| Foto: Ilustração: Rodrigo Montanari

Nos EUA

"Obama quer ter repercussão dentro de casa"

Não é apenas a atenção dos brasileiros que o presidente Barack Obama quer fisgar neste fim de semana. Norte-americano naturalizado brasileiro, o cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília, explica que a equipe de comunicação do presidente norte-americano tem trabalhado metodicamente para transformar a viagem em um evento midiático de sucesso. "Obama quer ter repercussão dentro de casa."

A ideia é captar imagens que ilustrem popularidade. "Os americanos possuem um certo fascínio pelo Rio de Janeiro e até os dias da viagem foram escolhidos a dedo. É no fim de semana que mais se assiste televisão e, além disso, a visita será tema dos programas de debate político, que costumam passar nos canais de tevês a cabo na segunda e terça-feira."

Outro objetivo é mostrar o empenho do presidente na busca de soluções na recuperação da crise econômica. Desde o ano passado, o foco dos Estados Unidos tem sido desvalorizar o dólar no mercado internacional e ampliar as exportações para aquecer a indústria interna. Ruim para o empresariado brasileiro, a medida é vista como tábua de salvação para os norte-americanos, que desde abril de 2009 enfrentam uma das piores taxas de desemprego da história recente – no período, o índice ficou abaixo de 9% apenas no mês passado. (AG)

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Caixa Zero

Mudança de paradigma

O norte-americano Ba­­­rack Obama chega hoje ao Brasil para uma visita oficial. Será a primeira vez que um presidente dos Estados Unidos vem ao Brasil antes de um colega brasileiro ir até Washington pedir a bênção. Mudança de paradigma interessante. Serve de pontapé inicial para uma análise de como os políticos são hábeis em mudar o foco quando se veem ameaçados.

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Por segurança, comício de Obama no Rio é cancelado

Por razões de segurança, a organização da visita ao Brasil do presidente dos EUA, Barack Obama, cancelou ontem o discurso aberto ao público que o norte-americano faria amanhã à tarde na Cinelância, centro do Rio de Janeiro. Agora, Obama fará um pronunciamento apenas para convidados dentro do Theatro Municipal, que também fica na Cinelândia.

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Nos dois dias de viagem ao Brasil, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, deixará muitas palavras amigáveis e poucos acordos formais. Em troca, tentará incluir na bagagem o retrato de estadista internacional, um remédio para recuperar a popularidade dentro de casa. Mesmo distante de ações concretas, o simbolismo deve satisfazer tanto anfitriões como visitantes.

"O que realmente importa não é o que vai ou não ser assinado, o que é algo banal, mas o próprio fato de existir a visita", avalia o sociólogo e doutor em Geografia Humana Demétrio Magnoli. Segundo ele, é preciso contextualizar o reposicionamento recente do Brasil no cenário político internacional para entender a importância da viagem, que começa hoje por Brasília e segue amanhã no Rio de Janeiro (veja a agenda de Obama no país abaixo). A visita marca uma diferença de postura e de expectativa dos Estados Unidos em relação ao governo Dilma Rousseff, na comparação com a gestão de Lula.

Desde a eleição de Obama, em novembro de 2008, o Itamaraty tenta trazê-lo ao Brasil. Havia o interesse de Lula de aproximar-se do primeiro negro a comandar a Casa Branca. Uma série de ações internacionais do brasileiro, entretanto, colaborou para que a visita de Obama fosse adiada pelos Estados Unidos.

Obama chegou ao poder na fase de acirramento da crise econômica mundial, provocada pelo descontrole da especulação financeira – especialmente em Wall Street. Na mesma época, ganhou força o discurso de defesa da intervenção do Estado na economia. Lula encampou a tese e as relações exteriores do Brasil passaram a ter um forte componente ideológico de esquerda e de desalinhamento com o governo norte-americano.

Antes, porém, o ex-presidente brasileiro manteve um relacionamento amistoso com o republicano George W. Bush, responsável por uma das administrações mais à direita da história norte-americana. "Com Lula no poder, os Estados Unidos trataram de fazer da ‘não visita’ de Obama [ao Brasil] um ato simbólico", diz Magnoli. Ele enumera como estopins da dissidência a atuação brasileira a favor do Irã, o suposto descompromisso de Lula com os direitos humanos (em particular, com os presos políticos de Cuba) e a atuação favorável ao presidente deposto Manuel Zelaya, de Honduras.

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O panorama mudou a partir da eleição de Dilma. "Desde o discurso da vitória, ela dá sinais de mudanças na relação com o Irã e de que eliminaria o viés antiamericano da política externa", aponta o sociólogo. Como "prêmio", Obama deve enaltecer a presidente como símbolo da democracia, assim como os méritos do governo brasileiro no combate à desigualdade social.

O historiador Marco Antonio Villa, da Universidade Federal de São Carlos (SP), ressalta que esta será a primeira vez que um presidente norte-americano fará elogios nesses termos ao Brasil. "Somos uma democracia muito jovem, cheia de problemas e qualidades. E esse aval é muito importante." Ao todo, outros nove presidentes norte-americanos visitaram o Brasil – o primeiro foi Herbert Hoover, em dezembro de 1928, e o último, George W. Bush, em março de 2007.

Em tempos de crise no mundo árabe, Villa prevê que a mensagem de Obama será destinada a países "problemáticos" para a Casa Branca na América do Sul e vistos por ela como maus exemplos democráticos, como Venezuela, Equador e Bolívia. "Não será necessariamente um discurso com um tom mundial, Obama quer dar um recado para os demais países do continente", opina o historiador.