Um dos caciques da política nacional, o senador Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA) gostava dizer: "Só duas siglas pegaram neste país: JK e ACM", em referência às letras do seu nome e às do presidente Juscelino Kubitschek (1902-76).
De fato, Antonio Carlos Magalhães foi designado mais pela sigla que pelo próprio nome durante toda a carreira política, que começou em 1954, quando ele se elegeu deputado estadual na Bahia pela antiga União Democrática Nacional (UDN).
Quatro anos depois, tornou-se deputado federal, sendo reeleito para mais dois mandatos consecutivos, em 1962 e 1966. Em 1967, durante o regime militar, foi nomeado prefeito da capital baiana, Salvador. Já em 1970, foi indicado pela primeira vez para o governo da Bahia.
Na Bahia, o "carlismo" se consolidou nas décadas seguintes como maior força política do estado. ACM e seus aliados dominaram o governo estadual por 16 anos. A hegemonia "carlista" só foi quebrada em 2006, quando Jaques Wagner (PT) foi eleito governador.
Apesar da derrota de seu aliado Paulo Souto (DEM) para Jaques Wagner, ACM partiu para o "ataque". "Daqui a pouco, vossas excelências vão ver o desastre do governo baiano e a volta triunfal do carlismo", disse o senador após o fracasso.
O cacique baiano comandou o estado por três vezes. Ele governou a Bahia também entre 1979 e 1983, quando foi eleito por meio de um colégio eleitoral, e de 1991 a 1994, após ter sido eleito no primeiro turno no pleito de 1990.
Amado e odiado, o senador baiano sempre esteve próximo do poder federal, apesar das diferenças ideológicas entre os sucessivos governos. Foi aliado do regime militar pós-1964 e do tucano de Fernando Henrique Cardoso. Apoiou Lula na eleição de 2002.
Em 1994, ACM foi eleito para o Senado Federal. Ele presidiu a Casa entre 1997 a 2001, quando renunciou ao mandato devido às investigações sobre a violação do painel eletrônico do Senado. No entanto, em 2002, conseguiu novo mandato para o Senado.
Diretas Já
Em 1984, durante a campanha das "Diretas Já" pela redemocratização do país, ACM se opôs à candidatura de Paulo Maluf (PDS) à Presidência e deixou a legenda para fundar o Partido da Frente Liberal (PFL), atual Democratas (DEM).
Na época, o político baiano apoiou a candidatura de Tancredo Neves, que morreu antes de assumir a Presidência da República. Com a posse do vice José Sarney, ACM foi convidado em 1985 para ser ministro das Comunicações, cargo que exerceu até 1990.
No período em que foi ministro, ACM enfrentou o primeiro drama pessoal. Em 1986, a filha mais nova, Ana Lúcia Magalhães, então com 28 anos, suicidou-se. Antes de cometer o suicídio, ela chegou a ligar para o pai para dizer que não estava bem e que iria se matar.
Ele sofreu outra tragédia pessoal em abril de 1998, quando o filho Luís Eduardo Maron Magalhães morreu de infarto. Ex-presidente da Câmara dos Deputados, Luís Eduardo era considerado seu sucessor político e provável candidato do PFL à Presidência.
Polêmicas
Nos últimos anos de sua vida política, ACM se envolveu em várias polêmicas. Após apoiar a eleição de Fernando Henrique Cardoso em 1994 e 1998, ACM rompeu com FHC em 2001 e assinou requerimento para a criação de uma CPI para investigar o governo tucano.
A crise começou em 2000 após a disputa entre ACM e o então líder do PMDB no Senado, Jader Barbalho. Os dois trocam seguidas acusações, já que o senador baiano era contrário à eleição de Jader para a presidência do Senado.
ACM chegou a enviar carta a FHC sobre denúncias envolvendo Jader Barbalho. Apesar de sua oposição, o peemedebista foi eleito, e o senador baiano atacou o governo federal, dizendo que ele acobertava a corrupção. Em resposta, FHC demitiu os dois ministros aliados de ACM.
"É preciso que as lealdades políticas sejam claras para não prejudicar a imagem e a credibilidade da ação administrativa do Governo", disse FHC na época, após demitir Waldeck Ornélas (Previdência) e Rodolpho Tourinho (Minas e Energia).
A crise culminou com a própria renúncia do senador em maio de 2001, já que ACM disse que o sigilo do painel do Senado havia sido quebrado na votação da cassação de Luiz Estevão. Apesar de desmentir a violação do painel, ele não resistiu à pressão e renunciou ao cargo.
O racha com o PSDB fez com que ACM declarasse seu voto ao petista Luiz Inácio Lula da Silva no segundo turno da eleição presidencial de 2002. "Além de votar, vou pedir para meus correligionários apoiarem o Lula", disse ele na época.
Devido à afinidade com o governo Lula, parlamentares do PFL chegaram a pedir em 2004 a abertura de processo para sua expulsão do partido. ACM foi acusado de traição por ter ajudado a promover uma reunião entre senadores da oposição com o presidente. Pouco tempo depois, o senador ACM rompeu com Lula.
Na eleição de 2006, o PT foi o principal adversário do PFL na disputa pelo governo da Bahia e, durante a campanha eleitoral, ACM e Lula trocaram farpas, com ofensas de ambos os lados.
A reaproximação entre os dois aconteceu em abril de 2007, quando ACM se encontrou com Lula no Palácio do Planalto. Na ocasião, o senador afirmou que o encontro tinha sido "amigável". "Parecia que eu só fazia elogios a ele, e ele a mim", contou.
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