Uma história que representa bem a maneira como o tema da exploração sexual de crianças e adolescentes é tratado nas fronteiras do Norte brasileiro ocorreu em 16 de julho deste ano em Costa Marques, cidadezinha de Rondônia a 300 quilômetros da capital, Porto Velho.
O dono de uma madeireira foi visitado por militares que participavam da Operação Timbó 2, um esforço conjunto das Forças Armadas que mobilizou 7 mil soldados na região, e foi flagrado cortando ilegalmente árvores.
Para se livrar do flagrante, ofereceu aos militares os serviços sexuais de uma boliviana de 12 anos, que já vinha sendo explorada entre os operários. O Exército reprimiu com dureza o crime ambiental: apreendeu a madeira, fechou a serraria e autuou o proprietário. Mas nada foi feito a respeito da exploração sexual da menina.
Dias antes, no lançamento da operação, o chefe do Estado-Maior do Comando Combinado da Amazônia, general-de-brigada Abelardo Prisco de Souza Júnior, anunciara: "Estamos amparados legalmente para reprimir qualquer ato ilícito que venha a ocorrer durante a operação e estamos prontos para fazê-lo".
Seus comandados, porém, parecem não ter entendido a mensagem. Mas assim é o Norte do Brasil: fronteiras cada vez mais vigiadas pela força militar, atenção total ao tráfico de drogas, aos garimpos ilegais e ao corte irregular de árvores. Nada mais natural, sendo a Amazônia a grande jóia mais ou menos intacta do território nacional. Nada mais desumano.
Nunca desde a demarcação definitiva de suas fronteiras, há quase um século pelo Barão do Rio Branco, a Amazônia esteve tão vigiada como agora. A ameaça de um inimigo invisível, que estaria pondo em risco a soberania nacional, fez dobrar na última década o efetivo militar na região, passando para 25 mil os homens na vizinhança com seis países.
Mas tamanho cuidado com a integralidade territorial do país não se estende necessariamente para a população regional. A fronteira Norte do Brasil é a mais porosa e vulnerável ao tráfico e livre circulação de pessoas, entre elas crianças e adolescentes brasileiras usadas pelas redes de exploração sexual em outros países.
Nessas áreas, a moral é tão volátil quanto o controle oficial do estado. Por elas passam todos os meses dezenas, centenas, talvez milhares de brasileiras rumo a prostíbulos nos países vizinhos. Seis cidades (Cáceres, Guajará-Mirim, Brasiléia, Tabatinga, Pacaraima e Oiapoque), localizadas em diferentes estados da fronteira com seis países, revelam a dimensão do problema, que não é pequeno.
As rotas da exploração conduzem a dois mundo um tanto diferentes nas oportunidades, mas igualmente perigosos. Venezuela, Suriname e Guiana Francesa são, na verdade, uma ponte para a Europa, enquanto os caminhos rumo à Bolívia levam a uma vida de privações e ganhos que mal dão para a subsistência.
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