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Brasília (AE) – A presidente do Banco Rural, Kátia Rabelo, afirmou ontem, em depoimento ao Conselho de Ética da Câmara, que o empresário Marcos Valério de Souza era um facilitador para a instituição financeira. Segundo ela, o empresário atuava como uma espécie de lobista da instituição e foi quem agendou os encontros formais e informais da direção do Rural com o ex-ministro José Dirceu entre 2003 e 2004.

"Na verdade, o Marcos Valério era um marcador de encontros, era uma pessoa que circulava dentro do banco com alguma assiduidade e identificava algumas possibilidades", disse a banqueira, cujo depoimento fez parte do processo do pedido de cassação de Dirceu. Segundo ela, o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares também era visto circulando com Marcos Valério pelo prédio do banco. O Rural, diz ela, tinha interesses bastante específicos nos contatos com Dirceu, como o fim da liquidação do Banco Mercantil de Pernambuco, mas também via neles uma forma de abrir um canal de diálogo permanente com o governo federal.

"É interessante para qualquer empresário manter uma interlocução com o chefe da Casa Civil. Queríamos manter uma interlocução continuada, mas tínhamos interesse específico nessa questão (do Banco Mercantil)".

O primeiro encontro da cúpula do Rural com Dirceu, segundo Kátia, foi logo no início de 2003 e teve a participação de seu pai e fundador da instituição, Sabino Rabello, que procurou o ministro para tratar da liquidação do banco pernambucano e de um projeto de exploração de nióbio. Em seguida a própria presidente do Rural esteve com Marcos Valério numa audiência com o ministro, no Palácio do Planalto, para tratar do mesmo assunto.

Um ano depois, em agosto de 2004, Valério voltou a oferecer à diretoria do Rural um encontro com o ex-ministro, durante uma de suas viagens a Belo Horizonte.

Desta vez, a pedido de Dirceu, foi realizado um jantar, no qual estiveram presentes Kátia Rabello e um diretor do banco, além do próprio Valério.

De acordo com a banqueira, em nenhuma dessas oportunidades ela ou um dos participantes fizeram qualquer menção aos empréstimos que o Rural concedeu ao PT ou a Marcos Valério para serem repassados ao partido. Ela mesma disse que só tomou conhecimento mais tarde, por intermédio de Valério, de que um dos empréstimos tinha sido canalizado para pagar dívidas de campanha do PT.

A banqueira diz que o Rural nunca foi favorecido no atual governo e que todos os empréstimos – inclusive os concedidos à ex-mulher de Dirceu – foram viabilizados pelo ex-vice-presidente do Rural José Augusto Drumond, amigo de Valério morto em 2004. Kátia disse que os vultosos saques em dinheiro realizados pelos funcionários e indicados de Valério no Rural – pelo menos R$ 32 milhões entre 2003 e 2004 – eram normais e compatíveis com a movimentação financeira de suas empresas, mas declarou-se surpresa com o fato de uma sala da agência de seu banco em Brasília ser usada para repassar numerários a deputados e assessores políticos.

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