Brasília (AE) No começo, era uma surpreendente imagem de um funcionário dos Correios embolsando R$ 3 mil de propina. Exatos três meses depois, completados hoje, a chamada "crise política brasileira" já destruiu um partido político, devastou biografias que pareciam exemplares, encurralou o governo, cortou carreiras nas estatais e, em importantes cargos do Executivo, paralisou o Congresso que só se moveu para presentear o presidente da República com um salário mínimo inviável e, nos últimos dias, subiu alguns metros da rampa do Planalto.
Passo a passo, ela se alimentou de denúncias que pareciam não ter mais fim. Primeiro as de Roberto Jefferson contra José Dirceu e o PT. Depois as de Marcos Valério contra Jefferson. Em seguida, as do publicitário Duda Mendonça, que deveriam ser contra Valério, mas, na verdade, deixaram o PT em pedaços. E na última sexta-feira, por fim, a tardia confissão do ex-deputado Valdemar Costa Neto, do PL, que tentou arrumar sua biografia complicando as de Dirceu e do presidente Lula. Nessa escalada de confissões, rolaram cerca de 40 cabeças nas estatais e em cargos partidários e uma penca de envolvidos perdeu-se em desculpas que duraram horas entre eles os deputados José Genoíno, João Paulo Cunha, Sílvio Pereira, o próprio Marcos Valério.
A última semana, 13.ª da crise, foi a pior para o PT sua imagem mais forte foi a de deputados petistas chorando no plenário da Câmara, diante do telão onde Duda Mendonça contava o cambalacho entre ele, o PT, Valério e uma conta secreta nas ilhas Cayman. Nessa semana, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva promoveu também uma cena rara na política do país: um presidente pedir (mais ou menos) desculpas ao povo.
Apelo
A situação no PT é tão grave que o presidente do partido, Tarso Genro, teme uma debandada e faz um apelo para que ninguém saia no momento atual. "Temos de reerguer o partido. Ninguém deve sair. Providências serão tomadas", assegura Tarso, quando cobrado a respeito de punição aos que se envolveram nas irregularidades ou receberam dinheiro das contas de Marcos Valério Fernandes de Souza. O problema é que o PT é dominado por uma junção de tendências de centro, aglutinadas no que se denomina Campo Majoritário. A influência do ex-ministro José Dirceu sobre esse setor ainda é enorme.
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