A Igreja Católica Romana enterrou definitivamente o conceito de limbo, o lugar para onde os bebês que não tivessem sido batizados iriam quando morressem, de acordo com séculos de tradição e ensinamentos.
Num documento muito esperado, a Comissão Teológica Internacional da Igreja disse que o limbo reflete uma "visão excessivamente restritiva da salvação", segundo o Serviço de Notícias Católico, que obteve a cópia do texto nesta sexta-feira (20).
Havia anos que se esperava a extinção definitiva do conceito de limbo, e o documento, chamado "A esperança de salvação para bebês que morrem sem ser batizados", foi encarado como algo definitivo, já que o limbo jamais fez oficialmente parte da doutrina religiosa da igreja.
O papa Bento XVI autorizou a publicação do documento. Clique aqui para ver o site especial da visita do Papa ao Brasil.
Segundo a reportagem do serviço de notícias, o texto, de 41 páginas, diz que os teólogos que assessoravam o papa na questão concluíram que, como Deus é piedoso, ele "quer que todos os seres humanos sejam salvos".
O texto diz que a graça tem preferência sobre o pecado, e a exclusão de bebês inocentes do Céu não parecia refletir o amor especial que Cristo tinha pelas crianças, afirmou o Serviço de Notícias Católico, de propriedade da Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos.
No limite
O limbo, que vem da palavra em latim para "borda", "limite", era considerado por teólogos medievais um estado, ou lugar, reservado aos mortos não-batizados, incluindo gente de bem que havia vivido antes da chegada de Cristo.
"Nossa conclusão é que os vários fatores que analisamos fornecem uma base teológica e litúrgica séria para esperar que os bebês não-batizados que morrerem serão salvos", diz o documento.
A partir de agora, pela resolução do Vaticano, as crianças que morreram e vierem a morrer antes de serem batizadas poderão ser salvas. O mesmo vale para as pessoas que viveram antes do surgimento da Igreja Católica, que, pela religião, poderão ir ao Céu dependendo do "desejo de Deus" de salvá-los.
Os ensinamentos da Igreja Católica dizem que o batismo elimina o pecado original, que marcou todas as almas com a expulsão de Adão e Eva do Paraíso. O catecismo oficial da Igreja, lançado em 1992 depois de décadas de elaboração, já não usava o conceito de limbo.
Pelo novo texto, "Deus pode dar a graça do batismo sem que tenha havido o sacramento".
Na Divina Comédia, Dante Alighieri colocou os pagãos virtuosos e os grandes filósofos clássicos, como Platão e Sócrates, nascidos antes do surgimento da Igreja Católica, no limbo.