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Aos 53 anos, o deputado estadual Tadeu Veneri (PT) ainda tem muito fôlego para brigar com os políticos paranaenses (embora seja um deles) e contra algumas práticas existentes na política do estado. Voz dissonante na Assembléia Legislativa, o petista incomoda muitos parlamentares, seja da situação ou da oposição. "Tenho uma base diferenciada dos demais 53 deputados. Penso de forma muito diferente", diz o parlamentar, que foi o único a recusar os cerca de R$ 19 mil pelas seis sessões extraordinárias neste período de convocação. "Muita gente me pediu que aceitasse e doasse. Mas temos de entender que há um limite tênue entre o ético e o conveniente, e não pode haver misturas", afirma.

Crítico até em relação à própria bancada petista, Veneri afirma que muitos deputados consideram o pagamento pela convocação extra a chegada antecipada do "coelhinho da Páscoa". E manda um recado ao governador Roberto Requião (PMDB): vai apresentar novamente, já em fevereiro, o projeto de lei que proíbe o nepotismo no Paraná. "Muitos dos novos parlamentares que vão assumir são contra o emprego de parentes no serviço público", garante.

Como é ser uma voz dissonante na Assembléia Legislativa do Paraná?

A nossa Assembléia é um caos, ainda estamos na década de 50. Somos governados pelos mortos e pelas práticas dos mortos. Mas há outros deputados com posições independentes e claras. O que temos de fazer na Casa é repercutir o que a sociedade pensa. O parlamentar pode e de ve ter posições isoladas, mas não isoladas dos setores da sociedade.

Por que a Assembléia Legislativa sempre aprova as mensagens do Poder Executivo, como se não fosse independente? Essa convocação extra foi uma prova disso. O próprio presidente da Casa, Hermas Brandão (PSDB), admitiu que a fez a pedido do governador.

É um processo que não é democrático. O Legislativo, seja nos municípios, nos estados ou no país, é, via de regra, submetido ao Executivo. O governo tem a maioria ou a compõe e determina a pauta. A Assembléia não é diferente da Câmara Municipal de Curitiba, onde fui vereador por duas vezes. Sem dúvida, a maior parte dos projetos são de interesse do Executivo.

Foi necessária essa convocação extraordinária?

Não. Não havia projeto relevante para convocação nem urgência. Os cargos para as penitenciárias, por exemplo, poderiam esperar, pois a maioria das penitenciárias sequer estão prontas. Há um descompasso muito grande entre a necessidade real e a aparente. Houve pedido de criação de cargos que, segundo o próprio líder do governo, não se sabia nem para quê, nem para quem e nem para quando.

O presidente Hermas Brandão afirmou que o senhor não quis o dinheiro das sessões, mas aprovou o regimento interno, que inclui e permite o pagamento.

O presidente só se esqueceu de dizer que, há dois anos e meio, quando foi votado o regimento, apresentei uma emenda para que as sessões extras não fossem pagas, assim como as convocações. Se ele procurar isso, que está registrado, vai encontrar. Só que fui derrotado pela maioria.

O senhor se relaciona bem com o demais deputados, já que vai tanto contra o que eles pensam e pregam?

Há generosidade da maioria dos deputados comigo. Há o respeito, acima de tudo. Nunca parti para debates pessoais. Tenho uma base diferenciada da dos demais 53 deputados. Estou na política para ser crítico e fiscalizar. Mas também não sou patrulha.

O senhor discorda até dos deputados do seu partido, o PT. Nunca quiseram tirá-lo do PT, nem o senhor quis sair?

A minha caminhada no PT é muito boa. Sempre trabalhei com a base, a militância. Sempre cumpri todas as tarefas no partido, desde de colar cartaz em muro e distribuir panfleto. Fui diretor sindical. Mas nunca me preocupei com cargos. E nunca fui contraditório ao estatuto do partido. Por tudo isso, nunca pensei em sair nem quiseram que eu saísse.

Como o senhor analisa o PT hoje?

O PT passou por uma crise de valores éticos e morais e houve seqüelas. A população não vê o PT como antes. E tudo isso começou em 1995, com a eleição do José Dirceu para a presidência do partido. Ali, o PT ficou mais pragmático do que programático. Priorizou o Legislativo e o Executivo e abandonou a educação da massa, da militância.

E o PT paranaense, está em que rumo?

Há excelentes quadros, mas faltam projetos, como faltou para Curitiba e para o governo do estado nas últimas disputas. O projeto do PT para Curitiba, por exemplo, é genérico, diluído. Para vencer bem, é preciso criar conflitos com alguns segmentos da sociedade.

O seu discurso é bem de esquerda. O senhor considera que há esquerda e direita no Brasil hoje? E acha que o governador Requião é de esquerda, como ele diz?

No parlamento há uma conotação difícil de esquerda e direita. No país, existe. É só vermos os proprietários de terras contra os movimentos sociais e os que defendem o grande capital contra os que defendem os trabalhadores. Mas o sentido de esquerda tem de ser exercitado no dia-a-dia. Sobre o Requião, ele tem componentes de esquerda. Mas ele não tem, por exemplo, uma relação generosa com os que não compartilham com os pensamentos dele. E isso não é ser de esquerda.

O senhor vai reapresentar o projeto de lei contra o nepotismo no Paraná?

Vou, ainda em fevereiro, com os novos deputados. Muitos já se manifestaram contra a prática nepotista. Mas quero que todos saibam que não quis fustigar ninguém com essa proposta, seria medíocre demais fazer um projeto para uma pessoa só.

O senhor vai apresentar a proposta como foi feita?

Vou apresentar como veio do governo, proibindo o nepotismo cruzado, mesmo discordando disso. Não tem sentido, pois muitas vezes você é parente de um político, mas não está se beneficiando por causa dele. Mas se essa foi a grande desculpa do governo e da base governista para aprovar, não vamos deixar brechas dessa vez. O que não pode é haver um projeto com porcentagens, institucionalizando o nepotismo. Aí, é melhor nem fazer.

Na época da apresentação do projeto, o governador Requião disse que a sua proposta era "venéria", fazendo uma brincadeira com o seu sobrenome. O que pensa disso?

Essa não é uma relação republicana. Não me dou ao direito de fazer brincadeiras com o governador nem que ele as faça comigo. Ele perdeu a consciência do cargo que tem. E o episódio foi constrangedor para o Requião, por isso nem me incomodo. Ele disse isso após receber a maior vaia que o teatro Guaíra já teria visto, quando estava ao lado do presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Aí, ele perdeu o controle.

Qual o objetivo futuro do senhor na política?

Trabalho com o que vem. Agora, se houver a oportunidade, teria muito orgulho de representar Curitiba e disputar a prefeitura. Se houver a chance, vou tentar. Mas nada é feito com antecipação. Acho que, no Legislativo, o prazo para um político é de dois mandatos. E depois partir para outra. Mais do que isso passa a ser repetitivo e sem inovações.

Então, os próximos quatro anos são os seus últimos como deputado estadual?

É bem possível.

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