chave para estimular uma cultura de colaboração em torno do projeto.
Conheça os projetos desenvolvidos pela instituição
Todos os dias pessoas da comunidade ajudam a manter o espaço em ordem e a preparar as refeições.
Jovens de 13 a 18 anos atuam como aprendizes sociais ensinando novas habilidades às crianças. Os cursos são criados pelos adolescentes, em colaboração com a equipe da entidade e as crianças.
Maiores de 18 anos desenvolvem e aplicam projetos cocriados com as crianças e a equipe da ODPH.
Colaboradores prestam apoio ao desenvolvimento do espaço e da equipe.
Todos os programas funcionam pautados por práticas pedagógicas de cocriação. “Percebemos o potencial transformador da cocriação. Não se pode tirar a oportunidade de pensarem e crescerem juntos”, afirma Kauanna Ferreira. Atualmente 40 crianças são atendidas por dia, metade delas pela manhã e a outra metade à tarde.
O uso de métodos de cocriação, explica a pedagoga Priscila Santos, ajuda a direcionar as crianças e adolescentes para suas motivações internas. “É preciso fazer a descoberta do que eles desejam. Quando percebem qual é a motivação, apresentamos as propostas de direcionamento”, afirma ela. “Do movimento interno passamos para o desenvolvimento de ações, a partir do debate de ideias para que possam criar elementos ou ferramentas de aprendizado, com criatividade e empenho”.
Voluntariado
As atividades da ODPH são praticamente todas realizadas com base no voluntariado. Guilherme Cândido trabalha no departamento financeiro-administrativo de uma empresa de contabilidade e, nas horas vagas, é um dos participantes do projeto Amigos que Iluminam. Além de dar apoio no planejamento financeiro da instituição, ele dá mentoria para os jovens, fazendo implementação de hortas mantidas pelas crianças. “Participo desde 2014 porque vejo propósito no que fazem. A energia é contagiante”, diz ele. “Percebo o quanto esse lugar é importante para as crianças, mas para ampliar o impacto precisamos conseguir mais recursos.”
Luciana da Silva Bertoso, mestranda em Design na UFPR, trabalha o design para resolução de problemas no Jovens que Inspiram. “Junto minha experiência e desenvolvo com eles o ‘Criative-se’, um projeto que une criatividade e colaboração para, através da vivência deles, chegar a soluções inovadoras”, explica ela.
Não há idade para ser voluntário. Lucas Benites, estudante do ensino médio técnico da PUC, desenvolve com crianças de seis a 11 anos uma oficina de animação digital. “Acho que a arte é uma forma de mobilização e transformação da realidade.” Para fundamentar sua prática, Ele usa conceitos derivados da pedagogia libertária – corrente que defende não existir hierarquia entre professores e alunos, todos estando sujeitos ao aprendizado em conjunto. “Eu falo para eles: ‘vocês são meus professores’. E eles trazem coisas de casa para me ensinar.”
Missão local
A história da família de Kauanna Ferreira está intimamente ligada à da Vila Torres - a avó dela, dona Sebastiana Alves Batista, foi uma das primeiras moradoras da região. A mãe, Valdimê Alves Batista Ferreira, sempre trabalhou como comerciante na comunidade. E a ideia de Kauannna, em criar a ODPH surgiu a partir de uma provocação feita por Cláudio Santos, um ex-morador da Vila Torres, amigo da família de Kauanna. “O Cláudio Santos dizia que queria mobilizar mais os jovens, fazer a comunidade se envolver na educação deles. Na época eu estava mais preocupada em fazer o vestibular, mas eu gostei da ideia e, com a ajuda de minha mãe, começamos a desenvolver a instituição.”
Segundo Kauanna, até pouco tempo o trabalho era sempre emergencial, mas, foi a partir do ano passado que a situação mudou com a contratação de uma uma pedagoga, com recursos do primeiro projeto da ODPH aprovado na Fundação de Ação Social (FAS), para o prazo de 12 meses. A entidade já contava com uma educadora social, cuja remuneração era até ano passado custeada pela mãe de Kauanna e, atualmente, conta com a colaboração de alguns “padrinhos” da entidade. “Com a chegada da pedagoga Priscila Santos passamos a nos estruturar. Ela trouxe uma visão nova e agora estamos registrando o resultado de nossas atividades para tentar conseguir o apoio de empresas, para continuar com os projetos”, afirma ela. “A comunidade tem demanda, não conseguimos a atender a todos, há fila de espera. Nosso sonho é poder ampliar o espaço e atender mais crianças”.
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