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O procurador federal Carlos Fernando dos Santos Lima afirmou que uso político das investigações da Operação Lava-Jato pode atrapalhar os trabalhos da Força Tarefa. Em entrevista exclusiva ao GLOBO, ele afirmou que já há provas de que o esquema de corrupção existe fora da Petrobras, em outras áreas da administração publica.

O país passa por um forte processo de polarização política. E a Lava-Jato tem sido usada por ambos os lados como moeda de acusação. Isso atrapalha o trabalho?

Toda a politização é negativa. Porque ela cria do lado da defesa um argumento que é falso: que é atribuir posições partidárias e políticas aos investigadores. Isso é falso. Repito a fala do (procurador geral da República) doutor Rodrigo Janot: pau que bate em Chico, bate em Francisco. Para nós, não faz diferença. E em um segundo aspecto, existem aquelas pessoas que querem usar de fatos ainda em investigação para tirar conclusões políticas e partidárias a favor da sua corrente. O que também não está certo

E como isso prejudica o trabalho?

Nos traz uma dificuldade de atuação. Você perde o foco do que é importante. A população perde o foco principalmente. Qualquer entendimento equivocado pode gerar entendimento do Tribunal Superior que nós estamos agindo assim, quando nós não agimos dessa forma.

Um dos argumentos de grupos mais radicais é que as investigações não olharam o que aconteceu antes da entrada do PT no governo...

O próprio depoimento do Barusco foi bastante elucidativo nesta questão. Quando ele fala que vinha desde 1997 em um projeto pessoa de corrupção. E que depois de 2003, esse protesto se tornou institucionalizado. Nós não estamos falando que é esse ou aquele partido que faz isso. Até acredito que a engrenagem independe dos partidos no poder. Mas, depois de 12 anos de um partido no poder, é natural que os fatos que na maior parte está na esfera federal, se refira a ao atual governo. Também tem fatos que já são prescritos de governos anteriores. E eu não devo gastar dinheiro e nem posso (por força de lei) abrir uma investigação.

As delações implicam muitos atores políticos...

Na delação se fala muito. É muito perigoso quando uma fala dessa se tornar a importância de uma notícia. E com a notícia, se tem conclusões fáticas. Quando acontece essas falas, nós chamamos novamente (o delator) e perguntamos a eles quais são os dados objetivos que levaram a ele a chegar a tal afirmativa. Se for só um achismo, perde qualquer valor.

Temos dois executivos de uma grande construtora em processo de colaboração. O que esses novos atores trazem ao processo?

Trazem novos esquemas ocorrendo em novos órgãos. Eles ampliam o espectro. Queremos mostrar que esse é um esquema que transcede a Petrobras. Quando começou era na Diretoria Abastecimento, depois foi para de Serviços, depois Comunicação e Área Internacional. Tudo na Petrobras. As pessoas podem até pensar: ah, isso é um problema da Petrobras. Não, Não é só da Petrobras. É um problema sistêmico. E esses empresários podem nos ajudar trazendo dados de outros lugares e carteis existentes.

E já estão trazendo?

Com o acordo do Eduardo Leite e do Daltan Avanccini (executivos da Galvão Engenharia) já temos indicativos claros, ou melhor, provas que existiam esquema de corrupção em outras áreas. E estamos iniciando as investigações do esquema fora da Petrobras.

Pela primeira vez vocês denunciaram um dirigente de um partido por doações legais. Há muita contestação sobre isso...

Vou dar um exemplo grosseiro que aconteceu em São Paulo, mas interessante. Um rapaz rouba a bolsa de uma mulher e sai correndo. Passou na frente de um templo evangélico e na hora a rota passou. O cara congelou com a bolsa da mulher e a rota passando. Ele achou que era um milagre e entrou na igreja. Com o dinheiro da bolsa, ele fez uma doação à igreja. O fato de você ter pago a Deus não legitima aquele dinheiro. Assim como se você fizer uma doação oficial não legitima o dinheiro. Na verdade doar oficialmente é lavar dinheiro. Porque você pegar um valor que era propina e transforma em dinheiro legal. Neste caso do Vaccari, temos o caminho desde a empresa até o partido. Isso é lavagem. E acho que o partido tem que devolver esse dinheiro.

Paulo Roberto Costa disse em delação que todas as doações legais tem preço. Você concorda?

Eu não endosso essa tese com essa extensão. Verificamos só os casos concretos onde há uma determinação do pagamento de propina em forma de doação. Não vou fazer essa conclusão genérica que ele. A acusação tem que se baseada em fato e não em achismo.

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