Brasília (AE) O empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, acusado de ser o pagador do mensalão petista a deputados do PP e do PL, esteve ontem na Procuradoria-Geral da República disposto a contar tudo o que sabe em troca de um acordo para redução de sua pena procedimento previsto na lei para os réus confessos que colaboram com a Justiça. Acompanhado por advogados, Valério chegou ao gabinete do procurador-geral Antônio Fernando de Souza às 11 horas e só saiu no início da noite, oito horas depois.
Um detalhe revelado por Valério tem potencial especialmente explosivo. O empresário contou ter tomado a iniciativa de guardar provas de todos os negócios financeiros que manteve com políticos. Sabe-se que tais provas são basicamente documentos bancários, entre eles comprovantes de depósitos. Os papéis estariam arquivados em cem pastas trancadas num cofre enterrado num fazenda. Haveria o registro de boa parte das operações de lavagem de dinheiro feitas pelas empresas de Valério para políticos. "É uma verdadeira bomba", diz um advogado.
Numa preocupação só justificável para quem se especializou em negócios irregulares, o empresário tinha um hábito peculiar, capaz de comprometer de forma definitiva seus parceiros. Para cada operação vultosa de lavagem de dinheiro, as empresas de Valério fizeram depósitos de montantes modestos nas contas de políticos, partidos e firmas beneficiadas. O estratagema permitiria ao publicitário comprovar que o dinheiro lavado pertencia a terceiros, já que os comprovantes de depósito registram as contas e os bancos usados no processo de lavagem.
Revelações
Valério está disposto a revelar tudo o que sabe sobre as campanhas do PSDB mineiro a partir de 1989 e sobre operações realizadas por ele para o PMDB. Também promete contar detalhes que trariam problemas para o vice-presidente José Alencar. O empresário vem dizendo ter informações que podem abalar até a Presidência da República. Ele afirma ter um legítimo mapa de contas mantidas em paraísos fiscais no exterior.
Se tudo que Valério diz conhecer for realmente verdade, seu poder de destruição será ainda superior ao dos torpedos disparados pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). Na verdade, a decisão de falar em troca de um acordo judicial foi inspirada na mesma estratégia do deputado petebista. Acuado, Valério se viu abandonado pelos políticos e exposto com o único vilão da história. Em conversa com seus advogados, ele decidiu sair da defesa para o ataque e desembarcou em Brasília disposto a salvar sua pele. Até a noite de ontem, o Ministério Público não tinha se pronunciado em relação aos termos do acordo proposto pelo publicitário e seus advogados.
A decisão de Valério pode alterar os rumos das investigações da CPI dos Correios e da Corrregedoria da Câmara. No depoimento à Comissão, o publicitário negou ter feito pagamento a deputados. Admitiu apenas que contribuiu com campanhas de candidatos, mas que as doações foram registradas e todas feitas de acordo com a legislação eleitoral.
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