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"É claro que onde o homem coloca a mão há possibilidade de desvirtuamento."

Marco Aurélio Mello, presidente do TSE, sobre a possibilidade de fraude nas urnas eletrônicas de Alagoas.

A eleição na Câmara dos Deputados está agitada. Dois candidatos governistas e um de oposição disputam a tapa os votos dos outros 510 deputados. Ninguém mais sabe arriscar com alguma precisão o resultado da votação. Há impressão de que vai a segundo turno, mas não se sabe entre quais candidatos. E muito menos quem leva a melhor na segunda votação. Arlindo Chinaglia, que era o favorito, vê a situação apertar dia a dia para seu lado. Aldo Rebelo era seu único problema. Agora, ganhou a companhia de Gustavo Fruet.

Mas, vejamos outro cenário. Na mesma data da eleição na Câmara dos Deputados, teremos a eleição para a presidência da Assembléia Legislativa. No entanto, por aqui, não há disputa. Não há dúvida. Não há segundo turno. Os deputados estaduais do Paraná decidiram ir de candidatura única. Nelson Justus (foto), do PFL, será eleito sem contestações ou percalços. Se duvidar, acabará fazendo unanimidade.

As unanimidades são uma constante em nossas terras. Quando o povo é chamado a votar, normalmente há resultados apertados. O embate de Roberto Requião e Osmar Dias teve diferença de só 10 mil votos. Taniguchi ganhou de Vanhoni por menos de 1% em 2000. Requião, em 2002, virou a eleição no segundo turno. Alvaro Dias sofreu para manter a vantagem sobre Gleisi Hoffmann.

Quando as eleições são de colegiado, porém, a coisa muda completamente de figura. Foi por unanimidade, por exemplo, que Hermas Brandão ganhou o cargo de conselheiro do Tribunal de Contas – que nem sabe, afinal, se quer ocupar. A candidatura de Justus, que já foi presidente antes de Hermas, segue em caminho parecido. A impressão que se tem é de que as combinações de bastidores por aqui são muito mais eficientes do que as de Brasília. Ou talvez a explicação seja um pouco diferente. Quando todos querem a mesma coisa, não há briga. Nem há disputa quando todos seguem o mesmo líder. Parece, na verdade, que a diversidade anda em baixa no nosso Legislativo. Nossos 54 deputados andam se comportando de modo muito parecido uns com os outros. Parecido até demais.

Radar

Urnas 1 – A suspeita de fraude nas urnas de Alagoas chegou à mídia de São Paulo. A revista Veja publicou matéria sobre o assunto no fim de semana, seguida por O Estado de São Paulo. O presidente do TSE, ministro Marco Aurélio Mello, já fala agora em chamar a Unicamp para fazer um teste no sistema eletrônico brasileiro de votação. Está mais do que na hora.

Urnas 2 – O episódio de Alagoas começou quando o resultado das urnas se mostrou muito diferente do que as pesquisas apontavam. O derrotado, João Lyra, pôs-se a fazer barulho. Contratou uma equipe para estudar o caso. Constatou-se que 2,5% dos arquivos de log das urnas apresentavam problemas. Um segundo estudo, do professor Clóvis Fernandes, do ITA, mostrou que os erros atingiam 35% das urnas. Em, 7%, havia erros graves.

Urnas 3 – Os arquivos de log – que são uma espécie de registro do que aconteceu na urna – apresentavam os mais variados tipos de distorção. Algumas urnas apenas não haviam realizado o auto-teste. Outras mostravam urnas mudando de número de série ou de município. Outras misturavam arquivos de log com arquivos de resultado. Fernandes disse que não havia como garantir que isso não havia influenciado o resultado das eleições.

Mídia – O espaço e os elogios que o deputado paranaense Gustavo Fruet ganhou nesse fim de semana na mídia nacional o transformaram na estrela do momento da política nacional. Num momento de dúvidas sobre os políticos e sobre o parlamento, Fruet surgiu como uma espécie de paladino da moral. Deve haver gente da província roendo as unhas de inveja.

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